Coleção pessoal de ZaidaMachado
Por seco e calmo ódio, quero isso mesmo, este silêncio feito de calor que a cigarra rude torna sensível. Sensível? Não se sente nada.
Senão esta dura falta de ópio que amenize. Quero que isto que é intolerável continue porque quero a eternidade.
Perto da lareira, ao calor do fogo, guardo as labaredas! Línguas de fogo... Vistas assim, consumindo meu pensamento no tempo, lembram-me uma hidra comendo vida, oxigênio! Onde deixei aquela ferramenta? O cutelo? Não, o dicionário! Creio que ele seja mais apropriado para dissecar a língua da flama!
Aprendi a ser metade, sem ser partida.
Ser metade por inteiro...
E ser, inteiramente, inteira dentro de mim!
Canção de Outono
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando aqueles
que não se levantarão...
Tu és folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
E vou por este caminho,
certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...