Coleção pessoal de ZaidaMachado

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Se por acaso me achares bonita.
Não diga nada! Cale-se…
Deixe que o tempo termine minha exposição.

Se por acaso me achares perfeita.
Também, não diga nada! Cale-se…
Deixe que eu termine minhas obras e que elas me retratem.

Se por acaso me achares maravilhosa.
Tampouco, não diga nada! Cale-se…
Deixe que o cinzel do dia-a-dia termine o meu lapidar.

Se me achares doce.
Também não diga nada! Cale-se…
Deixe que o oceano da rotina se misture a mim, somente depois me sorva um gole.

E se depois disso tudo, ainda, quiseres do meu lado estar?
Há um lugar no banco daquela praça, onde estarei todas as manhãs.

Embaixo daquele jequitibá.
Onde o chão é todo rendado.
Pelas sombras das folhas dos dias ensolarados.

E de onde, distante ficarei, a fitar meus flagrantes bisnetos.

A sorrirem de tanta graça, daquela bisa que fica ali sentada.
Enrolada em seu xale rendado.
A sorrir de volta para eles, toda encantada.

No banco daquela praça.
E se por acaso, lá não estiveres…

Ainda, assim, lá eu estarei.
Sob a sombra do jequitibá.
Num tapete rendado pelo sol.
Toda enrolada em meu xale rendado.
A sorrir e a fitar, toda encantada.
Meus bisnetos em flagrantes risadas.

No banco daquela praça

E por futuros imprevistos
onde sonhos lapidam pedras
e grilhões se partem

Uivos roubarão o silêncio das noites
alucinantes espetáculos rasgarão
céus e mares, montanhas e vales

Até que da pedra desabroche a
mais delicada das flores
E da flor a semente áurea da vida.

I
Quando o inesperado já não nos surpreende.
Quando a perplexidade resulta em reflexão.
Quando momentos soam como melodias a serem letradas.
Quando não há mais gargalhadas nem choro.
Quando o tempo dá mais tempo.
II
É tempo de auscultarmos a língua dos Anjos
III
Aequo animo¹
Ad augusta per angusta

ODEPÓRICA COM CECILIA MEIRELES

Quem achar pegadas assim, que se disponha a seguir.
É subida de montanha e caminho tortuoso!
Pode até não ser, depende de teu ser.
A única certeza? Lá em cima o sol reluz.
Aqui embaixo tudo se reduz!

E assim foi: o dito pelo não dito e o não dito pelo dito!
Aquilo que deveria ter sido dito ficou contido, restrito, constrito. E a estória acabou!

Se existe beleza no desconhecido, sua constância torná-lo-á lugar comum.

Sonhar é uma forma de transgredir a realidade. Para vivê-la não é preciso sonhar, a realidade é lugar comum.

Esqueci-me dos dias amenos
Da pena no tinteiro
E da paleta de cores

Esqueci-me do barulho da chuva
Do macio das almofadas
E da colcha de madagascar

Esqueci-me do tique-taque do relógio
Da chave atrás da porta
E da xícara com karkade

Esqueci-me do abajur inglês
Do cheiro do chandan
E da luz apagada

Esqueci-me de mim
Da sombra no muro
E de tudo mais

Um olhar a espreita
Um sorriso maroto
Um sei lá descompromissado
Nem palavras nem perguntas
As respostas não convêm!
Um cochicho a luz do dia
Um deixa-prá-lá endereçado ao Supremo
Num estalido de dentes e suspiro,
Tudo é esquecido.
A vida chama!

Não gosto de páginas frontais
Prefiro os versos
Pulo, inverto,
Salto do avesso,
Viro, reviro
Me viro inverso
Declamo. É o começo!

Salve o sol
Salve a brisa da manhã
Salve o vento
Salve o universo de Deus

Salve a chuva
Salve o apogeu da primavera
Salve as flores
Salve a semente dos céus

Salve as plantas
Salve o canto dos pássaros
Salve o rio
Salve o espírito divino

Salve a lua
Salve a órbita do planeta
Salve as estrelas
Salve os assuntos da terra e do céu

Salve o ar
Salve a alma dos animais
Salve a humanidade
Salve a Terra de Prometeu

Mas

Salve-nos da águia
Salve-nos da ira dos deuses
Salve-nos da violência
Salve-nos da Cordilheira do Cáucaso

E por favor, não se esqueça

Salve a beleza
Salve todas as artes
Salve a esperança
Salve o homem-deus

Vem cá fora ver como o céu está lindo
Uma brisa outonal percorre os caminhos, e vês?
Paineiras rosas, que lindo!

Gosto de quem fecha os olhos pra beijar
Gosto de quem fecha os olhos pra respirar fundo
Gosto de quem fecha os olhos pra lembrar
Gosto de quem fecha os olhos pra suspirar
Gosto de quem fecha os olhos pra amar
É como reter a Alma,
Para depois…
SOLTAR!

Escolhe a tua cor e
Põe o chapéu
Ou pinta o cinza
Roxo, pérola,
Carmim, verde paris
Magari blu
Azul no céu, no mar e
Na cabeça!

Hoje quero estar com você
Você que me contorna
E me ilumina
Me enche de vida
E me enrubesce
Me faz transpirar
E me aquece
Deixa meu corpo dourado
Me faz mais bonita
Faz meus poros transpirar
No seu calor quero me queimar
E quando a noite cair
Quero estar deitada, estirada
Banhada de sol
Sob o manto do luar

Às vezes sou pura arquitetura.

Cimento e concreto armado

Linhas duras, ângulos obtusos

Paralelas infinitas, pontos em fuga.


Às vezes sou janelas abertas.

Florida, estampada, esvoaçante

Iluminada. Deixo o vento me percorrer.


Às vezes sou bancos.

Inerte, vazia

Parada, imóvel, espera

Outono ou inverno.


E, às vezes, sou toda natureza.

Viva!

E quando a noite se fizer distante
Todos os relógios irão se consumar
Cada palavra soará em si mesma
A beleza de viver cada instante.

O poeta é um louco sábio.
Vive suas loucuras em forma de Literatura.

Cada pessoa vive, respira e sofre a ação da atmosfera em seu entorno.
Matéria quintessenciada de seus próprios pensamentos.
Gosto de pensar em flores, afasto-me daqueles que pensam em canhões.
Agrada-me mais um pequeno canteiro com morangos silvestres do que um campo inteiro minado.

Afinal não há sentido em se armar contra um inimigo que não divisamos.
Há que se ir para a frente da batalha.