Coleção pessoal de Verissimoandrade
Paráfrase é tábua de salvação. Autenticação compulsória dos célebres, arrebatada pela insegurança de autores que reconhecem vagos ou incompletos os seus textos. Quem parafraseia não faz além de buscar arrimo, adereço e ou aquiescência quase sempre daqueles que já não são refutados, porque morreram... e tendo morrido, ganharam reconhecimento eterno como imortais.
Os parafraseados quase ou nunca faziam o mesmo, porque eram autossuficientes; eram seguros do que escreviam. Tinham certeza que seus escritos valiam por si só; não precisavam do empréstimo nem da fiança de outros nomes. Se algumas vezes foram preteridos ou criticados, eles próprios se bastavam, deixando o reconhecimento público para a posteridade. Posteridade que chegou e se confirma, na republicação em massa e série, de suas obras, e no poder desfibrilador que atua sobre textos e discursos nascidos quase mortos, mas que muitas vezes ganham notoriedade.
Quem se utiliza do recurso, busca uma co-assinatura; um bote que não permita o naufrágio de seus argumentos não raramente rocambolescos; repletos de palavras e efeitos pseudo-eruditos, como vem sendo este parágrafo. A paráfrase nada mais é do que a obturação do texto precário... ou precariado. Isto não foi uma paráfrase.
O executivo tem a clara função fazer. Ao legislativo, cumpre fazer fazer. Já o povo, que detém o poder maior, deveria tanto fazer fazer quanto fazer fazer fazer.
Levando em conta essa hierarquia, pode-se afirmar o seguinte: O político não faz nada porque o povo nada faz... Somos todos balelas do mesmo discurso.
Cavo a minha esperança inconsumada nesses flancos de um povo esperançoso. Um povo que acredita a partir do nada, ou por bem pouco, mas considera justo esse cair e se reerguer cada vez mais ferido e longe de seus ideais. Encanto-me sempre com o encanto popular, que se renova no engenho das fontes fraudadas, das promessas falidas desde os lábios e da malícia de quem encanta a população.
Creio mesmo é na crença dos que seguem, apesar dos motivos forjados e parcos. Motivos pintados de quimeras e espetáculos que nublam suas visões e os faz sorrir pelo que logo depois os fará chorar. Vivo à sombra dessa vida que move os simples e remove suas angústias ao menor sinal de um dia melhor. Contagio-me desse otimismo ingênuo, porém vital, de uma gente cujos bens estão todos no imaginário; na surrealização de seus desejos ou abstração de seus sonhos.
Tenho fé nessa fé que se nutre de restos e parece mais forte a cada frustração. É no sonho dessa massa que monto a minha cama e durmo o sono de quem deixa estar. Não sei do que seria de mim, sem esses que de fato não sabem o que será deles, mas entregam tudo nas mãos da sina... ou de quem chamam Deus. No fundo, endeuso essa gente. Louvo-a pelo seu poder diário de superação.
Deixarmos claro o que temos de mau, tem seu lado bom... É que o nosso lado bom, por menor que seja, sobressai muito mais e a sua imprevisibilidade gera encantamento.
Bom pagador não é aquele que paga quando pode, e sim, aquele que não deve o que não sabe se poderá pagar.