Coleção pessoal de Venereum

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Ele nadava

ele nadava, nadava sem parar
mas não estava desesperado
apenas queria se isolar
se isolar, lá estava ele tranquilamente no mar

era um ótimo nadador
não temia suas águas tampouco sua correnteza
porém, o destino lhe reservara uma surpresa
fortes rajadas de vento guiavam as ondas com temor

agora, ele só procurava estar na superfície
mas tamanha força não era suficiente
tentava manter a calma, mas a calma se trocou pelo desespero
cada vez mais, ele era vencido pela corrente

uma onda mais forte o pegou intensamente
e do seu mundo, ele se desligou completamente

e de sua vida, sua ímproba vida
seus tantos problemas
que ainda o faziam alguém feliz
feliz nos olhos dos outros
pois seu coração se jogava aos prantos

mas de repente acordara, ainda estava ao mar
quase chegando ao solo, um alívio e tanto
nadou facilmente até chegar nas areias
viu sua rua, retomou seu bem estar

vira também um casal passando
resolveu-lhe perguntar as horas
porém o casal passou como se não tivesse ouvido
sentiu-se espantado, confuso, aflito

o que havia de errado? foi aí que começou a caminhar
caminhou e caminhou, até que sua mãe e sua avó ele avistou
em questões de milésimos, sentiu-se aliviado, imensurável
avistara também um corpo em volta, de quem poderia ser?

chegou mais perto, e sentiu o mundo girar
viu os cabelos compridos, a cicatriz na mão, os olhos castanhos

viu o formato do rosto, as espinhas
era o "seu" corpo
inacreditável, ele estava morto
mas na terra ele ainda permanecia
Destino cruel que lhe concedeu uma meia-vida sob a terra... vivendo como um vegetal...

Sentada no bosque

Sentada no bosque ela sonhava
Com seu amor perfeito
Sorrindo ela o desejava e esperava
Imaginando como seria o momento de sua chegada

Não aguardava um príncipe encantado
Tampouco um ser abastado
Somente alguém a suprir sua necessidade
Única e singela, de amar e ser amada pela eternidade

O romântico lírico e poético
Afável, gentil e rodeado de afeto
A quem mantivesse a chama da paixão sempre acesa
Onde estivesse se inflama a cópula em mente e essência

Sentada no bosque ela sonhava e sorria
Entrelaçando seu dedo sob seus belos e cacheados cabelos
Pela face expressando ternura e devaneio
Neste sonho acreditando com fissura e anseio

Sentada no bosque ela sonhava...
Pobre menina, iludida ela fantasiava
Até o bosque foste fruto de sua imaginação
Necessidade de suprir esta forte frustração

Debruçada em um lugar sem vida
Com as mãos a cobrir seu rosto e sua vista
Ela chorava e se agonizava
Perdida entre árvores mortas e rondada por corvos

Vagando sob esperança mórbida e inalcançável
Ai que dó, ai que dó
Quem dera eu munido de tudo aquilo que ela tanto almeja
Fosse seu bem-amado a dar-te todo romantismo e beleza
Pena isso estar bem distante do que conhecemos como realidade
Lamentas meu ser pois é constante o apuro de ocultar este romancismo desprezível e incompreendido
E caminhar aflito na alma por estas ruas de crua veracidade e benevolência ignorada

Você

Você é um sonho ou um pesadelo?
És factual ou ficto?
É paixão, amor ou obsessão?
É um escapismo ou um tormento?

Terás um fim ou se fragmentará em mim pela eternidade?
Existe solução ou a única conciliação é suportar este ardor?
Idealizar-te me alivia, pensar em ti me cauteriza
A fantasia cada vez mais me consome num puro egocentrismo
Torna-se missão dificultosa viver nesta realidade espinhosa
Como se flechas agudas perfurassem meu pobre coração tão sofrido

O regozijo se foi, as vezes a deprimência se disfarça de euforia
Quando a dose tal qual uma garrafa de álcool acaba
A obscuridade mais profunda da amargura me invade e me joga no fundo de um buraco
E nada mais sinto se não a desolação e a sensação de ser a verdadeira imagem do fracasso

E os devaneios mais desditosos e incompreensíveis rondam minha excêntrica mente
E me passam uma errônea crença na possibilidade do impossível suceder

Eu ainda nado sobre a quimera de tua musa, tua beldade aos meus olhos de encanto
Anseio na mais pureza dos momentos líricos
Deitar minha fronte em teu colo, adormecer com suas mãos acariciando meus cabelos
Em meio a um interminável campo florido, animais correndo, o sol, o céu azul cristalino
Por um átimo, o riso se manifesta sob mim mas desaparece quando acordo desta ilusão

Estou distante de ti, no esgoto de meu mundo, no diluvio enegrecido, escurecido, as nuvens cobrem o céu e todo o encantamento
O frio é intenso e eu nem nos prantos mais me encontro, a dor me domina a ponto de ser aprazível.