Coleção pessoal de Varpechowski

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Compramos um ticket de embarque para um trem que nunca chegará,
Onde um banco nos espera com o nome estampado ao lado da janela,
em um destino em que o melhor estará de mãos dadas com o futuro,
e a felicidade será tão abundante como água que jorra e escorre pelas mãos,
como o tempo contado por um relógio que cria a morte e inventa o renascimento,
e dessa forma subdivide o bem e o mal disfarçando os próprios amigos e inimigos da mente,
morrem agonizantes, vitimas de si mesmos, das próprias invenções,
sucumbindo em busca de mais vida, e mais tempo, de mais coisas, que mal sabem o que são,
caminhando para o vazio, na ansiedade de chegar há algum lugar que jamais existiu..

A vida pode ser triste e melancólica, um mergulho em um poço obscuro e tenebroso,
também pode ser interessante, inteligente e bela, e torna-se a melhor coisa que existe,
onde o melhor e o pior caminham juntos, lado a lado de mãos dadas,
como o sol criando a sombra, a vida criando a morte, o som quebrando o silêncio,
nos dando truques, de hora, lugares, coisas, pessoas, momentos e ideais,
em meio a sonhos e pesadelos, medos e alegria, projetando o perfeito defeituoso,
como uma tentativa de fuga da precariedade humana, cria-se a beleza de viver.

Eram dois office-boys de blusa bege de lã, caminhavam pela rua de número quinze, com suas pastas pretas recheadas de milhões, conversavam corriqueiramente sobre qualquer coisa, soltavam largas risadas sinceras das mesmices dos finais de semana, eram apaixonados discretamente por algumas atendentes, que carimbavam e digitavam freneticamente envoltas em camisas entre abertas e perfumes inapagáveis, caminhavam, adoravam o mês de Dezembro andar pela rua de pit pavê, cheia de cabeças que poderiam ser vistas da parte alta da rua, entrando e saindo com sacolas saciadas, mal sabiam o que eram e o quê queriam da vida, eram uma indefinição por decreto.
O destino continuava a lhes reservar a amizade, regada de festas e música, de viagens com chevette, que as vezes rampava a divisória de pista das BR’s, de fronteiras com bebidas fortes e ciganas que não conseguiram ler o destino, de caminhões traçados chacoalhando entre as dunas aos gritos de amizade e alegria, de longas conversas a beira do lago titicaca, até as boas bandas de Buenos Aires, e um el pogo de whisky escocês de graça, até um submundo do vagabundo selvagem em La Paz, de noites que viraram dia, e tristezas que viraram alegria, de uma amizade que nem o tempo nem a distância apaga. Ao amigo Foca.

A manhã cinza e gélida,
o barulho do vai e vem,
as calçadas de pit pavê,
rostos sem face vagueiam,
em uma rua XV sem número.

tudo parece do mesmo jeito,
o mesmo passo,
o mesmo momento

A tinta azul dessa caneta,
risca a vinda de um cometa.

Deixei o relógio sobre a mesa,
quando voltei já havia perdido,
cinco minutos de uma vida inteira.

No escuro dos olhos fechados,
Havia tudo,
menos o melhor,
o demasiado.

Verbalizando,
tudo que pensei,
me reinventei.

Eram seis e quarenta de uma manhã nebulosa, cinza de rostos taciturnos, uma terça qualquer, o relógio insistia em despertar, gritava, tremulava, e com todo o êxito adentrava aos mais profundos sonhos, com um só objetivo trazer as pessoas para um lugar frenético e cheio de responsabilidades. Ao levantar logo ao lado uma figura refletia no espelho, o rosto inchado, o corpo mole e de pouca vontade, vestiu a roupa, colocou o dinheiro e papéis amassados no bolso e seguiu escada abaixo em busca de alguns pães para sua namorada, ao atravessar a rua olhava os carros que saiam de todos os lados como se estivessem em fuga, enquanto aguardava uma oportunidade de alcançar aquelas faixas zig zagueando até chegar ao outro lado, na padaria o atendente pergunta: - Pois não? E tudo era verdade, até mesmo aquela terça-feira.

Dentro da minha cabeça existe um turbilhão,
E o barulho é de música libertária,
Dentro da minha cabeça existe primavera sem flores,
E o cheiro é de orvalho queimado,
Dentro da minha cabeça existe um mundo subterrâneo,
E o que se encontra é ratos e escuridão,
Dentro da minha cabeça existe um rio indisciplinado,
E o que encontra pela frete é levado,
Dentro da minha cabeça existem coisas boas,
E o que o mundo não entende está lá,
Dentro da minha existem sonhos irrealizáveis e débeis,
E o que eu não entendo é por quê.

ao me declamar faltaram-me palavras,
versos a roubar de pobres poetas,
amor quase mudo,
que grande absurdo,
ter tanto amor e nada a dizer,
no fundo, no fundo, minha alma é quem fala,
no silencio desse absurdo.

o cão ladra,
o vento trêmula,
silencio em minha mente perambula.

É algo assim, uma indefinição por decreto,
parece-me que tudo é um mistério!
mas de repente olho ao meu redor,
e parece que tudo foi descoberto,
tornou-se simples, palpável,
supérfluo, os medos acabaram!
Agora os caminhos tem destino.
Aquele frio na barriga foi embora,
Como o vento, passou simplesmente..

As pessoas nascem, aprendem, se reproduzem, consomem e morrem iguais a um parasita. Tem como seu maior medo a morte, mas acabam morrendo como um nada, como um ser que pensa, mas que apenas vive um ciclo sem sentido, nesse momento a inteligência perde para as influências e para o sistema, ai vem as migalhas de felicidade dos burros motivados, que fazem as coisas sem se quer perguntar minimamente o porquê, pois preferem acreditar na verdade social criada. E a vida, que é uma só, perde-se como um estalo no espaço, de alguém que teve tudo, mas não deixou nada e acabou sendo vitima de si mesmo".

A maior mentira que nos contam, é dizer que somos livres, quando na verdade compramos “sonhos” em prateleiras, fazemos o tempo todo ações inúteis, em pró de coisas inúteis e sem sentido algum, assim nos tornamos escravos uns dos outros, nessa sobrevivência disfarçada de egoísmo e vaidade. Um salve aos questionamentos da humanidade, pois sem eles as pessoas não vivem, elas apenas existem.

Tudo perdido,
menos a ternura,
oh romantismo

Quinta da vodka
Sexta da ressaca
Mais um dia de história
Amigos na memória

“ As maiores batalhas são travadas com nós mesmos no campo do pensamento, com um inimigo que talvez nunca tenha existido”.

As minhas responsabilidades e razões, são os assassinos mais hábeis das minhas idéias insanas, dos meus sentimentos fortes, com uma agonizante morte nas mãos da rotina.