Coleção pessoal de Valnia
Os sonhos do poeta se escondem entre as pálidas linhas do caderno,
em cada palavra registrada repousa soberano o sentimento do mundo.
Valnia Véras
Os gritos do vento assolam a alma em acordes inquietantes, cintilantes, desnudando o instante num piscar de olhos.
Os cenários parecem descrever o futuro de incertezas que chega ululante, insistente, desafiador.
Os sonhos uivantes anunciam liberdade, transformação, um novo mundo descortinando-se.
Premonição? Ou apenas os lamentos do vento?
Osssss....
O olhar perdido na imensidão...
Sem esperança.
Sem brincadeira.
Apenas labuta.
EXPLORAÇÃO.
No brotar de um novo dia,
vem também a ilusão.
Na mente infantil, o jargão repete-se frenético:
“O trabalho dignifica o homem”
e se transforma em pão.
Mas para a criança franzina,
que apenas sobrevive
nesse mundo
de violência e exclusão,
DIGNIDADE, TRANSFORMAÇÃO, são palavras vazias
Que reforçam a exploração.
As horas perdidas com o trabalho precoce
criam fantasmas assustadores
diante da escola e da diversão.
O jovem sofrido, faminto...
Culpa-se por sonhar
nos raros instantes de descanso...
Com uma partida de futebol
Com um pedaço de bolo
Com uma roupa de segunda-mão.
Vestindo diariamente
a mortalha na vida e no coração.
No meu eu, há um encontro de almas, de sorrisos e de amores.
No meu eu, repousa um grito de alegria embrulhado num restinho de amor.
No meu eu de muitas moradas, ensaio o desvendar das faces dispostas no espelho.
No meu eu, as vezes trago interrogações, exclamações e reticências, jamais um ponto final.
No meu eu, jazem todas as dúvidas e algumas poucas descobertas.
No meu eu, repousam os sonhos quase impossíveis.
Ao mirar-se no espelho se contorce livre e bela,
com passos elegantes, sempre a rodopiar.
Saltos livre e imprecisos.
Num cenário a ensaiar.
Com a vida, chegam os anos e também o despertar
para mistérios instigantes e desafios a superar.
Mas para quem não entende nada, o remédio é só calar.
O espelho cintilante mostra a figura altiva,
que outrora lhe sorria, mas agora é só chorar.
A história contada é triste,
com gritos roucos, abafados, que não cansam de chegar.
O espelho amigo, entretanto, que não desiste jamais,
desperta
descortina e
mostra
uma existência fugaz.
Passos, valsas, cantigas de ninar.
Ao vento poemas e músicas.
Em frente ao pequenino espelho…
Toda a vida se reflete na palavra transformar.
No sorriso da menina
toda a alegria reluz.
Convidando-nos para a vida.
Inundando-nos o peito de luz.
Marina, assim como o mar,
ensina-nos sem cessar, que a intensidade da vida desabrocha
e caminha livre
a partir de um breve olhar.
O colorido da bandeira
ressalta a coragem gravada no peito
e no centro do coração.
A identidade pioneira,
nesse mundo de exclusão.
Mostra, borboleta altaneira,
que a perfeição da vida
renasce em comunhão.
Grita, aos quatro cantos da Terra,
que tu és mais que um corpo inerte trancafiado numa prisão.
Registra em teu rosto a dignidade, o direito ao amor e à união.
Voa, passarinho de mil cores,
que te encontrarei no caminho rumo a transformação.
Sacudindo os lençóis no varal e correndo contra o tempo, vou semeando ideias e alimentando o pensamento.
Valnia Véras
O vento soprando...
A chuva pingando...
Os passarinhos cantarolando pelo caminho.
Faz-se festa em meu coração.
Valnia Véras
Abra as janelas da alma e sinta o cheirinho da esperança brotando das flores por entre as frestas do portão de ferro.
Valnia Véras
Quando não há sol para brilhar, transforma-te em girassol e volta-te para os teus semelhantes.
Valnia Véras