Coleção pessoal de valdenirdelimaolivei
Fim De Tarde
O final de tarde
Sempre esconde alguma cobaia
É uma pimenta que arde
É um talento de saia
É um menino que morde
É um cachorro que late
É uma ciumenta que raia
E um homem de laia covarde
O final de tarde
Sempre esconde alguma frieza
Algumas invade o coração
E outras já vem plantadas
Por natureza
Algumas envelhecem
Mas tem vida própria
E nos acompanham
Uma vida inteira
Sempre ao subir
Ou descer uma ladeira
Sempre ao cair
Ou entrar na bebedeira
E depois do poste
Tem sempre a fogueira
Pra que tu encoste
E passe a noite inteira.
Sentimentos De Um Palhaço
O espetáculo
Já vai começar
Então pule o obstáculo
E vem ver o palhaço dançar
Hoje o circo está lotado
A família está completa
Só me falta alguns amigos
E sem eles não se completa
Já me basta a menina
Que perdeu o seu namorado
Só porque olhou pro lado
E se apaixonou pelo atleta
O palhaco estava engraçado
E muitas vezes ele sorria
Mas por dentro ele chorava
Porque a tristeza lhe consumia
E por ter de tudo dentro guardado
Água dos seus olhos se escorriam.
Espelho
O espelho
Não sabe falar
Mas a sua alma
Ele sabe tao bem enxergar
Desde o momento
Em que você se pinta
Pra ir a uma festa
Ou qualquer outro lugar
Pois ele conhece
Os seus pensamentos
E sabe que você tem hora pra ir
Mas nunca tem pra voltar
O espelho conhece segredos
Que você esconde a vida inteira
Alguns o seu olhar te conta
E outros a boca detona
Quando você passa um batom
E pensa ali ser a dona
Fingindo logo que é santa
E pensa que é um dom
Em cada fio de cabelo
Esconde um grande segredo
Que se esparramam
Por entre os dedos
Quando você pentear
Pra ir a uma missa
Ou querer passear
O espelho já conhece
Os seus passos em vão
Desde que o dia amanhece
E eles são deixados no chão.
Fascínio
O que eu sinto por você
Não caberia num papel
É tanta vontade em te ver
Que chega ser maior que o céu
E quando você passa por mim
E nem olha pra trás
É como se me deixasse ao léu
E decretasse o meu fim
O que eu sinto por você
Vai além dos meus olhos
Você é a mais pura magia
Com a mais louca e sabia alegria
Por isso quero te ver toda hora
E já fico mal se eu te espero
E você demora
É como se a noite ali chegasse
E o dia já fosse embora
É um sentimento tão puro
Que invade e queima
Dentro do coração
É dias e noites assim
Esse tormento dentro mim
É como um ferro
Martelando na pedra
Ou eu caindo de cara
Em cima do chão duro
Todos os dias eu penso em você
E o que eu sinto é tão sincero
Por isso tenho medo em te perder
E ser feliz contigo
É só o que eu espero
E ser teu amigo só é tão pouco
Eu quero ser muito mais que isso
As vezes parece que eu sou louco
Mas é de você que eu preciso
Eu nunca vou te esquecer
E sempre mais
Eu vou te querer
Você é luz que ilumina
Os meus passos
Quando o sol sumir
E o céu escurecer
E quando o seu abraço surgir
Tudo aqui há de vencer
Todo medo que tenho guardado
Já não vou mais temer
E tudo que chorou
Aqui dentro de mim
Um dia vai sorrir.
Desafogo
Aonde queima o fogo
Afoga também a água
E quando se entrega o jogo
Entrega também as mágoas
Guardadas no coração
No auge dessa jornada
E a dor quando vem
É sempre em disparada
A gente quer segurar
E tirar ela com as mãos
Aonde passa o ferro
Fere também a fé
O menino solta um berro
E o destino morre a pé
E quanto mais ele corre
Mais longe parece que é
Aonde passa o riso
Passa também o choro
Só não passa o que é preciso
Pra nos tirar desse agouro
Volta e meia é sempre isso
Sentimento tão valente
Por vezes tão conciso
E forte como um touro.
Dilúvio
A casa desabou
Porque choveu
A noite inteira
O telhado parecia
Uma enorme peneira
E tanta gota ali desceu
Molhando o que se não via
Quando a luz se apagou
E casa escureceu
O vento forte
E tão veloz
Fez o menino se assustar
E tudo ali deixou sem voz
E quando o relâmpago abria
E o trovão turrava
Já não sabia
Quem mais empurrava
E tão pouco o que seria de nós.
Lição De Um Arrependimento
Arrepender-se
É aprender
Com o erro
Pra que da próxima vez
Possa fazer diferente
Se tiver de render-se
Que seja sem nenhum berro
Mesmo que a situação
É de desespero
E exija de você
Ser um pouco mais serio
Não devemos
Fazer o que faz essa gente
Sem antes escutar
O que diz o coração
Porque as vezes uma palavra dita
Por mais pequena que ela seja
Pode tomar a proporção
De uma profunda enchente
Capaz de inundar um coração
E mudar a nossa mente.
Labor
Lá vem o barco
E o braço fraco
Do menino a remar
Ele vem pra cumprir o destino
E mostrar que sabe lutar
E quando nada sai
Do jeito que ele espera
Também não se desespera
Porque sabe que a vida é um arco
E dona de grandes percalços
Mas tem sempre alguém na curva
Sempre prontos á nos esperar
Porque conhece o segredo da vida
E sabe que um dia ela vai melhorar
Por isso os sonhos
Ele desenha na areia
Porque sabe que um dia
Ele vem pra pintar.
Traços
Com o lápis no papel
E o pé no chinelo
Eu desenho o céu de azul
E também de amarelo
Com a caneta
Eu desenho o sossego
Desenho o passado
E também o morcego
Desenho o presente
E pressinto o futuro
Um recinto fechado
Fechando teu ego
Com a caneta
Eu derrubo a marreta
Construo a cadeira
E tranco a cadeia
Desenho um índio na sua aldeia
Dançando tango e fazendo careta
Com a caneta
Eu escrevo o seu nome
E com lápis seu sobrenome
Com a borracha
Eu apago o passado
E escrevo outra história
Com você do meu lado.
Brasil
Vamos embora desse lugar
Pois já deu o que tinha que dar
Quem ficar aqui vai sofrer
E tão certo vão te liquidar
Quando o poder mais alto mandar
E o velho barão aqui morrer
Brasil é a poeira,
De um triste e lamentável deserto
Entre grandes futuros insertos
Que o vento costuma levar
Sempre junto com a bandeira
Brasil é pra quem sabe nadar
E não pra quem quer chegar lá
Pois no caminho morrerá afogado
Ou de bala perdida em algum lugar
Brasil é a fome
Brasil é a guerra
O dinheiro ele come
E a noite ele berra
Tão alto que a besta fera
Que de susto até some
O Brasil é um relógio atrasado
Nos passos,
De quem anda apressado
Correndo se contra o tempo
Pra sustentar o presente
E consertar o passado
O Brasil,
É a miséria
Mais séria
Que existe
Ela cerca você
E em toda odisseia
Ela persiste
Cortando como uma faca amolada
Todos os seus punhos
Como se eles fossem salada
O Brasil é uma gilete
No bolso no pobre
E por mais que ele corre
Acaba grudado feito chiclete
Trabalhador aqui não tem vez
Só contas no final do mês
Murro ele leva no rosto
E juros ele leva no bolso
Carne pra ele é puro pecado
Mas chumbo é sempre do grosso
Amizade sincera é pura vaidade
Diferente daquela,
Que te corta o pescoço
Quando o pivete chega
E diz não querer roer só o osso.
Simplicidade
Eu preciso de tão pouco pra viver
Só uma vida com bons amigos
E água pra tomar banho e beber
Um sorriso eu preciso também
Mas que ele seja sincero
Pra mim não ter que esconder
A simplicidade é o que me faz feliz
E a felicidade me mantém de pé
A tristeza está por um triz
Pois sempre que ela chega perto
Eu mando ela ir embora
E pra bem longe eu faço correr.
Imprensa
Já não é o que pensa
Já não é o que faz
Quando a imprensa é quem diz
O que a gente não fala
Ela entra e sai sem pedir licença
E aonde quer que ela vá
Já carrega na mão a sua mala
Cheia de fofoca
Cheia de indecência
Não importa a cor,
Credo ou a crença
Ela está sempre presente
Ali fazendo sala
Pra vida alheia
Que não te pertence
Como se fosse uma aranha
Tecendo cada fio
No emaranhado da vida
Como se fosse sua teia.
A Tribo
Quando essa tribo chegar
E entrar pela porta da frente
Cantando o que mais gostar
Como se fosse gente
Vai fazer o velho corpo cansado
Alegre voltar a dançar
E até essa gente amaldiçoada
Vai ficar tão contente
E até a madrugada
Vai querer balançar
Quando essa tribo chegar
Tudo vai ser diferente
O sol e a lua juntos vão brilhar
Como se fossem parente.
Grilos
Hoje eu acordei assustado
Com grilos no meu blusão
Hoje eu paguei meus pecados
Com grilos até no colchão
Tinha grilos em todo lugar
No quarto,na cozinha
No banheiro e na sala de estar
Alguns já em pé no portão
Esperando a sua vez de entrar
Tinha grilos até no telhado
Todo atrevido e molhado
Parecia que saiu do banho
Ou talvez do fundo do mar
Tinha grilos até na torneira
E quando se abria
Parecia cachoeira
Era tanto grilo pra lá,
E tanto grilo pra cá
Como se fosse uma cordilheira
E quanto mais se subia
Menos parecia acabar
Tinha grilos pra todos os lados
E grilos de todos os modos
Pois enquanto alguns
Se agasalhava no cobertor
Alguns passeavam no corredor
E outros refrescavam na geladeira.
Presságio
Eu vejo braços no ar
Defendendo a nação
Eu ouço desatinos
E me ponho a chorar
Pois conheço o destino
De toda essa gente
Que insiste segurar o rojão
E conter a enchente
Obedecendo o coração
Pra poder se libertar
Eu vejo uma multidão a caminhar
Intensamente na mesma direção
E sinto que a luta
Ainda demora acabar
Enquanto não se falar em amar
E em ter compaixão
Eu vejo abraços
Travados com a luta
Por isso há uma luz
Lá no fim do túnel
Acendendo um sorriso
Que ainda reluz
Mostrando que esse
É o fim da labuta.
De Bem Com A Vida
Vamos dar cambalhotas
E fingir que está tudo bem
Deixe de lado as revoltas
Curtidas sempre por alguém
Curte a delicadeza da vida
E viva sempre até abusar
Busque a felicidade
Na beleza pura de um novo do dia
E viva sempre com muita alegria
Porque o amanhã é incerto
E ele pode nunca chegar
Vamos dar gargalhadas
Porque somos muito vivo
E por si só isso já é motivo
Pra lhe servir de medalhas
Vamos abrir o nosso coração
E deixe o seu orgulho de lado
Abrace com muita emoção
E ame pra ser amado
Vamos abrir um sorriso
Pras coisas simples da vida
Deixe a ambição de lado
E viva só o que é preciso.
Odisséia
Um pé na estrada
E o outro de tocaia
Esperando que a madrugada
Lhe sirva de gandaia
A fé me levanta
E me serve de escada
Eu deixo o ferro
O escudo e a espada
E da sacada ainda posso ver
Insanas mulheradas
Descendo de míni saía
O céu escureceu
E tantas estrelas eu vi brilhar
Mas o destino era sempre breu
E só o amor pôde me guiar
Eu te dei mil abraços
E também beijos roubados
Depois cortei um dobrado
Quando eu resistir
E me vestir de palhaço
A minha vida sempre foi
Um samba de lata
E só o amor me convida
Pra correr e cair
Nos braços dessa mulata
A minha sina sempre foi
Correr, cair e levantar
Fumar um cachimbo e rezar
E depois me embrenhar pela Mata
Mais longe quis andar e sumir
Nas curvas que o vento faz Por ai
E quando a saudade apertava
Eu te mandava lembranças
Por um sinal de fumaça
Aonde eu vou não tem caminho
É eu quem faço a minha trilha
E é sempre feita com carinho
Pra receber as maravilhas
É muito pouco o que eu sei
É quase nada eu ja nem lembro
Se um dia eu já fui rei
Foi no fim lá de Dezembro
Quando a estrada ainda era calma
E a alma ainda era tudo
Pra vida a gente batia palmas
E de dor não se falava no mundo
A vida cobrava tão pouco da gente
E a amizade era tão natural
Só quem viveu
É quem sabe, quem sente
Que o peso da luta era tão normal
A gente deitava
Ali nas calçadas
Contando as estrelas
E ouvindo piadas
E quem por ali passava
Achava muito engraçado
E acabava do nosso lado
Contando histórias
E dando risadas
Pois o mundo era ali
E o medo eu não via
Não tinha moto
Não tinha halli
Não tinha os bêbados
Á nos iludir
Não tinha grito
Não tinha berro
Não tinha choro
Não tinha vela
Não tinha agouro
Não tinha remela
Não tinha cachorro
Não tinha gamela
Não tinha pato
Não tinha prato
Não tinha prata
Não tinha ouro
Não tinha rato
Não tinha besouro
Nem carrapato
Nem tinha touro
Não tinha lata
Não tinha leite
Não tinha nata
Não tinha azeite
Não tinha pão
Não tinha queijo
Não tinha cão
Não tinha beijo
Não tinha você
Não tinha desejo
Não tinha sofrer
E não tinha morrer.
Eterna Paixão
Pelo sim,
Pelo não
Estou com você
E não abro mão
Haja o que houver
Eu posso até sofrer
Mas guardarei Você
No meu coração
Como quem guarda
No jarro uma flor
E mesmo que o espinho
Te causa alguma dor
ela sempre serar
A sua eterna paixão
E há sempre a espera
De um novo botão
Que brote o amor
A ternura e o perdão
E que sirva de alimento
A toda e qualquer ilusão
Desde a alma de um pecador
Até a calma de um pescador
Quando o breu da noite chegar
E o brilho do sol acordar
Menina, moça e rapaz
Tão cedo irão despertar
O sorriso é um enorme portão
Que brilha em faísca na multidão
O amor é a chave
Para abrir qualquer porta
Em todo sentido
Em qualquer direção.
Os Olhos Da Noite
A noite me consome
Como o vicio e o cigarro
Eu me perco nessa fome
Preso dentro do carro
A noite me paralisa
E só o medo parece fazer sentido
A vida parece tão curta e mais lisa
E meu coração tão duro e partido
Os olhos da noite me cega
E também me apavora
Quando a menina chora
E o menino escorrega
Os olhos da noite me contam
Segredos que a vida te esconde
E as coisas que elas aprontam
Só o breu da noite responde.
O Silêncio De Um Menino
Lá vai o menino correndo
Contente apressado pra missa
Com o seu cabelo cortado
Molhado e suado camisa
A missa já vai começar
E hoje por ser domingo
Tão pouco ele tem pra falar
Já cansado de tanto aclamar
Hoje é o teu silêncio
Que vão escutar
E de cabeça baixa
Todos vão ficar
Quando o silêncio te possuir
E toda verdade
Ele insistir em falar
Até a hipocrisia
Deixará de existir
E toda anistia
mudará de lugar
Pois o silêncio de um menino
Conta uma verdade inteira
Mesmo que ele seja traquino
E pule da ribanceira
Porque quando
Um menino se calar
Maiores verdades
Ele traz no olhar
E até o teto da igreja
Há de desabar
Quando testemunhos ali
Se pronunciarem
O jarro, o Santo e o sino
Até o escarro, e o canto
Se espantarar com o menino
A vela, a flor e as donzelas
Vão sumir com a dor e as mazelas Porque já sabem rezar
E dizerem amém ao destino.