Coleção pessoal de valdenirdelimaolivei

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Ademanes

Quando o meu sorriso
Não te disser mais nada
Talvez as minhas lágrimas
Possam te dizer
Tudo que eu tenho
Aqui dentro guardado
E guardei só pra você

Quando o meu olhar
Não te disser mais nada
Talvez a minha boca
Possa te mostrar
A sede que ela tem guardada
É de secar uma nascente
Ou morrer afogada

Quando o meu jeito
Não representar
Eu te apresento
Um outro jeito
Onde a gente possa fazer direito
E de uma vez se ajeitar
Sem olhar os nossos defeitos
Pois eles são de arrepiar
Mas tudo é questão de conceito
E um dia pode mudar

No amor a gente pensa primeiro
Porque é coisa
Que vem do coração
É fogo que arde certeiro
E não cabe na palma da mão
É voz que não cala o dia inteiro
E quando fala tem sempre razão.

Amigo

Amigo é jornada
Que não se cansa
E quando chora na madrugada
Tem sempre a mão
Que nos alcança
Pra nos levantar do chão
Quando cair feito criança

Amigo nunca perde a esperança
É distância que não separa
Pois ele estar sempre vivo
Em nossa lembrança
E mesmo longe ele nos ampara

Amigo é a palavra mais certa
Uma espécie de abrigo
E um sinal de alerta
Quando vem a dor de umbigo
E a nossa mão ele aperta

Amigo é o sentimento mais certo
Talvez o mais o puro
E também o mais antigo
Quando estamos em apuros
E quando vem o perigo.

Dias Melhores

Veio de lá pra cá
Como quem vai de cá pra lá
E quando vem a chuva
O vento forte quer decolar
Mas tem sempre
Aquele tempo bom
E cada pedaço ele quer colar

Veio de lá pra cá
Contando cada passo
Parecendo que vinha de longe
Mas não queria chegar
Não vinha sorrindo
E nem vinha cantando
Mas sua voz
A gente podia escutar
Como um rádio de pilha
Ligado o dia inteiro
Como se tivesse numa ilha
E esquecesse de trabalhar
A vida assim
Ia sempre levando
Não era um jogo
Mas vinha sempre ganhando
Sabia o que queria
Só não sabia como chegar
Mas nunca perdia a sua fé
E sabia sempre esperar
Jamais perdia a sua perseverança
E com dias melhores
Vivia sempre sonhando

Veio como quem vai
E ficou como se já fosse embora
Hoje é ele quem cai
E amanhã é você quem chora
Veio como se fosse bonito
Mas pra ser feio
Amanhã não demora
Pois beleza não tem infinito
Um dia essa feiura chega
E por inteira ela te devora.

Abutre

Você mentiu
E dissimulou
Nada você sentiu
E logo me condenou
Querendo cobrar em mim
Sempre um bom respeito
E logo eu percebi
Que isso era o fim
Porque há muito tempo você
Já havia perdido esse direito
De exigir o que nunca deu
E tentar ressuscitar em mim
Aquilo que nunca morreu

Você magoou o meu coração
E toda esperança que eu tinha
Fez eu perder a ilusão
E tudo que lá dentro continha
Amassou todos os meus sonhos
Como se eles fossem latinha

Você passou por cima de mim
Como se fosse um caminhão
Que recolhe detritos no jardim
Pra levar depois ao lixão.

O Canto Da Sereia

Os meus passos
Eu deixo na areia
Pra que homens devassos
Não roubem o canto da sereia
Pois a minha presença
A eles faz pirraça
E quando eles caiem na cachaça
Assinam logo a sua sentença

Os meus passos
Se apagam com o vento
Mas não há tempo que apaga
Cada passo do meu sentimento
Pois a minha marca
Eu deixo no chão
Mas tudo que eu sinto
É guardado no coração

Os meus passos
Eu deixo no ar
Quando eu soubo
Em cima da árvore
E o vento me joga no mar
E quando eu piso
Na pedra de mármore
Eu vejo o mundo rodar
E todo que é riso mudar de lugar

Eu me rasgo na cerca de arame
Pois sou mais liso do que sabão
E quando eu soubo nesse tatame
Sempre me jogam de cara no chão.

O Jogo Do Amor

O amor é um resto de mato
Que nasce, cresce e morre
Dentro da gente
Porque as vezes
Lhe falta quem rega
E até o olhar você se esconde
E pra ele você nega

O amor é um pouco de tudo
Guardado no fundo de um baú
As vezes ele parece que é mudo
E tem a cara pintada de cau

O amor parece cegueira
Visão perdida com a sua beleza
Quando caimos dentro desse fogo
Aceso com essa incerteza
E as regras que tem esse jogo
Queima mais do que a fogueira.

O Que Eu Sinto Por Você

O que eu sinto por você
É muito mais que amor
É coisa que eu não sei explicar
Mas todo dia me vence
E me causa essa dor

É sentimento
Que vai além do prazer
Pois o seu corpo
É um doce tormento
Uma montanha de desejos
Que faz meu corpo estremecer
Por você eu ainda perco o juízo
Pois de tanto o meu mundo girar
Há de me fazer enlouquecer

Eu quero estar perto de você
Todo dia e toda hora
E ja não quero nem saber
Se tar certo ou errado
E o que for pra ser meu
Eu quero é agora
Pois o amanhã é distante
E ele sempre demora
E o meu sorriso pode ter acabado
Quando você pegar a estrada
E dizer adeus e for embora

O que eu sinto por você
Não caberia nesse mundo
Vai além da amizade
É coisa que desconhece
A nossa própria humanidade
É o fruto mais doce
Mais singelo e profundo
Você é o carinho
E toda honestidade
Só você abre o meu caminho
E fortalece a minha felicidade.

Cabaré

Eu sentir um cheiro de cigarro
E vinha lá do cabaré
Ouvir também um escarro
E era de homem e mulher
Eu vi o seu fogo aceso
E era tanta fumaça
Que parecia uma chaminé
A sua boca parecia um vulcão
E o seu corpo derrubava
Como um furacão
Você era um perigo
A que se guardava
Um certo abrigo
Á sua perdição

Se ver uma mulher de capuz
E uma argola na orelha
Faça logo o teu sinal da cruz
E corra do mel dessa abelha
Se ela fala demais
Tape logo os seus ouvidos
E também as suas orelhas
Seja muito prevenido
E esconde até
As suas sobrancelhas

O cabaré é um canivete
Lugar onde se enfeitiça
E sai muito pivete
A mulher mascla sua língua
E o seu bolso também
Tudo isso ela faz
Sempre por um vintém
Como quem mascla um chiclete
E deixa morrer á mingua

O caberá é a navalha
E a mulher é a bebida
Chega o homem canalha
E a trata como mulher da vida
Ali corre sangue
E mesmo assim a mulher convida
Sempre em gangue
E quase não tem despedida
De corpo, alma e mente despida
Já quase enlouquecida
Não dispensa nem a gângster
E ainda banca a ensandecida
Á querer sempre mais
E nunca estar agradecida.

Casaco Marrom

Ainda lembro
Daquele casaco marrom
Todo em mosaico
E sujo de batom

E quando eu usava
Ficava parecendo um atum
Mas todo mundo me aturava
E achava aquilo
Tudo muito comum

Todo mundo queria me ver
Como antes nunca se quis
Todo mundo via o casaco
Como antes nunca se viu
Assim fazia essa essa gente
Sempre que me vestia
Aquele casaco marrom
E não queria nem saber
Se pra quem sorria tava bom
E se o tempo tava quente
Ou fazia muito frio
Se a estrada era aquela
Que já não levava a lugar nenhum.

A Minha Voz No Vento

Eu solto a minha voz no vento
E deixo ela ser levada pra longe
Pra que ela vá de encontro
Ao teu sofrimento
Isolados em terra de monge

Eu solto a minha voz no vento
Como quem solta por ai
Algum pensamento
Na ponta da lingua
Um amor ciumento
E de tanto ser assim
Muitas vezes até cai
Só não morre a míngua
Porque tem documento
E o amor não é assim
Um ser lazarento

Quando eu solto
A minha voz no vento
É como quem dar mil saltos
E perde a noção do tempo
Na pressa eu já calço
Os sapatos
Pra dar chute na cara
De alguns ratos
Quando insistirem
No meu encalço
E se mesmo assim
Eles resistirem
No seu pescoço
Eu faço um laço
Depois amarro e dou um nó
E faço isso com um cadarço
Pois quando eu solto
A minha voz no vento
Eu também me revolto
E brigo pelo movimento
Mas se tu é meu amigo
E tem sentimento
Eu te dou o meu abraço
Pra que faça dele o teu abrigo.

Brasileiro

Já que a vida ta ai pra viver
E cá no Brasil eu cair pra sofrer
Que façam valer
Esse meu único direito
Enquanto é direito por aqui se viver
Já que eu corrir
E não posso alcançar
Que façam valer
Esse meu único direito
Enquanto é direito
Por aqui se acabar
Se isso é a minha sorte
Qual serar a minha sina?
Serar a morte
Em meio a uma chacina?
Ou um corte na veia
Como se fosse vacina?

Já que a vida ta ai pra viver
E cá no Brasil eu cair pra morrer
Que façam valer
Esse meu único direito
Enquanto é direito
Por aqui padecer
Enquanto em mim
Ainda existir um peito
Que sirva de álibi ao país
Quando tudo perder o respeito
E ser arrancado pela raiz
Mesmo que o rosto
Alguém pinta com giz
O que fará esse moço
Com essa cicatriz
Novela ele já não assiste mais
Com vergonha
Daquela atriz
Na mesa já não senta pra almoço
E esconde até as suas digitais
Com vergonha do que passou
E com medo do que vem depois
Pois quando quebraram
Os seus cristais
Quebraram também
Os sonhos de nós dois
E nem ilusão aqui mais restou.

Tempo

Assim como passam as horas
O meu tempo eu também invento
Você eu quero é agora
E cada segundo
Eu há de fazer
Ele passar mais lento

Assim como passam as horas
Eu amarro também as cordas
Pra que o tempo ele nunca passa
Quando você do meu lado acordar
E pra nunca querer ir embora

Por isso eu faço
O meu tempo
Pra que ele não voa
Como os meus pensamentos
Tempo eu faço pra tudo
Pra tomar banho na lagoa
E curar alguns sentimentos
Pra beber a água da chuva
E conter as mágoas
Daqueles mendigos na rua
Sempre a padecer
Parado e calado na curva

Tempo eu faço pra você
Que chora de barriga cheia
Um dia vai faltar
Quem vem pra te ver
E vai perceber que aquela amizade
Era mais que uma ceia
Pois mesmo regada
A uma mesa farta
A beleza não vinha do pão
E sim da certeza
De uma sã e sincera união.

A Festa Na Serra

Hoje a festa é lá no pé da serra
Onde bicho e pedra
Também vão dançar
Pra cumprir mais um ciclo
Que se encerra
E o seu corpo há de lançar
Sonhos de amor
E esperança na terra
Juntando o presente
Passado e futuro
Em meio a tudo
O que a gente espera

Hoje a festa é lá no pé da serra
E quem tem fé
Corre pra lá também
Vamos ali muito além
No balanço que esconde
Atrás do seu pé
Onde os bichos soltos
Com saltos a desimbestar
Relembram seus amigos mortos
E dessa solidão quer se libertar

Hoje a festa é lá no pé da serra
Feita especialmente
Pra quem não tem pressa
A folia faz bem ás pedras
Aos bichos e também a gente
Pois o amanhã
É apenas promessa
Talvez uma grande ilusão
Ou quem sabe até
Uma certa quimera.

Retrato

Eu te vi da janela
Com um olhar flutuante
Estava sempre tão bela
Mas de mim tão distante
Eu te vi muito além
Correr entre o céu e a terra
E como um arco-íris
Lá no pé da serra
Eu vi o seu olhar
No meu olho também
E quando a brisa se levantou
Eu vi paixão correr pro terreiro
Com passos tão apressados
De quem quer ser o primeiro
Eu vi que a emoção
Ali também dançou
Como jamais ninguém
Ousou dançar
E quando o coração
Se abriu
O amor se libertou
E a menina sorriu.

Utopia

Eu vi tudo escuro
E o mundo todo rodar
Escondi atrás do muro
Pra o meu sonho ninguém lapidar
Eu vi que a estrada era torta
Mais insistir em querer chegar lá
Correndo dos infortúnio
E me escondendo atrás da porta

E quando invadiram o meu quintal
Só levaram as rosas do jardim
E as pequenas flores de jasmim
Só deixaram as roupas do varal
E as pequenas celamim
Um roseiral inteiro balançou
Pois nunca tinha visto nada igual
Tentaram levar os nossos sonhos
Mas eles andam sempre
Tão bem guardados
Aqui presos dentro de nós
Já tão concebível e quase real
Pois um sonho,
É sempre indestrutível
E tão incapaz de alguém roubar
Ou fazer virar pó.

Solidariedade

Se teu mundo é confuso
E tão barulhento
Se de mim tem abuso
E pra você é um tormento
Então me esquece de vez
E me deixa sozinho
Aqui tranquilo e em paz
Assim evita o meu
E o seu sofrimento
E discórdia entre a gente
Não se vê nunca mais
Se teu mundo é um furacão
Mas o meu não é não
Pois o meu ainda resta
Um generoso e bom coração
Que nunca deixa a fogueira apagar
Pra manter sempre acesa
A velha chama da ilusão
E quando nada mais restar
Em sua vida
Saiba que eu vou estar
Sempre aqui
Pra te dar o meu apoio
E segurar a tua mão.

O Trem

Sai o trem da cinco
E chega o trem das seis
Quem não partir agora
Só no outro mês
Quando a greve acabar
E o homem parar
De querer cantar reis
O trem quando parte
Leva sempre três destinos
O que é meu
E o que é seu
E também o dos meninos
O trem quando apita
Nos aperta e nos aflita
E acelera o coração
Pois alguém está chegando
Pra descer na estação
E cada vez tá mais perto
Não é alguém que me conta
É só o que a gente palpita.

Dogma

E agora que a luz apagou
A dor te faz sofrer na escuridão
Pobre de quem nunca amou
E só guardou rancor no coração
E agora que a cruz pesou
Pra um sonhador sem amor
Já não tem perdão
E pra quem nunca rezou
Jamais vai saber
O que é ter por alguém
Certa compaixão
E tão cedo vai perder o prazer
E também toda ilusão.

Arcano Humano

Lá vem o homem que diz
Ser o dono da razão
Mas esconde segredos da alma
E guarda no fundo do coração
Lá vem o homem que diz
Ser o dono da verdade
Mas esconde segredos da alma
E guarda na palma da mão
Com medo de um furacão
Ou pra nunca perder a amizade

O homem quando chora
É porque não sabe sorrir
Quando o desejo insistir
E o amor for embora
O homem quando morre
É porque já cansou de viver
E ele só lamenta
Não saber o que fazer
Com tanto amor que sobra
E pela veia se escorre.

O homem quando reza
É porque não sabe xingar
Por isso ele despreza
Quem nasceu pra vingar
O homem conhece a tristeza
E encara sempre de perto
Mas nunca veste a frieza
E espera tudo dar certo.

Desígnio

Já que a vida quis assim
Colocar você no meu caminho
E se fez dessa estrada o seu ninho
Agora tem que ir e ficar até o fim

Eu sei de onde eu venho
Mas não sei pra onde eu vou
Mas com você do meu lado
Eu sei bem quem eu sou
Aonde eu vou
E o que tenho

A minha estrada é de sol
De poeira e suor
A minha estrada é de nó
De carreira e de pó
Porque a vida quis assim
Mas nunca estive só
Tinha sempre um amor
Um amigo e um jiló
Pra momentos de doçura
E também de amargura

A minha vida é uma pedra
E um martelo na mão
E quando o sorriso se quebra
Quem conserta é o coração
Mesmo que a vida
Esteja sempre em pedaço
Ela se refaz e te convida
A se amar e sorrir
E dar sempre um abraço
Pra tocar fundo na alma
E mexer com a nossa emoção
Perto dali
Ou longe quem sabe
Quem há de dizer
Que ali Já não cabe a razão
É porque já não sabe o que fazer.