Coleção pessoal de valdenirdelimaolivei
A Nossa Bela Infância
Hoje eu lembrei de você
E de todo o nosso passado
Tudo o que vivir
E fiz pra te ver
Pra sempre continuar
Do seu lado
Hoje eu lembrei
Dos seus rompantes
Daquelas suas loucuras
Até de quando era distante
Os seus ataques de doçuras
Hoje eu lembrei de tudo
De todo o nosso aconchego
Lembrei de tudo que era proibido
E mesmo assim
Era o nosso chamego,
Nosso brinquedo escondido
Que a gente levava até o fim
Tal qual o nosso dengo
Nossa forma de dizer sim
Hoje eu lembrei de tudo
De toda a nossa infância
Nossa volta pelo mundo
Numa falta de elegância,
Que aprontava com a gente
Numa triste ganância
De viver e se lambuzar
Coisa seria de criança,
Que sonhava em se casar
Mas confundia anel com aliança
Hoje eu lembrei de tudo
De todo o nosso desejo
Nosso sagrado começo
Que era só beijo,
Perna bamba
E tropeço
Garganta rasgada
Pele e osso na unha
Cristão, mel e invernada
Tomando conta da grunha
Numa paixão desenfreada
Coisa mágica
E bela de criança
Foi toda aquela nossa infância
Nossa dica
Nossa forma de lembrança,
Que preenche os meus dias
E traz uma certa lógica
Pra tudo que a gente canta
E tanto que a gente dança
A nossa bela infância
Foi um jardim
Onde muito se pintou
É hoje a nossa herança
E apesar da distância
Muita coisa boa se guardou,
Amor, amigo e irmão
Tudo isso aqui ficou
É o que nos faz lembrar
De tudo que foi bom,
Apesar do tempo que passou
Algumas pessoas foram embora
Mas aqui dentro,
Pra sempre nos marcou.
Aprendiz
Espero que você
Tenha aprendido a lição
Pra que tanto b-a-ba
Não tenha sido em vão,
Espero que você
Tenha se arrependido
Pra que tanta comunhão
Não tenha servido pra nada,
Espero que você
Tenha entendido o recado
Pra que tanta confusão
Não tenha sido pecado,
Espero que você se entregue
De corpo, alma e coração
Pra que tanto esfregue, esfregue
Não seja só paixão
Pra não ficar parecendo
Que o amor tenha acabado
Quando só restou ilusão,
Com tanto sangue fervendo
Espero que você
Tenha rezado no sábado
Pra que tanto vem me ver
Não seja só perdão.
Vá Procurar O Que Fazer
Vamos ao trabalho
Porque o dia de amanhã
Nunca vem de graça,
Você tem a mente sã
E um corpo que te abraça
Tá na hora de ir trabalhar
E sair do banco da praça,
Vá procurar o que fazer
Não seja mais um vagabundo
Chega de tanta desgraça
À tomar conta do mundo,
Dá um basta na tua cachaça
E vá praticar algum lazer
Um dia tu ainda me mata
De pirraça
E isso não me dar nenhum prazer,
Deixa de tanta preguiça
E vamos todos à luta
Um dia a tua vida se enguiça
E cada problema te chuta,
Deixa de tanto capricho
E vá procurar uma direção
Pra ver se um dia
Tu encontre o teu nicho
Preenchendo o teu coração
E à todos nós causando alegria.
A Fúria Da Razão
Um dia eu tive que reclamar
Das coisas que só me faziam mal
Não dava mais pra deixar
Aquele barco de novo a remar,
E fingir pra mim mesmo
Que estava tudo bem
Tudo normal
Tive que mostrar
Qual era o seu lugar
E impedir que outra vez
Voltasse e fizesse tudo igual
Não dava mais pra aguentar
Tanta hipocrisia
E tanta coisa fora de lugar
Tanta coisa era um perigo
De se ter medo até de entrar,
Pela gelosia
Dava sempre pra espiar
O que se escondia naquele abrigo
Que pra gente não queria mostrar
Não era faca, aço
Nem facão,
Não era barco, abraço
Só coração
Espantado como ele só
No vai e vem
Dessa confusão,
Num estado de dar dó
Com rosto molhado
Sem direção
Um dia eu tive que reclamar
Colocar a boca no trombone
O meu instinto é amar
E nunca falar em telefone,
Comigo é olho no olho
É o meu jeito de reagir
E também de começar,
Malandro tu não tenta fugir
Porque o meu grito é tão alto
E tu não queira imaginar,
A doçura tem meu jeito normal
Quando ninguém me atrapalha
E me trata sempre por igual
Mas nunca banque o canalha
Atropelando o meu ideal,
Porque se não você vai conhecer
A fúria da minha razão
Que dentro de mim
Nessas horas dão sinais
E faz prevalecer
O que vem do coração,
E todo dia aqui dentro
Já bate sem fim,
É batuque de assustar
E até parar a multidão.
Amantes
Já não é o mesmo sol da manhã
Já não tem o mesmo brilho
Que antes,
Nem aquele cheiro de hortelã
Que lembrava aquele beijo
Na boca daqueles amantes
Já não é o mesmo homem
Nem mais a mesma mulher
Porque será que eles somem
E não vive mais como quer?
Se ambos tinham a mente sã
Porque hoje vive tão distantes?
Foi culpa do passado
E daquela casa cheia
Depois do rio ter transbordado
E tanto sangue pulsando na veia,
Onde a correnteza fez morada
Com aquele amor tão pouco
E quase não dava pra nada
Assim já era um sufoco
O amor é precioso
E ao mesmo tempo preguiçoso
Você que não sente
Nunca vai saber
O quanto ele rigoroso
E mal da conta da gente,
O amor é perigoso
É um remar contra a corrente
Muitas vezes tão doloroso
Mas é o que tem pra hoje
E já nos faz tão contente
Já não é a mesma chuva
O mesmo rosto
E o chão molhado,
Já não é o mesmo desgosto
O mesmo choro
De um rei deposto
Lágrima é no telhado
E chuva no mês de agosto
Luz se fez poeira
E vento ali fez morada
Homem saiu na carreira
E mulher ficou apaixonada,
Como cego no escuro
Pouco som fez zoada
Vizinho pulava o muro
E pra descer usava a escada
Aquilo era muito estranho
Tudo fora do normal
Amante dormia no banho
E amanhã era noticia no jornal
Já não é o mesmo ar
Tudo já deu sinal
Reputação já quis naufragar
Quando tudo deixou de ser normal,
Amanhã um outro dia vem lá
E tudo como sempre nada igual
Crença deixou de ser importante
E muita gente não quis mais rezar,
O que era perto agora é distante
Veio o tal de favor
E mulher já quis abusar,
Como se conhecesse de dor
E por paixão tentasse me usar
Como se a boca
Fosse um cobertor
E ao me beijar tirasse essa toca,
Dizendo que se enganou
Quando me beijava
Pensava que era um ator
Assim ela se alegrava
E logo perguntava quem sou.
A Música Em Mim
Quando muito ainda era pouco
E pouco era quse nada
Quando cantar era um sufoco
E se insistisse levava pedrada,
Eu bancava o louco
E cantava até nas calçada
Quando eu gritava
E ninguém me ouvia
A minha voz flutuava
E quase nada dizia,
Era susto
Era covardia
Mas mesmo assim
A música eu abraçava
E quando cantava
Eu ia até o fim
Porque sem a música em mim
Me falta um pedaço
É como se você
Dissesse que sim
E eu já não soubesse
Mais o que eu faço,
Sem música
O meu mundo escuresse
É como gostar de alguém
E não ganhar seu abraço
Quando eu canto
No mesmo instante eu danço
Por isso te causa um espanto
Mas é dengo maluco
Que só faz bem
À um coração tão manso,
Porque o seu sorriso
É um encanto
E quem se olhar encanta também,
É quase preciso
É como remanso
Quando mais ainda era menos
E escutar já tanto fazia
Eu sempre ficava sereno
E nunca perdia a alegria,
Porque minha viola
Era sempre contente
Como um pássaro na gaiola
Cantando sempre o que sente,
Porque a música em mim
Me faz tão bem
É o viver mais distante
E ao mesmo instante presente.
Escravos Da Maldade
Além de muito sol
Muito sal
E pouco mel,
A vida me fez assim
Me cravou no peito um anzol
E me deixou de cara pro céu,
Quando você partiu
E me deixou
E nem quis saber o que era certo,
Foi quando pegou fogo de vez
Em todo amor que era seu
Deixando tão longe
Tudo que era perto,
Além de muito medo
Muita mágoa
E pouco desejo,
O mundo te aponta o dedo
Te joga dentro da lagoa
E sempre nega aquele beijo
Te deixando atoa
Além de muito sofrer
É muito pouco
O seu querer,
Me enche de esperança
Fazendo todo que louco viver
E logo cair nessa dança
Além de muito cair
Poucos braços pra te levantar
Alguns por não querer sair
Outros pelo prazer de te maltratar
Além de pouca liberdade
Muita luta
E pouca igualdade,
Pouca gente nos escuta
Somos escravos da maldade,
Onde grita a melodia
Nos confins dessa cidade
Onde os loucos correm pra gruta
Assassinando a alegria,
Pela falta de verdade
Nessa louca rebeldia
Além de muito suor
Muita carreira
Nenhum pouco menor,
Tanta sujeira
E tanto sujeito sem dó
Que corta, mata e aproveita
O bem bom de estar só,
Na loucura travessa sujeita
De sempre se esconder à direita
Sem nunca deixar rastro,
Vestígio nem pó.
O Mistério Da Vida
O mistério da vida
Só a morte explica
Pelo tamanho do corte
E a ferida que fica,
Pelos caminhos sem sorte
E pela saudade sentida
O mistério da vida
É uma viagem no tempo
Uma lembrança atrevida
Um sentimento retido
É uma chama que se acende
E nunca quer apagar
É uma falta
Que poucos compreende
Mas no peito
De quem sente
Ela quer sempre rasgar,
E quando ela exalta
É maior que dor de dente
Faz a gente correr
E até mudar de lugar,
Quando ela aperta é feito serpente
Nessa hora a gente quer morrer
Já que nunca mais pode abraçar
E nunca mais vê pela frente,
O mistério da vida
Ninguém nunca vai entender
Porque existe a despedida
Se queremos tanto viver,
Porque tanta luz se apaga
Muito antes de nascer
Silêncio nessa hora é o afago
É o que dá pra entender,
Pela largura da dor
É o que se aguenta dizer
O mistério da vida
Quase não dá pra escolher,
É a fase mais dividida
Porque só nos resta morrer
Nem as horas vão poder mudar
Nem o tempo vão poder dizer,
Um dia a gente vê tudo acabar
E quase nada deu pra viver.
Os Nossos Dias
Tem dias que a gente se esconde
E dias que a gente apavora
Que o medo é maior que o bonde
Que segue apressado lá fora,
E a vida é tão curta e passageira
E deve ser vivida agora
Tem dias que a gente é contente
E dias que a gente é infeliz,
Que o amor é tão serio e ausente
E viver já está por um triz
Tem dias que a gente é silêncio
E dias que a vontade é gritar
Tem dias que a gente é um milênio
E na vida custa acreditar,
Que o mistério é profundo e bonito
E só em Deus eu tenho fé
E acredito,
Minha luta é sempre de pé
Vou lá no fundo buscar
Tem dias que a gente é segredo
E dias que a gente revela
Que nem toda sombra
Vem do arvoredo
E nem toda paisagem
Se vê da janela
Tem dias que a gente é apressado
E dias que vivemos à esperar
Mas o presente é tão forte
E passado
Que as vezes nos faz duvidar
Tem dias que a gente começa
E outros a gente termina
Porque a vida é só uma promessa
E pra caminhar
Só mesmo uma força divina
É razão que me leva a sonhar
Tem dias que a gente é amigo
E outros é sempre sozinho
É como se a gente
Perdesse um abrigo
E tivesse que refazer essa vida
Trilhando por outro caminho
Tem dias que a gente só lembra
Daquilo que devia esquecer
É coisa que vem pra atormentar
E nos fazer enlouquecer
Tem dias que a gente sorrir
Muitas vezes só pra não chorar
Como uma rosa
Que insiste em florir
Depois de vários dias sem regar
É a vida
E o amor em prosa
Tão atrevida
E dolorosa
Tem dias que se faz comovida
E outras vezes tão perigosa.
Um Sonho Bom
Essa noite eu tive um sonho
Um sonho tão bonito
Sonhava que gente boa e elegante
Pintava o Infinito,
Porque não tinha
Um coração aflito
E amava até os bichos
Como se fossem gente,
Essa noite eu tive um sonho
Que parecia tão real
Coisa boa sempre na frente
Todo mundo era igual,
Não tinha ódio
Não tinha dente
Tudo era tão normal
E só de paixão se queimava
Naquele fogo ardente,
Era coisa da alma
Todo mundo se amavam
E nunca escondia o que sente
Nesse sonho eu conheci a calma
E aprendia a plantar a semente
Pra vida eu batia palma
E fazia o mundo ficar contente.
Ideal
Toda estrada chega
Em algum lugar
Todo pé alcança
Onde quer pisar,
Mas é preciso
Um bucado de intuição
Uma certa locura
Um certo penar,
Vestígio de quem não luta
É o pó que escurece um coração
Como canção esquecida na gruta
Composta pra solidão
Todo estrada chega
Em algum lugar
Todo pé alcança
Onde quer pisar,
Apesar de toda sorte ser cega
E o teu corpo já cansar
Enquanto ela dança,
É sinal que as vezes
A vida escorrega
Por isso é preciso acreditar
Que um dia a gente alcança
Que o medo
É o paradigma de tudo
Quando se faz por prazer
Ou deseja profundo,
Apesar de ainda estar cedo
Muito se tem pra fazer
Apesar das dores do mundo
E também alguns credos
Caminhar sem olhar para trás
Sonhar como nunca jamais
Ideal é a lógica pra seguir
E fė pra se ter muito mais,
Nada do que foi ontem
Hoje será
Os dias nunca foram iguais
Mas nem por isso vão diminuir
Toda estrada
Chega em algum lugar
Todo pé alcança
Onde quer pisar,
Que a luta é vista como escada
Pra quem tem o dom de amar
Pois louco que é louco balança
E o resto é maneira de falar,
Lucidez é pura vaidade
Pra quem tá sem rumo
Procurando alguém pra abraçar
Rodando toda a cidade
E tantas vezes
Perdendo seu prumo,
Vivendo por acreditar
E nunca escondendo a verdade.
Por Você
É por você
Que eu pergo a noção do tempo
É por você
Que eu canto
sem direção no vento,
É por você
Que eu olho e a poesia invento
Qualquer forma de pensar
Até mesmo juramento
É por você
Que eu corro aonde quer que vá
É por você
Que eu mudo todas as coisas de lugar,
Mudo os meus cabelos
Minha maneira de olhar
Mudo o que se muda por dentro
Mas o que eu sinto
Continua como estar,
Mudo o meu nome
E também o sobrenome
Mudo meu telefone
Mas meu coração
Continua a te chamar
Por você eu quase não canto
Quase não olho a vida como ela é
Por você eu rezo pro santo
Pra me colocar nos pés
Daquela mulher,
Por você eu quase não janto
Só juntando o que restou
É coisa que termina em pranto
Lembrar do passado
Que você nem notou
Por você eu vou
E volto de Miami
Nesse carrossel
Que você inventou,
Nos passos que você me leva
Todo dia sem você saber
Viajo como quem vai pro céu
E muita coisa eu tenho pra dizer
Por você
Eu enfrento a tempestade
E mais que o amor pode enfrentar
O caos caótico da cidade
É luta que só tende a aumentar,
Por você eu ainda perco o juízo
Só nunca a mania de acreditar
Faço tudo que for preciso
Porque sonho nenhum
Me dar prejuízo
Por você eu trago a lua
E o sol que te faz brilhar
Faço chuva aqui na rua
Só pra imaginar você se molhar,
Faço mais que a imaginação permite
Coisa que preenche um coração
E ao mesmo tempo aqui dar limite
Por você eu sou a mão
Que acena
E ensina a multidão
O braço que se estende
Quando todos te dizem que não,
Por você ainda corro perigo
Perigo assim de montão
Como se fosse castigo
E não houvesse perdão,
Por você eu ainda embriago
Mesmo com o peito
Cheio de paixão,
É coisa que vem pra dar defeito
Quando tudo circula em vão,
Por você eu sou a favor de tudo
Menos de não viver contigo,
Isso pra mim é o fim do mundo
É coisa que me joga no chão.
O Que Há De Melhor Em Você
O que dirá essa gente
Quando a enchente passar
O que fará a semente
Se você não regar,
O teimoso vai ser
O que você atiçar
Seja do bem
E pague pra ver
Atice em você
O que há de melhor,
Ninguém vai te amaldiçoar
Se você crê
No que faz
E a cada dia faz por querer
Ou gostar,
Irreverente é quem faz
Tudo isso por viver
Ou amar,
O resto aos poucos acontece
Basta você querer
E no sonho acreditar.
É Tudo Que Eu Vejo
Eu vi tanta gente crescendo
E tanta gente morrendo
Vi tanto rio secando
E tanto peixe correndo,
Vi tanta água se acabando
E tanta multidão apressada
Algumas lutando por quase nada
E outras por tão pouco
Levando quase tudo,
Vi mistério gritar como surdo
E tanta promessa
Ser feita no escuro,
Vi tanta lógica perdida no fundo
E tantos rabiscos tortos
Na parede do muro,
Vi tanta bestage
E tantos outros corpos
Fazendo parte
Da mesma estalagem
Eu vi midingo correndo
Sem ter pra onde ir
E tanta coisa ele querendo
Sem saber como conseguir,
Por exemplo um pão
Pra ele estar comendo
E uma cama pra ele dormir
Tudo isso eu vejo
Todo dia com frequência
Lhe falta carinho,
Um abraço e um beijo
Lhe falta ternura
E pra quem te olha a decência,
Pra uma só criatura
Que já padece pedindo clemência
Eu já vi de tudo nessa vida
Coisas até que os meus olhos
Não queriam enxergar,
Tanta coisa estranha
Num só lugar
Todo dia me apanha
E me leva
A outra maneira de pensar,
Porque os meus olhos
Já não querem ver mais
Tanta treva
E tantas formas de penar,
Tanta loucura que só nos leva
Para trás
Nos deixando perdidos na relva
Naquele abandonar,
De quem diz adeus
E até nunca mais.
Sina
A estrada era longa
E parecia nunca chegar
Os olhos distantes
Eram aqueles faróis
Que a noite carregava
Como se o dia nunca fosse raiar,
E o vento era como os pneus
A correr macio no asfalto
É como se a brisa nunca existisse
E só o barulho pudesse escutar,
E assim entrei na madrugada
Correndo sem sair do lugar
Olhando ao meu lado
Quem sofria em disparada
E os meus olhos com sono
Já queriam fechar,
Como se perdessem o trono
E quisessem repousar.
Quando Você Foi Embora
Alguém está chegando
E pelo jeito veio pra ficar
Um canto já vem celebrando
Com uma maneira
Diferente de olhar,
Alguém está chegando
Como há muito tempo devia estar
A vida inteira eu passei sonhando
Cheguei até sair à procurar,
Mas o vento me trouxe você
E a água fez questão de levar
Pra longe o bem querer
Onde eu não posso ir buscar,
Agora a noite
Se tornou mais intensa
E o dia não quer mais raiar,
Quando você chegou
E foi embora
Em mim nada restou
Só o olhar de quem chora,
Quem me fazia tão bem
Agora pra sempre foi embora
Um outro dia já vem
E eu já não sei o que fazer agora,
Você era minha paz
O meu sinal de alerta
Mostrava que era capaz
E agora a saudade aperta.
Cortesia
Não quero te ver triste assim
Tristeza assim não combina
Não quero que seja teu fim
Acabar tão triste, menina,
Eu quero te ver sorrir
Eu quero te ver correr
Não quero que façam por mim
O que eu não consegui por você,
Mas me leva na tua gandaia
E me deixa apagar teu facho
Me dá um nó em tua saia
E me leve no teu requebrar,
E quando você sai
E eu não te acho
Não sei o que será de mim
Seu riso corta como uma navalha
E sua boca fala como um arlequim
Não quero te ver tão louca
De louco já basta eu
Não quero te ver tão rouca
De tanto me chamar de seu,
E quando eu beijar a sua boca
Já pode vir buscar o que é teu
Antes que eu saio de touca
Antes que eu viro um ateu
Menina linda de lança
Prazer o meu nome é confiança
Se eu te pego de jeito eu te laço
E no seu dedo
Eu coloco uma aliança,
Depois eu te aperto
Com o meu abraço
E pra sempre
Vai ficar na lembrança,
Porque é tão forte
O nosso passado
É um elo feito de aço
E por sorte
Me tem amarrado.
Mudança
Será que foi eu quem me perdi nessa mudança ou foi a sua mudança quem me perdeu?
Será que eu estava dormindo
Ou foi o sonho quem morreu
Eu só sei que eu vi tudo partindo
Quando aquela multidão desceu
Tinha muita gente cantando
E muita gente fingindo
O menino já vinha chorando
E a mudança estava tinindo
Será que foi eu
Quem ficou para trás
Ou foi o sol quem se escondeu
Eu só sei que roubaram
A minha paz
E tudo o que a gente viveu
Será que foi eu
Quem esperava demais
Ou foi o claro da manhã
Que dessa vez escureceu
Eu só sei que nunca mais
Eles foram os mesmos
E a ninguém mais ele obedeceu
Escondeu de mim o cais
E aquela bala de hortelã
Será que foi o destino
Com cara de gente grande
Pensou que a gente era menino
Dizendo olha pra frente e ande
Eu só sei que foi bagunça
Muita luta saiu fumaça
Ali eu conheci sua dança
Mas hoje por você eu perdi a graça
Pelo tamanho da muamba
E o teor da desgraça
Mudança esquisita
Pra quem esperava ser diferente
Se não houvesse os parasitas
Pra impedir que meu barco
Remasse sempre pra frente
Mas nem sempre é o que se quer
Tem sempre uma moda
Uma linha torta e aflita
Nessa mudança marota
De quem come a soda
Palita os dentes
E depois arrota.
Menino De Rua
Cai a fruta
No pé do moleque
Ele todo assustado
Já corre pra gruta
E lá faz seu ninho
Com medo que seu vizinho
Seja algum recruta
E te obriga depois
Á cobrir o cheque
Ganha a rua
O menino sem dono
Vivendo de migalhas
Muitas vezes crua
Em total e cruel abandono
Morando em barracos
Cobertos de palhas
Hoje menino bom
Amanhã é marginal
Porque camuflaram o seu dom
E não trataram ele por igual
A sociedade escondeu
As oportunidades
E só mostraram á ele
O caos nos becos
Das grandes cidades
O menino já nasce assustado
Com medo do seu futuro
Ser o mesmo daquele
Que por aqui tem passado
Tão cheio de rupturas
Que por vezes tem marcado
A vida e o destino
De muitas criaturas.
Os Olhos Da Cigana
Minha vida é uma ciranda
Sempre escrava de quem manda
Me crava no peito uma espada
Aqueles olhos da cigana
Pois de boba não tem nada
E aquela boca não me engana
Minha vida é uma ciranda
E sempre estar na corda bamba
Sempre escrava de quem manda
E quando eu pulo nesse fogo
É como parte de um jogo
No lugar que não tem samba
Minha vida é uma ciranda
Uma cidade enfurecida
Me dar voz de prisão
E faz eu beber formicida
Sempre escrava de quem manda
Esses olhos da cigana
Que são como duas espadas
No meu pobre coração.