Coleção pessoal de umabeatriz

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A morte é uma desagradável forma de vida

é extremamente difícil. me pergunto: o dia que foi fácil realmente existiu ou foi uma mera ilusão. tudo é ilusão. a dor parece real. me sufoco todos os dias. sou individual pois sinto minhas próprias dores. todo dia, toda luta é a mesma luta interna. eu contra eu. eu contra quem eu fui. eu contra quem eu quero ser. eu me redescubro em mim. chego ao fundo de mim e me pergunto se seria possível cavar um buraco maior. sei que é, embora gostaria de que não fosse. dor, dor, dor. sou a viúva que jamais teve um companheiro. sou a mãe órfão de um filho que jamais existiu. sinto a tristeza de algo que não me pertence(u). o silêncio é alto.
perdi tudo o que eu era. me despeço de mim. não confio em ninguém.
extremamente magoada. enganada por si mesma. deixa-se levar por uma parte que sempre existiu e que não grita, mas sussurra: não. importa.

Compreender a si mesmo requer paciência e tolerância. O “Eu” é um livro de muitos capítulos que não podem ser lidos em um único dia. No entanto, quando você começar a ler, deve ler cada palavra, cada frase e cada parágrafo, porque neles há indícios da totalidade. O princípio é, em si mesmo, o fim. Se souber ler, poderá encontrar a mais alta sabedoria.

Acreditamos que a vida nos diz “não”, quando na verdade ela está nos dizendo “espere”

A paciência é amarga, mas seu fruto é doce!

Quanto mais sozinha fico, mais sozinha quero estar.

Você é a média das cinco pessoas com quem mais convive.

You know you're in love when you can't fall asleep because reality is finally better than your dreams

Eu era um homem que prosperava com a solidão; sem isso eu era como outro homem sem comida ou água. Cada dia sem solidão me enfraqueceu. Não me orgulhei da minha solidão; mas dependia disso. A escuridão do
quarto era como luz do Sol para mim.

DO AUTOR
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu e morreu no Rio de Janeiro. Era descendente de escravos e filho de pais mestiços. O preconceito contra os negros foi um tema constante em suas obras. Leitor ávido, se destacou com a obra 'Recordações do Escrivão Isaias Caminha' em 1909. Dois anos depois, lança seu maior sucesso: Triste Fim de Policarpo Quaresma.
Além das dificuldades financeiras, sofria de crises de depressão e alcoolismo. Foi internado no hospício duas vezes. Morreu de ataque cardíaco aos 41 anos.

DA PEÇA
O TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA revela uma visão crítica da vida política, social e cultural do Brasil, através de uma linguagem despojada e inconformista. Não deixa de expor o sofrimento dos mulatos, em oposição a recente libertação dos escravos, a submissão do país aos modelos europeus, o militarismo estreito e nocivo, a fragilidade da economia do país e até mesmo a condição da mulher naquele momento.
Todos esses temas, que parecem tão familiares ao Brasil de hoje, estão presentes no livro, revelando uma posição inovadora, que foge ao rigor formal característico de seu tempo.
O resultado é uma imensa crônica da vida brasileira do final do século XIX e início do século XX. E, de certo modo, do Brasil do século XXI.


A LIÇÃO DE VIOLÃO
Quando Policarpo entra em casa é a irmã quem o recebe, perguntando:
- Janta já?
-Ainda não, espere um pouco Ricardo que vem jantar conosco.
- Mano, você precisa tomar juízo. Um homem de idade e respeitável como você é, andar metido com esse seresteiro não é bonito! Ainda mais andar com instrumento de vadio!
-Mas você está muito enganada, Adelaide. É preconceito supor que todo homem que toca violão é um desclassificado. É muito importante não deixarmos morrer nossas tradições, as tradições genuinamente nacionais.
Contrariada, Adelaide retira-se para receber Sr. Ricardo coração dos outros. Tal era violonista e gozava da estima geral da alta sociedade suburbana, uma sociedade muito especial, mas que só era alta nos subúrbios. Policarpo Quaresma desejava ter aulas de violão e Ricardo era a pessoa perfeita para ensinar porque ficava encantado pelo instrumento desprezado. Já seu discípulo ficava extasiado pelo som do violão e também pela brasilidade que tudo aquilo representava.

DAS REFORMAS
A força de ideias e sentimentos contidos em Quaresma já havia surpreendido a muitos, mas nada tão absurdo quanto as reformas radicais.
[Eu, Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil, certo também de que tal empréstimo desvaloriza nossas raízes - usando do direito que confere a Constituição, venho pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani, como língua oficial e nacional do povo brasileiro.
Além, em minha casa de campo, Sossego, pude estar em contato com as terras férteis do nosso Brasil. Mas digo, caros compatriotas: é necessário ocupar. Há tanta terra produtiva desocupada que poderíamos produzir muito. A mudança está para acontecer, basta olhar para a Pátria amada e trabalhar a fim de torná-la a maior potência do mundo!]
As palavras de Quaresma foram recebidas de diferentes formas: uns indignados pelo despudor, outros riam-se a ponto de chorar, outros sequer davam ouvidos. Ricardo Coração dos Outros, vendo o fracasso do amigo, disse:
- É bom pensar, Quaresma, sonhar consola.
- Consola, talvez, mas faz também nos torna diferente dos outros; cava abismo entre os homens - disse, cabisbaixo.

DO FINAL
Em um dos seus últimos atos de patriotismo, Quaresma decidiu se alistar e lutar na Revolta da Armada. Ficar na pátria amada, morrer pelo Brasil, eis o lema do nosso herói. Seu desempenho foi até então pouco do que deseja fazer. Por isso, na primeira oportunidade que teve, decidiu relatar ao Marechal Floriano Peixoto suas pretensões.
- V. Exª como é fácil erguer este país! Desde que se cortem os erros e obstáculos de uma legislação defeituosa...
O marechal respondia pouco e olhava ao redor, revelando sua apatia. À proporção que falava, mais Quaresma se entusiasmava. Mas Floriano apresentava sinais de um aborrecimento mortal e disse:
- Você, Quaresma, é um visionário.
..
Não só de visionários que se faz o Brasil, por isso, pouco depois, Quaresma foi preso. Sozinho, abandonado por seus ideais, pensava "O que fiz da minha vida? Não me casei, não vivi, nem tive filhos." Mas teve fé, esperança em um país fadado ao domínio de despretensiosos. Amou o Brasil mais do que qualquer coisa e é assim que foi recompensado.
"Aos pragmáticos, o poder. Aos sonhadores, as balas! Eis o meu triste fim"

Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem.

Quando a igreja inventou o pecado, inventou um instrumento de controle, não tanto das almas, porque à igreja não importam as almas, mas dos corpos.

O grande inconveniente da vida real e que a torna insuportável para o homem superior é que, se para ela são transportados os princípios do ideal, as qualidades se tornam defeitos, tanto que muito freqüentemente aquele homem superior realiza e consegue bem menos do que aqueles movidos pelo egoísmo e pela rotina vulgar.

E esse é o segredo da felicidade e da virtude: amarmos o que somos obrigados a fazer. Tal é a finalidade de todo o condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino social de que não podem escapar.

Todos os moralistas estão de acordo em que o remorso crônico é um sentimento dos mais indesejáveis. Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-se, faça as reparações que puder e trate de comportar-se melhor da próxima vez. Não deve, de modo nenhum, pôr-se a remoer suas más ações. Espojar-se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo.

se o mundo todo é um palco, a identidade nada mais é que uma fantasia.

Lhe parecia aquilo que era: uma armadilha da felicidade que o entediava e atraía ao mesmo tempo, mas da qual era impossível escapar.

O desejo distorce as coisas. Ele é capaz de cegar, fazer com que o indivíduo acredite que aquilo que ele quer é aquilo que ele precisa e, então, não há paz enquanto não se atinge o alvo.

Lua Adversa

Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

De longe te hei de amar
– da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo, constância.

Do divino lugar
onde o bem da existência
é ser eternidade
e parecer ausência.

Quem precisa explicar
o momento e a fragrância
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogância?

E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violência,
cumpre a sua verdade,
alheia à transparência.