Coleção pessoal de Tupacmil
A virtude das lembranças é que elas nos inspiram a querer repetir, mesmo que repetir algo seja impossível, mas a sensação deixada nos alimentam a querer viver mais, tentar desfrutar o existir e o estar com os pulmões com ar tão límpido que nem uma outra hematose seja tão linda quanto essa.
Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado . Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do outro. Mas cada um via uma coisa diferente, e cada um portanto, tinha razão.
Fiquei confuso desta dupla existência da verdade.
É bonito ser amigo, mas confesso: é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias.
Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Digo à minha mente: calma, leveza e paciência. Embora tudo esteja de um jeito tão 'não quero que seja assim', eu tento acreditar que um dia eu vou ter paz, paz solitária e paz nos gestos. Essa corda que é cortada todos os dias e não me permite saber quem é, um dia vai ser mais previsível e eu conduzirei minha vida com mais conforto, e a agonia de existir ainda vai existir, mas de uma forma mais contida, bem, é o que eu sonho.
Se te perturbo é porque me sinto perturbada em todos os aspectos mais ligeiros das minhas sinapses. Corro sem correr, uma velocidade de impulsos, pensamentos que nem esperam a racionalidade agir. Deslocada de mim, e é quase sem saber que o céu é azul e que meu nome é meu.