Coleção pessoal de tonjofer
Mulher, ser sem sê-la é como abelha que não gera cera e que o círio requer para acender a divina centelha.
Ton Jófer
Microconto: “Canto Santo”
O dia era sereno quando a noite se fazia. José chegava suado e banhava o sorriso de Maria.
Quando a noite se fez dia, dia não mais havia. Morria então José, misturando o seu suor no suor de Maria que dos seus olhos escorria.
A aurora, que com José também partia, só podia de novo ser vista quando Maria, pisando em solo sagrado, ouvia o santo canto da cotovia.
Texto de Ton Jófer.
Direitos autorais reservados.
VIDA VEGETAL
O fruto da vida da gente
tem lei de vegetação,
nasce-se e morre-se sempre
e se lança semente no chão.
Ton Jófer.
CATEDRAL DA VIDA
És mãe, o mais da mulher
Mesmo até de quem não é
É o desejo que Deus quer
Da vida, a sagrada sé.
Ton Jófer.
FINA RAMA
Se me fitas e eu te enlaço
Rijos olhos no meu peito
Em tua pujança eu te abraço
Rendido a ti sou sujeito
Força bruta fere o aço
Coração pulsa suspeito
Bate cego como um maço
Nunca mais só no meu peito
E a minha terra reclama
Que eu regue os grãos e a socorra
Dando a vida que te inflama
Antes que a florada morra
E reste só a fina rama
Que guardas numa masmorra.
Texto de Ton Jófer.
Direitos autorais reservados.
AMANTES DE ANTES
A súbita compreensão da essência feminina
dura uma existência, quiçá uma eternidade.
Epifania da carência e fé na realidade,
ousam cegar a própria verdade circunscrita
no círculo do vaivém da vida em unidade,
que sempre volta no mesmo ponto de partida
na eterna geração de um ser que aqui permanece,
sem abrir o vórtice de qualquer evolução,
a espiral cuja origem tem ponto e coração
no divino feminino, a Água da Criação,
oceano da vida e da prece de quem carece,
cuja ausência é o naufrágio dela e dos navegantes
amantes singrando a onda revolta que padece
sob o véu dos que amam sem ser fiéis à essência de antes.