Coleção pessoal de thamynf
Há em tudo que fazemos
Uma razão singular:
É que não é o que queremos.
Faz-se porque nós vivemos,
E viver é não pensar.
Se alguém pensasse na vida,
Morria de pensamento.
Por isso a vida vivida
É essa coisa esquecida
Entre um momento e um momento.
Mas nada importa que o seja
Ou que até deixe de o ser:
Mal é que a moral nos reja,
Bom é que ninguém nos veja;
Entre isso fica viver.
Eu não sei descrever como as coisas estão aqui agora.
Mas elas estão tão calmas, mais calmas do que quando elas eram do jeito que deviam ser.
Não, as coisas não estão todas nos lugares.
Eu andei triste, colhi decepções, revi pessoas, senti saudades e o perto algumas vezes apertou.
Quebrei a cara um zilhão de vezes e mordi a boca querendo mastigar meu coração.
Sim, tudo era confuso e estranho e inquieto.
Mas hoje, hoje eu estou bem. Agora eu sinto que é a hora de tentar.
Eu abri a janela e vi uma vida tão grande lá fora, tantas coisas e pessoas e gostos e rostos novos.
Tudo novo me esperando e eu aqui presa nessa confusão dos meus sapatos e roupas e bebidas e dores.
Tem tanta vida aqui fora, tem tanta cor, tanta VIDA!!
E agora, eu só fico perdida entre meus sorrisos e essa vontade de viver tudo que não conheci e esqueci o sabor que tinha.
Não mais fumaças, não mais vazios, não mais telefones quebrados. Não mais!
Agora só o sabor da vida, de viver, sorrir e amar!
Hoje consigo aceitar que se não me faz bem, não é pra ser...
Estou certa de que Deus fecha uma porta e abre duas janelas...
Que é só me virar pro sol que não consigo ver a sombra...
Que algumas pessoas são sim substituíveis.
Que paixões vão e vem e que ainda não amei de verdade!
Hoje só minha consciência pode me condenar, e sem falsa modéstia, raramente isso acontece!
Valorizo cada erro que cometi, pois embora pareça clichê, eles me fizeram crescer, ser quem sou, e valorizar ainda mais meus acertos.
Não esqueço o passado, mas poucas coisas que passei eu gostaria de reviver.
Tenho a sorte de poder dizer que hoje é melhor que ontem, e as pessoas que me cercam hoje são tão preciosas quanto muitas que ficaram pra trás por falta de opção e mais do que todas que escolhi deixar pra trás!
Quem não me merece não vai me ter por perto, e me sinto digna de ter por perto quem eu desejar ter...
Minhas atitudes independem da atitude de outra pessoa, e nem sempre eu digo o que condiz...
Espero ser fraca muitas vezes nessa vida, diante das tentações que ela me oferecer...
Voltei a ser o que era há alguns anos, tive um reencontro comigo, com a diferença de que dessa vez não é qualquer pessoa que vai me desviar do que eu realmente quero. Não me anulo por mais ninguém, e hoje em dia, ninguém me inspira mais do que eu mesma!
Feliz amor novo
Tenho agora todas as lembranças do ano espalhadas pelo chão. Desarrumo gavetas, resgato memórias e me deparo com um elemento em comum em todas elas: o amor. Incrível como cada pedaço do que me cercou durante esse ano tinha este sentimento. Mesmo as partes que não se concretizavam o traziam de alguma forma. Eu sei que você vai dizer que ele é impalpável e sequer eu posso tocá-lo, mas eu afirmo que ele toca, esbarra, me absorve e é capaz de se materializar, nem que seja no meu pensamento. Porque o amor pode até ser abstrato, mas a minha fé nele é concreta!
Fernanda Gaona
As feridas demoram para sarar
Não sei até quando você vai ficar na minha vida. Acho que algumas pessoas cruzam nosso caminho para nos mostrar o quanto somos fortes. E eu sou, eu fui, eu vou ser (ah, eu vou!). Lembro do gosto de cada lágrima que chorei, assim como lembro da dor de cabeça de cada ressaca que tive por ter bebido demais pra tirar você do pensamento. Não sei porque a gente tenta beber para esquecer. Beber na fossa implica ficar longe do telefone, segurar os dedos para não enviar nenhuma mensagem de texto, segurar os pés para não sair correndo e fazer alguma besteira que sempre traz um arrependimento azedo.
A gente tinha quase tudo pra ser feliz. Eu tinha um ideal entre os dedos, um romantismo que até hoje não me deixou, um punhado de esperança que desse certo e a certeza de que queria você. Você tinha uma ideia a meu respeito, uma inocência que até hoje não te deixou, umas atitudes sem cabimento e a certeza de que me queria enquanto eu fizesse o que você achava certo.
Acho que a maioria das relações não dão certo porque temos a péssima mania de idealizar o outro. Mas ninguém é príncipe ou princesa, ninguém está aqui atuando em um filme bobo de amor. O dia a dia não tem tanto encanto nem mágica nem sonho nem beijos cinematográficos. O dia a dia é realidade, é defeito, é incerteza. E eu queria fazer tudo para agradar você, tudo, tudo, tudo. Eu fiz tanto que até esqueci de mim, me perdi no meio de tanto querer, derrapei feio, me quebrei inteira e no fim das contas pensei peraí-quem-sou-eu?
Você queria que eu fosse como você sonhava. Só que nossos sonhos não deram as mãos, não se atraíram, não se olharam, não se quiseram. E tivemos que lidar com isso, com as neuras, paranóias, tivemos que lidar com o deslizamento, com o terremoto, com o furacão. E você não teve coragem pra lutar, pra arregaçar as mangas e trabalhar, se sacrificar por alguma coisa, porque você nunca se sacrifica por nada nessa sua vida. Você acha que as coisas precisam cair no seu colo com um laço de fita bonito. Mas as coisas não são tão bonitas assim e nem sempre faz sol e céu azul.
Minha vida ficou nublada sem você e sem nós. Mas será que existiu um nós realmente ou foi tudo coisa da minha cabeça? O nós existe quando os dois fazem questão que ele exista. E sobreviva. E se sustente com o passar dos dias. Mas nada disso aconteceu, seu ego é maior, seu orgulho é maior, seu egoísmo te engole e te mastiga lentamente. E eu perdi o amor-próprio, o juízo, a vergonha na cara e te pedi tantas vezes por-favor-fica-comigo e você nem sequer me olhou nos olhos, você nem teve a capacidade de conversar me encarando, com decência, com honestidade, com carinho. E isso me doeu por tantos dias, tantos meses. Essas coisas todas me corroeram por dentro feito ácido que destrói. E fiquei completamente perdida, rasgada por dentro. E demorei pra me reconstruir e ajeitar de novo todas as coisas na minha vida e na minha história. E ainda penso em você. Não com saudade nem com vontade. Mas como uma coisa que me machucou demais. Porque as feridas demoram muito pra sarar.
O que você disse?
Prepare um belo discurso. Gaste suas melhores palavras. Utilize todos os seus argumentos. Eu não consigo ouvir o que você diz.
Mais do que na força das palavras, eu acredito no poder das atitudes. Na grandeza dos gestos. Nas sutilezas das ações. Guarde seus dizeres para utilizá-los depois que fizer. Eles serão apenas um complemento.
Haja o que houver, aja.
Palavras quando não andam sincronizadas com nossos pés, não chegam a lugar algum. Não dizem absolutamente nada.
É na coerência das ações que a gente se encontra e o outro nos reconhece.
Ninguém pode viver preso em um discurso.
Ou seja,
Seja!
Quem vai, mas fica!
A vida é cheia de ciclos e ciclos repletos de pessoas. Algumas ficam, outras não. Outras vão, mas contrariando a lei da física, continuam. É um bocado de gente se esbarrando, tentando achar um lugar pra se acomodar dentro da nossa história.
Tem gente que passa e gente que ultrapassa. Que transpõe qualquer barreira, que encontra um meio de ficar. Gente que não pergunta se tem espaço, só se ajeita, dá um jeito de permanecer. E vira parte. E mesmo quando parte, vira todo. Porque ocupa tudo. Deixa um vazio cheio de presença.
Plano B
A vida em plano B acontece todos os segundos do dia, principalmente quando você não tem bem certeza se usa amarelo ou pretinho básico e deixa de sair porque não conseguiu se decidir sem gerar lágrimas nos olhos. "Estou feia", você pensa vendo alguma pele sobrar nos quadris. Acontece enquanto você está no trabalho com medo do seu chefe que nem se lembra do seu nome. Naquele momento em que você não devolve um olhar porque ainda está ferida pelo desastre do relacionamento anterior.
A vida em Plano B é quando por um lapso de consciência, você resolve sair de camiseta amarela e maquiagem borrada, percebe que seu chefe é só mais um ser humano frustrado que se dedica demais ao trabalho e que um olhar pode fazer esquecer a decepção da semana passada.
O Plano B é hoje. É agora.
Eu não sei se há vida nas próximas duas horas ou daqui 25 anos. Não sei se darei as mãos em frente ao mar sentindo que nada me falta, se minha preocupação será com o horário de pegar as crianças na escola, se comprarei cremes para as rugas e shampoo para cabelos grisalhos. Mas neste segundo eu posso afirmar com as minhas maiores convicções: o sangue passeia pelo meu corpo, o ar entra e sai dos meu pulmões, os segundos do relógio brigam com as pilhas fracas e passam correndo. Eu não posso ignorar. Eu não posso sentar e assinar papéis cheios de poeira enquanto o sol colore a pele de outras pessoas na praia. Não posso ver um avião decolar da janela de um escritório. Eu preciso estar no avião e ver tudo de cima. Hoje eu digo que estou viva e nada me impede de viver. Em todos os planos.
Sobre adicionar e remover
Tenho tentado não agir por impulso. E vejo com clareza, após pensar, repensar e estudar os vários ângulos possíveis de uma situação, o que devo remover e acrescentar na minha vida. Infelizmente, isto também inclui pessoas. E pessoas que, em determinado momento, tiveram uma importância primordial na minha existência. Mas eu mudei, elas mudaram. E não foram apenas as idiossincrasias que nos afastaram, mas simplesmente, ter valores que não se casavam mais, desconfortos maiores que alegrias, disputas estéreis, uma necessidade insaciável de despertar emoções negativas, e um vácuo enorme onde havia abraço. Onde havia amor (?).
Não foi fácil, não tem sido, mas tenho me sentido mais coerente com as coisas que me propus a viver. Com as coisas que eu tenho para dar e derramar. Com o espaço que abro para o tipo de relações de trocas reais, de afetos sinceros, de atitudes maduras, de comportamentos honestos. Não quero amar apenas quem é amorável, quero amar quem merece ser amado. Por causa e apesar de. E eu brindo o que é recíproco mesmo que não seja idílico. Tenho plena consciência de que na diferença que o Outro me traz é que aprendo, mas que venha com transparência. Eu prezo pessoas de verdade, estas me são caras. Os fakes eu respeito e deixo que sigam. Não há problema nenhum em nada e ninguém, desde que eu saiba que sobre a minha vida, a mim me cabem as escolhas. E eu dou o meu melhor e mereço receber o melhor também.
E todo este meu trabalho interno poderia ser resumido assim: eu quero crescer para mim mesma.
Nesses 23 anos...
Conheci amigos, amores, lugares. Li diversos livros, assisti milhares de filmes. Aprendi e vou aprender muito com a vida, com a espiritualidade e com as pessoas que muitas vezes me decepcionaram, pois sei que as decepções fazem parte do aprendizado de todo ser humano, e se escolhi viver assim confiando, em alguns momentos vou pagar um preço caro por isso, como já paguei tantas vezes. Me iludi, me enganei, me entreguei, me estrepei, ACREDITEI! Exatamente, acreditei em muitos, em muitas. Pessoas, amizades, relacionamentos. Mergulhei fundo em minhas relações. Vivi e vou continuar vivendo de forma INTENSA todos os momentos de minha vida, mesmo que isso implique no meu abalo emocional, devido à esses mergulhos, onde muitas vezes bato de cabeça. Mas que logo volto a superfície, subo e estou pronta pra mergulhar novamente! E é assim que vai ser doa a quem doer, e pode acreditar dói somente em mim, em mais ninguém. Só que não tem jeito, eu só sei viver assim INTENSAMENTE! E a dor? Ela passa, como tudo nessa vida!
Hoje aos 23 anos, vivenciei e sei mais do que muitos que são mais velhos que eu. Mas a maturidade chega pra nós com as nossas experiências e não com idade. É claro que quanto mais tempo se vive, mais experiência se tem, mas só que existem pessoas que não vivem, não arriscam, não dão a cara pra bater, e por isso não carregam muitas experiências.
Só que ainda sim acredito saber muito pouco da vida, tenho muitas coisas pra viver e nesse ano de 2012 eu espero que minhas vivências sejam para me trazer muito mais alegria e boas surpresas, do que decepções e surpresas desagradáveis. Que eu tenha saúde no corpo, na mente, no espírito! Muito amor e caridade em meu coração. Muita paz em minha vida e bons pensamentos!
Hoje vou comemorar todas as lágrimas que derramei, todas as decepções que passei, todos os sorrisos dei e alegrias que vivi! Elas fazem parte da minha história que se Deus e meu Guias permitirem, está só começando!'
Abra a janela. De dentro. Mantenha o coração aberto. Para tudo. E para todos. Use mais a intuição. Arrisque. Permita-se. Não se culpe tanto. Aceite os erros. Os seus e dos outros. Sem exceção. Chore sobre o leite derramado, mas depois enxugue tudo e prossiga. De cabeça erguida. Seja forte mas seja doce. Ou agridoce, se preferir… Seja suave. Suavize. Conjugue o verbo tranquilizar-se mais vezes… Tranquilize-se. Liberte-se dos conceitos. Não julgue e nem cultue tantos pré-conceitos. Acolha e nunca condene. Abra-se ao novo, mas respeite o antigo, nele podem estar muitas respostas.
Pergunte quando não entender, e nunca se envergonhe. Apenas diga a verdade. Saiba lidar com as pequenas mentiras, são elas que mantêm o mundo de pé. Peque todos os pecados capitais, mas AME sob todas as coisas que estão entre o céu e o mar. Entregue tudo o que não entender ao Infinito. E confie mais. Mas desconfie vez ou outra. Suba em lugares inusitados. Reformule. Abra os olhos. Mais abertos. Muito mais que abertos. Espertos. As possibilidades são brincalhonas e gostam de se disfarçar de toda forma, até feito um quebra-cabeça. Complicado. Fique atenta. Discorde quando sentir vontade. Concorde se puder. Acorde a hora que quiser. Ninguém tem nada com isso. Insista, ou desista se achar que já deu. Admita suas tristezas. Não mascare sua alegria. Aproveite bem mais o dia. E sorria. Muito, sempre e mesmo que esteja difícil. Ele é um antídoto. Natural. Persista no sorriso. Não espere nada nem coisa nenhuma de ninguém, mas sonhe todos os sonhos que desejar. Viva um minuto por vez e respire. Profundamente. Ar é vida. Você ficaria surpresa em se ver respirando quando está tensa… Expire. Aspire. Lentamente. Carinhosamente.Tenha sede de vida. E beba toda água que puder. Água purifica. Ame a vida e divida seu calor. Abrace, beije, toque. Chegue mais perto. Seja um ser abraçador. Construa felicidades pequenas, e não duvide de nada. Tudo é possível. Ou não… Tanto faz, corra atrás. Se valer a pena.
E então, quando vier o cair da tarde e o sol resolver se pôr, agradeça uma, duas, muitas vezes por todo seu calor. Agradeça ao sol, a tudo e a todos, e finalmente durma tranquilo, você deu ao amor, abrigo, você foi sol e calor! Durma tranquilo, amanhã é outro dia e o sol sempre volta á brilhar. É só abrir bem as janelas, e deixar ele entrar!
Acorda!
Vai tirar das retinas as marcas de um dia dormido, vivido, gasto.
Abre a tua janela, deixa a poeira sair, renove o ar.
Sacode esse cobertor puído, dobra e põe no lugar.
Ajeita essa cama, estende o lençol. Deixa tudo arrumado porque a qualquer momento pode chegar alguém.
Levanta dessa cama que acolhe a tua felicidade, a tua febre, a tua insônia e a tua consciência, espantando a preguiça da vida com a tua vontade de recomeçar haja o que houver.
Veste aquele teu sonho bonito, que nasceu aí, numa dessas noites, e vai ver outras coisas e pessoas para nutrir a tua esperança.
Teus olhos não podem se acostumar à penumbra, então, destrava os trincos da porta, deixa vir, deixa entrar a energia renovadora do dia.
Repara nos raios de sol que invadem teu espaço com várias cores e até nas partículas de pó que se movimentam em direção à luz. Faz desse espetáculo miscroscópico que toma conta da menina dos teus olhos a tua oração de agradecimento e renova a tua fé no quer que seja.
Levanta e sai de casa. Sai de dentro de você. Sai das situações que te consomem, dos lugares que não te fazem bem, da vida de quem já não é o bastante para você.
Você tem que sair para chegar em algum lugar. Onde você quer ir? Acorda, levanta e vai.
E mais uma vez, eu abri uma página sua de uma rede social e fiquei olhando sua foto. Como eu já sorri olhando praquilo, você não tem idéia. Mas das ultimas vezes, infelizmente não era sorrindo que eu olhava, era com desanimo, com saudade e mágoa misturadas. Porque você tinha que morrer? Porque você tinha que matar tudo que eu sentia? Me obrigar a morrer também. Me obrigar a fingir estar viva pra todo mundo. Me obrigar a não chorar, quando tive vontade de chorar. Vontade de te esmurrar, te dizer que você é um idiota, um babaca, um cretino, um fraco, nunca passou disso. Nunca uma piada sua foi engraçada, nunca você me surpreendeu. Nunca. Mas eu não consigo deixar de pensar em você, a cada dia, a cada ato meu. E quando eu procuro outras pessoas, eu procuro imaginando você me vendo. E tendo ódio de mim. Porque eu quero que sinta ódio. Porque ódio significa alguma coisa, e é melhor que indiferença. Você que já foi tudo, já foi minha esperança, foi meu futuro imaginado, hoje não é nada. Não passa de uma foto numa rede social. Se eu vivo bem sem você, porque eu continuo te olhando? Porque eu sempre volto aqui? Porque eu ouço musicas que falam de tristeza? Por quê? Você não vale isso. Mas eu faço. Eu continuo fazendo. Como uma cerimônia de luto, eu sigo a risca. Mas acontece que você não morreu de verdade, do jeito que eu preferia que morresse. Você está ai vivo, vivendo sua vida, fazendo suas coisas, feliz, tranqüilo, sem sentir minha falta, sem olhar minha foto em rede social. Porque eu não consigo? Porque você não podia ser alguém? Eu esperei muito de você? Não. Eu não esperei nada, eu entendi tudo, eu entendia o que ninguém entenderia. Eu respeitei. Eu fiz como você quis. Tudo. Eu me anulei. Eu deixei de me amar, pra todo meu amor ser só seu. Eu voltei atrás. Eu chorei, eu pedi desculpas, eu agüentei besteiras. Agüentei tudo. Ajuntando do chão, migalhas do seu carinho, migalhas do seu amor. Do seu jeito explosivo e calmo. Um dia me amando como se a terra fosse acabar depois da meia noite. No outro dia um desconhecido me pedindo pra tratá-lo como qualquer um, por favor. Você é meu personagem favorito. O dono de todos os meus textos, de todas as minhas histórias. O dono da curvinha das minhas costas. E eu tenho que dizer isso agora, só pra uma foto numa rede social. Porque você morreu na minha vida. Você pediu demissão, seu cargo era o de presidente, era membro honorário do conselho, tinha tapete vermelho e eu me vestiria até de secretária se te agradasse. E você pediu demissão, sem aviso prévio nem nada. Me diz agora? Como viver bem? Como sobreviver, sem essa ponta de angustia? Eu sou feliz, cara. Eu sou feliz demais. Mas eu sou infeliz demais, quando penso em você. Quando penso no que poderia ser, no que poderia ter sido. Eu sei que não dá. Eu nem quero que dê. Não quero mais. Mas não sei o que fazer com esse nó. Vai passar né? Eu sei. Com o tempo eu não vou mais olhar sua foto, nem sofrer, nem pensar o quanto é infeliz tudo o que aconteceu. Tomara que passe logo. Porque a vontade de te ressuscitar as vezes, me domina.
Apenas seguir em frente. Primeiro, porque nenhum amor deve ser mendigado. Segundo, porque todo amor deve ser recíproco.
Eu te amo. Mesmo negando. Mesmo deixando você ir. Mesmo não te pedindo pra ficar. Mesmo não olhando mais nos teus olhos. Mesmo não ouvindo a tua voz. Mesmo não fazendo mais parte dos teus dias. Mesmo estando longe, eu te amo. E amo mesmo. Mesmo não sabendo amar.
Derradeiro
Um dia alguém me contou que quando era criança chorava
quando ouvia ou lia a palavra derradeiro.
Acolhi com ouvido de poesia. E sorri, dentro,
com ternura por essas singularidades lindas de cada um.
Mas sorri muito mais porque adulta,
diante de cada experiência derradeira que a vida desembrulha,
geralmente choro também.
Às vezes, à beça, por outros tantos instantes derradeiros.
Memória de choro é vasta.
Outro dia me pus a pensar que sou semelhante
às mulheres da literatura de Érico Veríssimo,
as mesmas que enquanto os homens ocupavam da guerra,
elas se ocupavam do tempo e do vento.
Eu não tenho muitas definições a meu respeito;
apenas respeito a dor de cada hora,
a esperança de cada momento.
E se isso me define, então sou a dor que sabe esperar.
(...) Enquanto houver vida, as possibilidades existirão.
Cada um se ocupa do que pode.
Eu ainda me ocupo das mesmas esperanças que
as Mulheres de Atenas(...)
Os filhos do lixo
"Gravei a tristeza, a resignação, a imagem das crianças minúsculas
e seminuas, contentes comendo lixo. Sentadas sobre o lixo.
Uma cuidando do irmãozinho menor, que escalava a montanha
de lixo. Criadas, como suas mães, acreditando que Deus queria isso"
Há quem diga que dou esperança; há quem proteste que sou pessimista. Eu digo que os maiores otimistas são aqueles que, apesar do que vivem ou observam, continuam apostando na vida, trabalhando, cultivando afetos e tendo projetos. Às vezes, porém, escrevo com dor. Como hoje.Acabo de assistir a uma reportagem sobre crianças do Brasil que vivem do lixo. Digamos que são o lixo deste país, e nós permitimos ou criamos isso. Eu mesma já vi com estes olhos gente morando junto de lixões, e crianças disputando com urubus pedaços de comida estragada para matar a fome.A reportagem era uma história de terror – mas verdadeira, nossa, deste país. Uma jovem de menos de 20 anos trazia numa carretinha feita de madeiras velhas seus três filhos, de 4, 2 e 1 ano. Chegavam ao lixão, e a maiorzinha, já treinada, saía a catar coisas úteis, sobretudo comida. Logo estavam os três comendo, e a mãe, indagada, explicou com simplicidade: "A gente tem de sobreviver, né?". O relato dessa quase adolescente e o de outras eram parecidos: todas com filhos pequenos, duas novamente grávidas e, como diziam, vivendo a sua sina – como sua mãe, e sua avó, antes delas. Uma chorou, dizendo que tinha estudado até a 8ª série, mas então precisou ajudar em casa e foi catar lixo, como outras mulheres da família. "Minha sina", repetiu, e olhou a filha que amamentava. "E essa aí?", perguntou a jornalista. "Essa aí, bom, depende, tomara que não, mas Deus é quem sabe. Se Ele quiser..."Os diálogos foram mais ou menos assim; repito de memória, não gravei. Mas gravei a tristeza, a resignação, a imagem das crianças minúsculas e seminuas, contentes comendo lixo. Sentadas sobre o lixo. Uma cuidando do irmãozinho menor, que escalava a montanha de lixo. Criadas, como suas mães, acreditando que Deus queria isso. Não sei como é possível alguém dizer que este país vai bem enquanto esses fatos, e outros semelhantes, acontecem. Pois, sendo na nossa pátria, não importa em que recanto for, tudo nos diz respeito, como nos dizem respeito a malandragem e a roubalheira, a mentira e a impunidade e o falso ufanismo. Ouvimos a toda hora que nunca o país esteve tão bem. Até que em algumas coisas, talvez muitas, melhoramos. Temos vacinas. Existem hospitais e ensino públicos – ainda que atrasados e ruins. Temos alguns benefícios, como aposentadoria – embora miserável –, e estabilidade econômica aparente. Andamos um pouco mais bem equipados do que 100 anos atrás.Mas quem somos, afinal? Que país somos, que gente nos tornamos, se vemos tudo isso e continuamos comendo, bebendo, trabalhando e estudando como se nem fosse conosco? Deve ser o nosso jeito de sobreviver – não comendo lixo concreto, mas engolindo esse lixo moral e fingindo que está tudo bem. Pois, se nos convencermos de que isso acontece no nosso meio, no nosso país, talvez na nossa cidade, e nos sentirmos parte disso, responsáveis por isso, o que se poderia fazer?Pelo menos, reclamar. Achar que nem tudo está maravilhoso. Procurar eleger pessoas de bem, interessadas, que cuidassem dos lixões, dos pobrezinhos, da saúde pública, dos leitos que faltam aos milhares, dos colégios desprovidos, de tudo isso que cansativa mas incansavelmente tantos de nós têm dito e escrito. Que pelo menos a gente saiba e, em vez de disfarçar, espalhe. Não para criar hostilidade e desordem, mas para mudar um pouquinho essa mentalidade. Nunca mais crianças brasileiras sendo filhas do lixo, nem mães dizendo que aquela é a sua sina, porque Deus quer assim.
Deus não quer assim. Os deuses não inventaram a indiferença, a crueldade, o mal causado pelo homem. Nem mandaram desviar o olhar para não ver o menino metendo avidamente na boca restos de um bolo mofado, talvez sua única refeição do dia. E, naquele instante, a câmera captou sua irmãzinha num grande sorriso inocente atrás de um par de óculos cor-de-rosa que acabara de encontrar: e assim se iluminou por um breve instante aquela imensa, trágica realidade.
Sou de barro
Não ache que você consegue me entender com meia hora de prosa.
Sou tal qual moringa d’água.
Simples à primeira vista, como uma boa cerâmica, mas quem me vê assim, só querendo matar a sede, só de passagem, não faz idéia da trajetória do meu barro, nem das tantas vezes que desejei mudar o meu destino.
Sou a contra-história, o anti-herói, estou além da superfície. Sou as mãos que me moldaram, as infindas voltas no torno em busca da forma ideal, a descoberta de que não existe forma ideal, sou os fragmentos indesejáveis que foram ficando pelo caminho, os que ainda carrego comigo, sou o que seca devagar, no tempo, o que desidrata, encolhe, retrai, sou o que finalmente amadurece, o menos quebrável, menos frágil. Sou a antítese, o que estatela, o que fragmenta, o contrário, o que acolhe, o que reserva...
Sou o som seco, o estampido, a percussão. Sou a música do Uirapuru, sou a orquestra de barro.
Sou exposta ao tempo, sou o ar que contenho, a água que conservo, o fogo que me endurece, a terra de onde vim...
Não ache que olhos que só têm sede vão me ganhar.
Sou de quem me decifra.
E não sou uma só.
Sou tantas....
COMPANHEIROS
quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho
e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados
deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros
mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça
por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
companheiros
Eu me busco tanto em tudo que fiz da palavra “encontro” o fim da minha estrada. E sigo caminhando a esmo com a obstinação dos que não têm destino certo, apenas a intuição de que chegarão nalgum lugar que não se chame “cansaço”.