Coleção pessoal de thamynf
A gente reclama muito da dependência, mas como é maravilhosa a dependência, confiar no outro, confiar no outro a ponto de não somente repartir a memória, mas repartir as fantasias. Confiar no outro a ponto de esquecer quem se foi assim que o outro esteja junto, é talvez chegar em casa e contar seu dia e só sentir que teve um dia quando a gente conta como foi. É como se o ouvido da outra pessoa fosse nossos olhos. Amar é uma confissão. Amar é justamente quando um sussurro funciona melhor que um grito. Amar é não ter vergonha de nossas dúvidas, é falar uma bobagem e ainda se sentir importante. É lavar louça e nunca estar sozinho. É arrumar a cama e nunca estar sozinho. É aquela vontade danada de andar de mãos dadas durante o dia e de pés dados durante a noite.
Amar você é descobrir que alguns mergulhos são desnecessários, que algumas coisas existem para se conhecer só na superfície, dispensando dicionários, porque elas são simplesmente aquela estrada rasa feita pra se caminhar por cima e a esmo.É eu saber teu colo e você a minha mão quente. É esse nosso afago relembrar a euforia das paixões adolescentes. É poder ouvir exatamente o que foi dito sem procurar uma mensagem oculta, uma palavra mágica dissolvida no contexto ou outros indícios. É respeitar tuas vontades, tua inconstância, tuas dificuldades. É saber que uma meia-verdade pode ser a verdade mais sincera de cada um..
Renunciar a algo que amamos muito e que desejamos com toda a força do coração é uma das decisões mais cruéis de se tomar que conheço. Porque a perda equivale a uma morte dupla: morrer para alguém e matar a pessoa na gente. É como se sobrasse por dentro apenas um casarão vazio com um jardim morto. E, de repente, tudo tão subitamente anoitecido sem previsões de dia novo. É um caminhar lento e arrastado numa espera sombria de que as horas passem e o tempo leve essa febre alta sem medicação possível. É preciso que haja tanta paciência e firmeza por dentro pra não entrar em desespero, que a sensação que se tem é de estar meio fora do ar, com tanto esforço. E até chorar fica difícil, teme-se que nunca mais o choro cesse.
Há muitas perdas quando se termina algo que não se queria ter terminado: muda-se a auto-imagem, alegrias ficam suspensas, sonhos desaparecem por um tempo e nenhuma cor na paisagem. O cotidiano fica obscurecido por aquela lacuna aberta no meio do que era a parte mais interessante dos dias.
Com o tempo, você analisa que abrir mão de algo muito importante, só se faz quando se tem um motivo maior que esse algo: seja um propósito, uma crença, um valor íntimo, uma obstinação qualquer que te oriente para essa escolha que já se sabia tão dolorosa. É um sacrifico voluntário por algo mais pleno, mais grandioso em Beleza. E, nestas análises, você descobre outras perdas que são positivas: perde-se também a ansiedade, a insegurança e a ilusão. E você aprende a recomeçar agradecendo por vitórias tão pequenininhas...
Como quando é noite e antes de dormir você se enche de gratidão:
“Deus, obrigada, porque é noite e eu tenho o sono... Que venha um sonho novo, então.”
Quando me encontrei comigo, eu estava de passagem. Gostei tanto de quem conheci que resolvi andar junto, lado a lado, dentro.Eu introjetei em mim aquela pessoa que, finalmente, não estava mais vivendo levianamente, mas participando verdadeiramente da realidade. Foi estando muito lúcida que pude me embriagar de arte e deixar minha imaginação inventar os caminhos que ela trilharia. Conheci paisagens, às vezes, muito familiares, mas o meu olhar era inédito.
Não sou mais imediatista quando me faço companhia, pois essa nova pessoa respeita o seu próprio tempo.Por isso, também é preciso evitar alguns lugares, pessoas, antigos hábitos e pensamentos. O passado só me cabe para servir como base para o que tenho me tornado. Cada dia eu amanheço numa página em branco e vou dormir numa outra cheia de coisas que escrevi e vivenciei. A única garantia é que nem sempre encontro o que procuro, mas sempre busco o estado e o lugar mais confortáveis para mim. Eu mereço experienciar esta fascinação pela vida e a liberdade de ser exuberante e transformar o chão em céu, o mar em útero, meu corpo em Templo. Respeito os que vivem de outro modo, porque meu caminho não é o certo nem o único, é o que eu escolhi para mim quando lancei mão do meu livre arbítrio.
E nasci apaixonada pelo amor, mas só agora, me fazendo companhia, é que ele deixou de ser uma palavra para se tornar uma experiência.
Sou muito grata por estar na esquina aonde eu estava passando e por ter me dado a mão. Caminhamos juntas: eu comigo mesma!
Cansei de ser gente. Dá muito trabalho marcar presença. Juntar passado, presente e futuro e misturar limão e açúcar. Seria mais fácil se a gente dissesse o que quer, como, de que jeito. Mas não. Gente nunca faz isso. Gente como eu espera que o outro saiba-descubra-perceba. Gente como você quer se sentir especial. Por que a gente quer a todo instante saber que é importante? Cansei de ser gente. Sinto que os dias passam, a pele envelhece, o coração acumula aprendizado, os pés ficam exaustos no final do dia, a vida não para de caminhar para aquele lado. No meio disso, eu. Me perdendo, achando, sobrevivendo. Porque em alguns dias a gente só sobrevive. E eu cansei de ser gente.
Milagre é quando tudo conspira contra, mas Deus vem de mansinho e com um sopro leve muda o rumo dos ventos. Milagre é quando o incerto nos abraça depois de nos atingir cruelmente com sua fúria. É quando respirar vira quase um suspiro de alívio e a vida devolve o sorriso como forma de retribuição por todo sofrimento. É o instante teimoso que resiste bravamente a um duro percurso e mantém-se em pé amparado pela força divina. É a decisão que escapa de nossas mãos, mas que antes de cair agarra-se com toda força a uma segunda chance. Milagre é o improvável gesto de carinho que impulsiona o ser humano a não deixar de acreditar.
ho que posso dizer que é amor, sim. Mesmo que a gente tenha se perdido para que eu pudesse encontrar a mim mesma. Mesmo que a gente tenha se perdido para que você pudesse buscar a si mesmo. É amor porque eu te guardo na lembrança bonita do meu crescimento, da descoberta do que era a co-dependência ou da fusão que subtrai. É amor, porque cantamos juntos, dançamos juntos, choramos juntos, fizemos amor intensamente, trocamos profundamente as angústias da alma, torcemos um pelo outro, nos ajudamos, viajamos juntos, gargalhamos desarvoradamente, dormimos juntos no melhor abraço um do outro, descobrimos novas músicas, sinônimos, livros, enlouquecemos lindamente, brigamos muito, fizemos as pazes várias vezes e fomos embora um do outro quando nada mais era poesia. Não foi triste, mas doeu profundamente.Uma dor resignada porque eu podia ver com clareza que já não nos acrescentávamos nada. E aprendi a trabalhar o desapego e o perdão. E hoje, quando vejo você sorrir, eu sinto que estamos bem e que fizemos a coisa certa. E o amor só pode ser isto: querer que o Outro encontre a felicidade a qualquer custo, mesmo que isso exclua você da plenitude dele. Mesmo que isto exclua o Outro da sua plenitude.
O mínimo que espero de qualquer pessoa é respeito.
Não precisa cair de amores por mim, não precisa me achar o máximo, inteligente e nem bonita, não vou ficar chateada não mesmo.
Mas sabe o que não passa pela minha garganta? Falta de caráter.
Não passa hoje e nem vai passar nunca.
O mínimo que espero de qualquer um, em qualquer patamar de relacionamento é respeito, e se você não é capaz de oferecer nem isso, esse é o motivo de ser imediamente eliminado de qualquer existência na minha vida.
Negue-se a participar de coisas em que você não acredita ou simplesmente o aborrecem. Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas.Não troque sua paz por encenação.
Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa.
O tempo de uma fotografia
Não era nem ontem, e nós éramos um rostinho inocente posando para um retrato escolar. Olhinhos apertados, espertos, ávidos por ver a vida crescer. Crescemos nós. Já no mundo adulto, aquela foto da escola perdeu-se em alguma caixa parda que guarda fotografias do tempo em que elas eram reveladas. Eram aguardadas no suspense de seu conteúdo. Havia prazer em esperar. Fala-se disso:
_ As fotos ficaram boas? _ Vem aqui em casa pra ver!. Diálogos dos século passado.O mundo adulto, hoje, é cheio de pressa. Nem bem viveu-se algo, e esse algo já foi postado em alguma rede. Desfruta de uns segundos de visibilidade, para depois perder-se, em memórias cibernéticas. Será que as crianças de hoje ainda tiram fotos do tipo grupinho escolar? Todas as carinhas reunidas, professora do lado, e um fotógrafo gorducho mandando fazer xis.Não há muito tempo para esperas e aguardos. Hoje, é tudo para hoje. Será que no meio de tanta aceleração, dá tempo de se perguntar onde estarão aqueles meninos e meninas do nosso retrato escolar? Caminhos que nos engolem enquanto tentamos acrescentar alguns minutos à mais nas nossas horas corridas, e lá se foram os nossos primeiros melhores amigos.
A que se presta esta nostalgia? Serventia prática, nenhuma! Pensamentos miúdos não se prestam. Eles prezam. Prezam alguma coisa de valor que vai se perdendo pra não se perder tempo, e que podia ‘não’.
Podia-se não perder contato com as pessoas queridas.Podia-se responder os e-mails com muito mais palavras.Podia-se telefonar ao invés de encurtar tudo por sms.Podia-se ganhar da preguiça e chamar amigos pra um jantarzinho.Podia-se ultrapassar o tédio e organizar uma viagem.Podia-se fazer mais visitas, pra se ver ao vivo e à cores.Podia-se escrever uma carta, pra lembrar da própria caligrafia.Podia-se largar mão de artificialidades e conversar com mais vontade.Podia-se deixar pra lá a vaidade, e expor os sentimentos com mais verdade.Podia-se deixar o orgulho de lado e procurar reacender os afetos congelados.Podia-se dar um tempo aos formalismos das relações, e sair por aí, abraçando os outros,beijando os outros, olhando nos olhos dos outros…
Podia-se redescobrir aquele amigo, daquele tempo, e surpreender…
Em meio à tantas metas e prazos, a gente sabe que é na companhia do outro, na intenção e na atenção dedicados à amizade e ao encontro que a vida faz sentido. Sem perder tempo com as miudezas que importam, perdemo-nos todos. Perdidos e acelerados, periga que um dia, a gente não se ache mais.
‘Ultimamente têm passado muitos anos.’
O LAÇO E O ABRAÇO
Meu Deus! Como é engraçado!
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o
laço. É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de
braço. É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido,
em qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando...
devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade.
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço
afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum
pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!
"Cada fase de mim é como perder o chip do celular e ter que refazer toda a agenda telefônica, aproveitando pra deixar alguns números de fora que você já sabia que nunca ia ligar mas não tinha coragem de apagar. É como reformatar o computador antes de fazer backup e deixar pra trás as fotos do ex que insistia em manter entre documentos e textos. É andar dois passos, voltar meio, sofrer um pouquinho por ser apegada ao antigo e ao mesmo tempo desesperada pelo novo."
Relações que desafiam o tempo só podem ser construídas com amor. Para ficar bonito, grande e forte, é preciso doçura, paciência, caprichar daqui, consertar dali, plantar, regar, deixar pra trás o que não prestou. Não é ser feliz o tempo todo, não é esperar do outro mais do que ele pode dar, mas saber do que o coração de cada um pode oferecer. É respeitar o sonho do outro, porque sonho é coisa delicada. Não acredito em amor incondicional, mas naquele verdadeiro, que cede, respeita, entende, pacientemente espera, que vive. O que importa para cada um é a felicidade do outro. No cansaço, o conforto do colo. Nas diferenças, a tolerância. Nas vitórias, a cumplicidade do olhar. Na vida, companheiros.
A vida é feita de extremos, o resto é encontro.
Demorei muito para acreditar na mais louca e cruel verdade: quem gosta de você vai te tratar bem. Quem gosta de você se importa, quer o melhor, te procura, te liga, te dá satisfação. Quem gosta quer estar junto. Quem gosta demonstra. Quem gosta faz planos. Quem gosta apresenta para a família e amigos. Quem gosta manda uma mensagem bobinha só pra dizer que ama. Quem gosta carrega uma foto sua pra ver quando dá saudade. Quem gosta abraça na hora de dormir. Quem gosta dá um beijo de boa noite e de bom dia. Quem gosta aguenta suas reclamações, sua cólica infernal, suas manhas e manias.
Me desculpa, mas não existe medo que seja maior que um sentimento. Não existe timidez que seja mais forte que uma declaração de amor. Não existe distância que deixe uma relação morrer se as duas pessoas querem ficar coladinhas. Não existe estou-dividido-entre-ela-e-você.
Quem gosta pode se perder, mas sempre vai saber pra onde quer voltar.
Hoje eu não sinto mais saudade de você. Não estou dizendo essas palavras para te atingir, me vingar ou fingir que não estou mais nem aí. Só não sinto mais saudade de você. Antes aquela saudade me consumia, fazia meus olhos encherem de lágrimas, fazia meu coração tremer. Hoje tudo isso passou. Procuro no passado o que me fez te querer tanto. Não acho (...) O encanto acabou, a magia se partiu, tudo ficou bem terminado aqui dentro. Isso antes me entristecia, hoje me deixa com olhar de paisagem. Não sinto nada. Nem seu cheiro sinto mais. Antes, fechava os olhos e conseguia sentir seu perfume. Passou. Meu Deus, eu achei que nunca ia passar! Pensei que meu sofrimento jamais teria fim. Mas teve. Um fim bonito. Um fim que não deixa nem saudade.
- Garçom... que dose de mentira você tem?
- Temos: eu te amo, nunca vou te deixar, eu quero você comigo, sinto saudades e também temos uma que anda saindo bastante: 'pode confiar em mim', te ligo amanhã.
- Ah... Manda todas que hoje EU quero me iludir!
"Um dos piores tipos de saudade, é conviver com uma pessoa e sentir saudades de como ela já foi um dia."
A gente tem o direito de deixar o barco correr! As coisas se arranjam, não é preciso empurrar com tanta força.
Que Deus me proteja de gente má, cruel, invejosa. Mas, principalmente, de gente sem graça, sem sal, sem veneno, sem beleza e sem loucura.