Coleção pessoal de thalitabeatriz
Objeto
de meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo
seja estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza
faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
SEJA
Aqui
nesta pedra
alguém sentou
olhando o mar
o mar
não parou
para ser olhado
foi mar
para tudo quanto é lado
Enchantagem
de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo
esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima
de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito
pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito
que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar
tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade
o pau na vida
o vinagre
vinho suave
pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade
Lápide 1
Epitáfio para o corpo
Aqui jaz um grande poeta.
Nada deixou escrito.
Este silêncio, acredito,
são suas obras completas.
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
Aproveite agora que você é jovem para sofrer o mais que puder – lhe dizia – que estas coisas não duram toda a vida.
"Aproveite pra sofrer de amor na juventude que na velhice o sofrimento é de bursite, reumatismo e hemorroida..."
A primeira taça de vinho é por sede. A segunda, por alegria.
A terceira, por prazer. A quarta, por loucura.
Não por orgulho meu, mas antes por me faltar o raso de paciência, acho q sempre desgostei de criaturas que com pouco e fácil se contentam.
Somos céus atravessados por nuvens de energias vindas da profundidade dos tempos. Quanto mais acreditamos que somos alguém, mais somos ninguém. Quanto mais sabemos que não somos ninguém, mais nos tornamos alguém.
Uma coisa é sentar aqui pondo as palavras num papel e passando, pelo menos, cinquenta pensamentos para cada palavra - portanto de que vale mandá-la se não posso mandar os pensamentos - um em cinquenta - tão diluídos...
(Roteiro para um passeio ao inferno)
O que tem de ser, tem muita força. Ninguém precisa se assustar com a distância, os afastamentos que acontecem. Tudo volta! E voltam mais bonitas, mais maduras, voltam quando tem de voltar, voltam quando é pra ser. Acontece que entre o ainda-não-é-hora e nossa-hora-chegou, muita gente se perde. Não se perca, viu?
Eu gosto de carinho violento. De falar. De estar certa.
De quem entende o que eu digo. De quem escuta o que eu penso.
Da minha prole. Dos meus discos. Dos meus livros.
Dos meus cachorros. Dos Stones. Do Rock Natural.
Da minha solidãozinha. Dos meus blues. Do meu sofá vermelho.
Da minha casa. Do meu umbigo. De unhas cor de carmim.
De homem que sabe ser homem. De noites em claro e dias em branco. De chuva e de sol.
Eu guardo as minhas rejeições em vidrinhos rotulados com o nome deles.
Eu sou mole demais por dentro para deixar todo mundo ver.
Eu deixo para quem eu acho que pode comigo.
Ninguém sabe.
Mas eu tenho coração de moça.
Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis.
Meu coração tá ferido de amar errado.
Acho espantoso viver, acumular memórias, afetos.
É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado.
Tô exausto de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém.
Quem diria que viver ia dar nisso?
Mas sempre me pergunto por que, raios, a gente tem que partir. Voltar, depois, quase impossível.
Loucura, eu penso, é sempre um extremo de lucidez. Um limite insuportável.
Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra.
A gente se apertou um contra o outro. A gente queria ficar apertado assim porque nos completávamos desse jeito, o corpo de um sendo a metade perdida do corpo do outro.