Coleção pessoal de teretavares22

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⁠Não há como distanciar-se do caos que nos incita à criatividade.
Ludibriemos a máquina, a impostura do algoritmo. Sejamos a nossa própria Arquitetura.

⁠Desabrochar é um vício necessário. Do espírito.

⁠Esses nódulos espalhados pelo corpo, das palmas das mãos à planta dos pés, esses que com o mínimo pronunciamento reavivam-se, recidivos, são todos os nãos que deixaram e deixam de serem ditos. São esses nódulos que, irremediável e invisivelmente, nos curam. Só quando atravessamos o negrume estamos prontos para abraçar a claridade. O tempo humano não é o mesmo de Deus.

⁠Literatura é, sobretudo, encontro.

⁠É na rotina que se obtém o atestado da dedicação pura.

⁠A cada avanço há probabilidades de vacilar vencer ou sucumbir. Ter segurança em si mesmo significa saber disso e, mesmo assim, continuar o percurso ainda que com velhos chinelos.

⁠São os riscos e as emboscadas que aguçam os sentidos.
Goza o instante. Porque nada volta nem retorna.

⁠Vinha. Aprecias o meu talhe? Segue a linha das pestanas. Repousa tua notabilidade na fronte. Surge em minha íris. Mancha-me os cílios e as sobrancelhas com teu enobrecido sossego. Deixa-me a centelha desse léxico inespecífico que novamente me cora e quase me descolore. Estende sobre a uva que pende ao lado o abraço vigoroso dos vinhedos o negrume inigualável dos meus cabelos longos e lânguidos e lúbricos. Faz-me ser o líquido alinhavado nessas quase folhas de ti – nenhum. Esconde e acarinha o furor desse espécime único faz-me debrum – porque só tu me sabes à distância da luz.Diário dos inícios.

⁠Talvez tenha que rasgar a pele, para que lhe surjam as asas, para que haja uma revelação do que se escondeu no exterior das pedras e, só então, decodificar as nervuras, o olhar duro das magnólias, por não desconhecer as feridas geradas pelo aprendizado. E entender. Porque é preciso saber do solo antes de alcançar a amplidão absoluta do céu.

⁠Por vezes ocorre de algo nascer inconscientemente.
Mas nunca sem consequência.

⁠A fome costuma não ter nome. Ninguém a percebe, exceto quem a sente.

⁠Sobreviver e viver sobre
Sou ao meu modo de quase todas as maneiras.
Talvez me falte sentir o quanto de mim perco nesses instantes,
Nesse jardim excessivo que me vigia,
Vestindo-me de ventos e formas imaginárias.

Sou o pé que não pisou a nitidez da escarpa,
Que dançou com todas as coisas que não tive,
Com cada seixo perdido nos extremos indivisos.
Cada viagem é um retorno, um extremo flamejante,
Como se fosse possível possuir uma fração do universo
E, essa fração, fosse a totalidade infinita.

Meu espírito sente que não há solidão nem término
Nesse pequeno abismo disposto em degraus, em espirais,
Onde as criaturas todas clamam pelo mesmo Deus,
Distante da matéria, próximo do mistério,
Do grandioso silêncio que surge sereno e solitário,
E vem ensopar de sulcos
As migalhas espalhadas nas florações.

Sei que nada possuo para aproximar-me
Do invisível, do sucessivo embaraço onde não me encontro.

O manto despido dos vales e montes murmura:
Ainda há pedras à tua frente
E tumulto no mundo submisso, vago e diverso
Como um rio anterior às chuvas,
Quase exausto de tanto ser rio.
[Cada ser é uma escultura filarmônica e simbólica].

No meu peito uma lívida linguagem soluça,
Um cantar sinuoso suspende-me as pálpebras dormentes,
Como um ciclone simultâneo.
Durmo e já não vejo como me via.
Adentro no que é tudo,
Na mínima festa que passa dentro das noites melancólicas.

As cascatas ocluem o choro das rochas,
As tessituras feitas de teias abandonam o limbo,
Para além das urgentes estrelas que não alcanço
E me vivem, e me sustentam quase metaforicamente, me circundam.

Sou as vegetações em desequilíbrio,
As veladuras,
O vazio aquecido e dúctil,
A fosforescência,
A muda eternidade.

Sou uma alma que transborda pela arca dos signos
E não mais sustenta a visão que me subverte e me corrompe
Nem me sabe antes que, como um novo e absoluto nascimento,
Louca, intensa e imperfeitamente, eu a saiba – igual a mim.

⁠A verdadeira beleza é inocente e não sabe confundir-se.

⁠Há quem de si tenha saudade, aquela de ter sido.
Seguindo-se nos entretantos.

A solidão como lenda na soma natural que vem a ser o existir. São tantos os nasceres. Em todos os sentidos e nos sentidos todos há profundidade ou filosofia além de uma insanidade não diagnosticável.⁠

⁠Só para os insanos,
Para os singulares
Que não temem o escuro,
O salto é sempre sereno e seguro

⁠Se te dissesse que posso nascer entre as pedras. Não. Se imaginasses que depois de aprofundar as raízes entre as pedras eu floresço. Sim. Moro no inabitável.

⁠Dos vinhos eu só almejo a embriagante madurez.

⁠A arte é a única fuga que não afugenta.

⁠Laços imaginário se alinham na trama das asas. Os hábitos rompidos. Migrações.