Coleção pessoal de suzanneleal
De todas as formas de vida
eu queria ser cada uma delas
pintar suas feições
escolher suas cores
e sentir cada toque em meu rosto.
Meu coração faz planos indiretos de bater calorosamente e alimentar-se de encontros. Constrói segredos e se acalenta em cada traço tecido. Ele não tem garantias. Atrás do pensamento, ele sente que só pode desejar. A verdade é que ele sempre esteve só em silêncio. Mas acredita que um dia será a sua vez de escorregar pela pele e respirar o ar livre trazido pelo balanço das árvores.
A eternidade me assusta, o passar do tempo também. Sempre me pego a espreita, de vigia nos ponteiros do relógio. É um tic tac de aflição, ele gira, sem parar. Mesmo que eu tire suas energias, ele passa, ele passa, só porque tem que passar, e esta é sua única função. No mesmo passo, ele vai, sem voltar, sem olhar pra trás, incansável, destemido. Pensando bem, eu gostaria de ter um pouco de ponteiro de relógio.
Cada descoberta vem porque é preciso descobrir. Porque é o instante que precisa, que está preparado para se envolver com mais mistérios.
Eu sou dualidade. Eu vivo uma dualidade. Dois furacões brigam em mim. Uma é pacata e às vezes até um pouco amarga. A outra é viva, é feroz, têm ânsia por revirar rios e florestas. Meu ser tem dois nomes. E eles brigam intensamente. E quem disse que paciência e compreensão são as melhores virtudes? Minha dualidade discorda plenamente.
Era pra ter sido degrau por degrau. Mas num deslumbramento das coisas eu me atropelei e desci escada abaixo.
Dizem que o inconstante é um ‘estado’, mas pra mim inconstante é ‘ser’. Minha vida se resume em cada segundo na sua inconstância. Um eterno estado de ser. Chuvas de mais, sóis de menos.
Hoje abri os olhos e senti dor. Dor de ver, dor de sentir. Não sei se quando se acorda é tarde demais ou quando se dorme é tempo não vivido. Só sei que me perco nesse meio tempo entre o acordar e o viver, procurando saídas por este labirinto dolente.
Quando alguém te aponta o dedo é porque sente tanta vergonha que precisa desviar a atenção para não encarar o monstro em si mesmo.
Vivo procurando o sabor das cores e a alma das essências. Tentando ver um caminho em cada objeto sem vida.