Coleção pessoal de SoulMoon
Divago por esta sala imensa, onde o espaço vazio propaga os ecos e as memórias são fios de luz que iluminam o meu pensamento.
Passo a passo construo o percurso de uma vida, sabendo que as pegadas são as recordações que ficam da minha passagem por aqui.
Mãe Natureza
A neblina afaga os cumes das montanhas com o seu gélido hálito, a chuva precipita-se dos céus sobre a terra sedenta, a floresta recebe esta dádiva, absorvendo cada gota que cai no seu âmago enquanto o vento agita as suas copas, é um bailado, em que o ciclo da vida se envolve numa dança intima entre os elementos. Não haverá Primavera sem um Inverno, não haverá flor sem que a planta mate a sede que o Verão quente lhe infringiu, Esta cadeia de acontecimentos é controlada pelo equilibro da Mãe Natureza, que em toda a sua imensidão nos oferece em cada estação a beleza destes momentos.
Gosto de ficar sentado, sempre que sinto o astro molhado, a ver a chuva cair, é como alento, como ter a certeza que uma Primavera está porvir.
É nesta cumplicidade entre as minhas palavras e os teus sentidos que se criam mundos, personagens e fantasias!
Fecha os olhos, estende as tuas mãos, segura as minhas e deixa que te leve nesta viagem por entre as sombras de um olhar. Deixa que te pinte um cenário de encantar, repleto de cores, de fantasias e tantos outros sabores. Vem, não tenhas medo de tropeçar, é nas minhas mãos que vais por este mundo navegar. Deixa-me guiar o teu espírito pelos labirintos do jardim, sabendo que a tua alma agora habita em mim. Anda, caminha a meu lado, deixa teu braço no meu enlaçado, permite ao Sol que acabo de inventar, tua pele bronzear. Solta as tuas asas, vem junto a mim pairar, sentir como a brisa teu corpo faz voar, abraça o vento, deixando que o vazio se preencha do fôlego do teu sonhar.
Neste magnifico lugar onde tudo podemos encontrar, sentimos o apelo de um beijo que em nossos lábios vem selar e na voz vem conjugar todos os tempos do verbo amar.
Passo a passo percorremos o destino, seguimos o caminho, nesta viagem não vamos sozinhos, caminham connosco os sentidos.
Hoje diria que me chove pelo corpo, que a água se faz rio em braços de lamentos, que a alma é uma inundação de espaços ocos e vazios. Hoje, o dia percorre-me a pele com o vento gélido do norte, com a neve branca que me deixa pálido, congelado as lágrimas em prantos. Nos momentos de solidão, em que não encontro os caminhos para sair deste labirinto, guardo-me, fecho-me na minha caixa, resguardo-me dos nadas que passam em velocidades vertiginosas à porta de minha morada. Depois sinto o calor de uma singela vela, que com seu frágil calor aos poucos derrete todo o gelo que me consome. Nesta trémula luz, é teu rosto que se projecta no branco cristalino das paredes desta caverna, onde apenas os vultos são memórias do reflexo da luz do dia. No róseo tom da tua pele, vejo as sombras dos meus dedos que contornam a tua silhueta, segurando-se ao calor eterno do teu amor. Aos poucos, neste abraço apertado, recebo a vida em sopros de beijos que os teus lábios vão depositando no meu corpo moribundo.
Por vezes é preciso parar para perceber como chegamos aqui, como podemos seguir, há um tempo para andar e outro para ficar quieto.
Nos instantes em que não sei para onde ir, deixo-me ficar no meio das palavras, elas sabem o que quero dizer.
Há silêncios
Gostava de saber do tempo, do momento em que fico, em que me sento para não partir nunca mais. Queria saber do vento, daquele instante em que me leva como balão de ar quente, por entre os céus de todo o mundo. Saberia de ti em qualquer lugar, como se fosses um pensamento meu, como se fosse um intimo pedaço teu. Quero sentir a brisa do mar, o som do entardecer, quando o Sol se vem deitar contigo, em meus braços, no meu porto de abrigo. Há silêncios que dizem tanto, que não precisamos contar as palavras que escrevemos para nos olharmos e dizermos, "-Amo!".
Há sítios onde gostamos de estar, como se fossem um mágico lugar onde as almas se sentam num prado verdejante, são memórias de um tempo distante, onde fomos Primavera e Verão, num só coração. Adormecemos com a Noite, envoltos na névoa que nos cobre, na magia que a nós nos devolve tudo aquilo de que somos feitos. Há tempo, para saborear este momento em que os lábios colados são desejos já sonhados que nos cobrem.
Abraça-me, envolve-me o corpo que eu seguro-te a alma.
Lá fora a chuva resvala na vidraça, aqui, dentro da alma, o silêncio impera, a semente espera pela calma dos dias.
Apesar de ser apenas as letras que te escrevo, nunca deixes de ler os meus sentidos, guarda-me nos detalhes do teu íntimo.
Não entendo como de olhos fechados ainda te persigo, como sem te encontrar, ainda te sinto, como sem nunca te olhar ainda te vejo. Como explico a fúria que comprime os sentidos e expande as vontades nesta busca louca onde sei que não te vou encontrar. Não vale, não vale mais a pena percorrer mil caminhos, pois sei de ante-mão que já não estás. Os dedos cravam-se na casca das árvores, querem teu corpo escalar, o teu cimo alcançar para poder olhar o horizonte que teima em se ocultar detrás das copas da floresta. Não adianta correr, saltar, para tentar ao Olimpo chegar, pois o caminho é de pedras e as noites longas são escuras como breu, o frio aperta e a pele dilacera-se nas bainhas destas espadas que carrego. Não vale a pena guerrear, combater, perante ti me ajoelhar porque não me vês, o teu olhar fixa-se no mais distante ponto do Universo, estás imerso num qualquer lago morno, o frio não te corta os sentidos, não te esmaga a carne, não te arrebenta o destino, porque já chegaste, e nunca por mim esperaste.
Insónia
A madrugada acorda-me constantemente, parece que me chama, parece gente. Não durmo, apenas descanso o olhar, a mente, que dormente se levanta para caminhar com o corpo pela casa. Não sei porque o sono foge, porque a noite grita e a alvorada se antecipa num véu em agitação. Os olhos aberto no escuro, percorrem corredores e espaços vazios, não sei o que procuro, não sei por que deambulo no vazio da noite. Escuto uma voz que se propaga na neblina, o eco de um trovão que trespassa o céu, a vontade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, a incapacidade de mover-me do mesmo sítio. Sabes, acho que me chamas nos teus sonhos, que escuto o grito do teu alento, que me banha como água gélida na madrugada fria deste inverno. Pese embora o silêncio, escuto perfeitamente os ecos que me levantas, os ventos que me aportas, as vontades que me reclamas. Volto para a cama, adormeço até que amanhã me levante.