Coleção pessoal de siomarareisteixeira
JARDIM DO AMOR
De atos murchos, hoje estou cansada
esquivo nos carinhos que preciso
veste roupagens de homem indeciso
pareço então, terra seca e maltratada
A flor p’ra florir, precisa ser regada
cansei do teu jeito vago e impreciso
na mesma hora que oferece o paraíso
terra árida, já me fazendo descartada
não quero mais em ti estar atada
ou da tua casca de passado ressequido
tentar quebrar p’ra outra vez ser rejeitada
mas, queria mesmo era arar a tua estrada
trocando gotas de amor lindo e irrestrito
saberias então, que enfim, fui conquistada
HOMEM MENINO
No homem que se diz menino
Um gentil cavalheiro, herdeiro da paz
Inebriada, deixo as dores lá atrás
Colorida surpresa, um real desatino
Uni [verso] de [in] versos, descortino
Da mansidão doce, que envolve tenaz
A lírica ternura do canto, audaz
Incita desejos, com olhar de felino
Exposta em resposta, a tudo imagino
Urgente meu corpo, suplica mordaz
Atiça e provoca; vem ser inquilino
Pertinaz, me mostra teu ser libertino
O prazer delirante em apetite voraz
Esqueça a candura, te quero ferino
CONSAGRAÇÃO
Eu poderia morrer neste momento
Levaria comigo a intensa luz do teu olhar
E os mais belos versos que me fazem te amar
Quão belo e imenso é teu encantamento
Eu poderia morrer neste momento
Em que os teus sonhos estão soltos pelo ar
Que teus lábios desejam meus lábios beijar
Quão lindo e denso é este arrebatamento
Eu poderia morrer neste momento
Aonde em meus sonhos vem me abraçar
Quão nobre e intenso é este movimento
Eu poderia morrer neste momento
Mas quero viver sem nada indagar
Quão elevado e sagrado é este sentimento
[RE] ESCRITO
Hei, sabe o que acho esquisito?
A forma que usa p’ra atrair minh’atenção
Perspicaz, instiga meus versos em composição
P’ra logo depois, simular que não existo
O que faço então? Tristemente...Desisto!
Já vai longe o tempo em que entreguei emoção
A quem por mim, não tinha consideração
Sigo em frente, reticente; mas não insisto
Maldoso foi o causador de tudo isto
E maldito seja o dia da rejeição
No entanto, a fêmea, desacreditou do paraíso
A mulher cala e melancólica fala ao [in] finito
Anseia carinhos em ímãs, nas rimas do coração
Solitária, beija um doce poema a ser [re] escrito.
MEDO
De onde vêm tantos medos
Que não te permitem, amar?
São decepções do passado
Que bloqueiam teu despertar?
Sabores de amores forjados
São acres em teu paladar
Quantos blefes agora usados
Acusa p’ra se safar
Mordaz, vestido de ácido
Receia o íntimo revelar;
Teme por estar enredado?
Assimile, são tempos idos
Acredite, sem duvidar
Ame, pois faz sentido
SANTA ESQUIZOFRENIA
Pior, que a maldição da inconstância
Ou a peçonhenta língua que muito fala
É a incoerência da boca que sempre cala.
Tolo Poeta que então, mergulha em trevas
Que se corrói, que se autodestroi!
Fere-se em insanidade cruel.
Ah, excêntrica demência poética!
O surto arquitetado da impotência.
Surtados em si mesmos,
Descem aos submundos da razão.
Santa esquizofrenia revelada,
Extravasada através da composição.
Não importa quantas poesias
Em uma única hora do dia, são.
Uma após outra, escrevem ensandecidos
Em movimentos repletos de emoção.
Interiorizados, choram, blasfemam
É dor, é amor, é ódio, é rancor.
São poemas concisos,
Precisos e hábeis versos,
Casamento perfeito entre a fúria
E a sutileza lírica dos verbos.
COM O TEMPO
Com o tempo aprendi
A esconder meus sentimentos.
A usar da amargura que comove
E fazer dela a força que me move.
Com o tempo aprendi
A ser mais de uma.
A calar mesmo sem desejar.
A conviver com a solidão que oprime.
Com o tempo aprendi a dar tempo!
A fazer das agruras, alimento.
Com o tempo forjei a serenidade.
Conheci a tranqüilidade
E a paz em muitos momentos.
Com o tempo continuo a aprender
E assim, em um lento gestar,
Tento entender o que não pode ser
E a lutar pela alegria que comigo deve estar.
Tomo as dores das quais pereço
Como degraus do meu andar
E enquanto exemplos que bem conheço,
Lentamente o ser, engrandeço!
ABRIGO
Quero meu casulo quente e confortável
me esconder desta imensa multidão
passar despercebida com minh'alma instável
sem toque, sem beijos ou apertos de mão
Quero ponderar o que pode ser viável
conhecer os limites da inexatidão
discernir o falso do amigável
rechaçar qualquer amostra de compaixão
Quero aflorar um lado audaz e amável
perdoar, esquecer, assimilar emoção
fazer jus a denominação, adorável
Quero agora, apenas o vazio desta solidão
calar em mim mesma de forma inviolável
até que o silencio suscite respostas, a razão
NOITE
Apenas,
Noite...
E a lua cheia,
Vagueia...
A espreitar
Serena,
No altar
Majestosa
A olhar
Suntuosa
O amarrar,
Da prosa...
DESLEALDADE
Quando relembrar o quanto me doei
Pense na profundidade da deslealdade
Lembre de todas as palavras que falei
Que o preço da bondade, agora é, realidade
Quando lembrar o quanto me entreguei
Da bola que aos teus pés, rolava em suavidade
Saiba que muito, muito me esforcei
Para ignorar e relevar, tamanha crueldade
Pegue todas as lembranças, como já peguei
Sem esquecer da ação, a gravidade
Enterrando tudo, como eu, já enterrei
Termino logo o rasgo, uso a sanidade
Já que nunca respeitou os sonhos que sonhei
Verto breve, o desamor, gratuito da maldade
ESPELHOS
Se me vejo em você e a recíproca é verdadeira
Nem quero saber se do espelho a moldura
É de plástico, metal ou madeira
Divina é toda a sua composição
Alucinante! Os budistas que me perdoem
O ego agradece e esquece a tal aniquilação
Um convite constante a total embriaguez
E se for para me embriagar
Quero sorver letra por letra de toda sua inspiração
O PRAZER DE SONHAR
Tu és doce, és suave, és sereno,
Nada preciso explicar,
Meu lindo menino moreno...
Ah! Deixe-me por breve momento pensar
Que o tenho aqui, ao meu lado
E apaixonado estás, a me abraçar.
Peço-te, por favor, continues calado
E conceda-me o prazer de sonhar!
CORPO E PAIXÃO
Quem disse que é fácil não beijar tua boca
Arrancar nossas roupas e a tudo querer
Quem disse que é fácil a ti resistir
Saber que esta aqui e só te perder
Quem disse que é fácil arfar feito louca
Ficar sem o ar e teu corpo não ter
Quem disse que é fácil, a voz meio rouca
Sentidos atentos, fazendo doer
Quem disse que é fácil o amar por inteiro
Ainda que fossem só corpo e paixão
A lassidão dói, é tiro certeiro
Faz marcas profundas em qualquer emoção
PARA UM GRANDE POETA
Sempre que venho te ler e venho constantemente
Passo meio que silenciosa. Parca anda a minha prosa
Então calo... Nada falo! Nem te trago presentes
Eles seriam a menção ao exteriorizar
Que a leitura dos teus versos me deixa contente
Mas, não sei de onde me vem este desejo
De estar de mim mesma, sempre ausente
Então venho e fico e pé-ante-pé, sorvo cada letra
Absorvo teus poemas, as tuas rimas
Que estão muito acima de quase tudo que leio por aí
Exploro tuas letras e em minha mão a caneta gira sem parar
Sinto a tua alma borbulhando anseios em devaneios febris
Tua poesia me é imã, inspiração, âmago, emoção
E nas entrelinhas reconheço os teus sonhos juvenis
Poeta que encanta e que suplanta o modo de cada um
Como agora, em que vi ir embora o meu próprio estilo
Para em ovação estilizar unicamente, o teu próprio brilho.
(Poema Dedicado ao Poeta, Ricardo Borges)
APENAS A VIDA
Apenas a vida que descortina-se por inteiro
Na certeza de um amanhã iluminado
Arraigada a novos valores
Ao encanto do existir
Do compreender
E unicamente, viver!
PROFUNDO ARDOR
Doce mel, mel de jasmim
Homem, menino, ou anjo querubim?
Em pensamentos, em ti estou...
Em pensamentos, estás em mim!
Imaginamos sim, dedos perdidos,
percorrendo aflitos, enfim...
Nossos cabelos, caracóis de algodão.
Corpos sedentos, gemidos contidos
Desejamos sem fórmulas ou elaboração
Vagamente por tudo, é certo o temor!
Intensamente contudo, é profundo o ardor!
SUPRESAS
A vida.
Segredos...
Densa!
Colorida.
Intensa!
Caminho.
Preconiza...
Destino?
Sem
Hora
Marcada.
Surpresa!
Esperança
Traçada.
DIVAGUE
Meu Querido...
Quando fechar
Os teus lindos e negros olhos,
Pense em mim na certeza de que me tens.
Apenas interiorize em teu ser, minha lembrança.
Desenhe em teus pensamentos
O meu corpo, os meus cabelos.
Relembre nossos momentos...
E quando lembrar do meu olhar
Saibas que jamais
Deixei de em ti, pensar.
Divague e até mim venha...
Apenas divague a sonhar
E de nós, se embriague.