Coleção pessoal de siomarareisteixeira
A Farsante
Nada sou do que te pareço ser
Sou apenas a farsa projetada dos teus sonhos de mulher
Uma montagem infinda de letras e frases e versos e rimas.
Nada que eu possa antever
Tudo muito fácil de inventar ou de escrever
Sou a projeção estereotipada de todos os teus ensejos
A idealização de todos os teus anseios
Subjetivados pelos teus mais profundos desejos
Não, não sou perfeita
Sou desfeita de amores, carrego comigo infindas dores,
buracos existenciais que jamais fecharão
Sobrevivo entre a dor e a escuridão
Nada sou do que te pareço ser
Antes de mais nada eu minto...
Não, não sou nada do que escrevo...
Sinto!
PERDIDA
Ela procurou ajuda na fala muda, contando horas,
somando amores, acumulando dores
dizia nada saber, pois na verdade, a verdade, temia ver
O sonho, escravo autômato da frieza cruel, sendo amputado
enquanto restos de ilusão eram deixados de lado
depostos com cuidado no prato do pecado
Perdeu com o mundo, o contato, a paz e a razão
nem mesmo ouvia a voz do coração
Substituiu a tolerância pela arrogância do outro
Todavia, resquícios de esperança descansavam
solitários em sombras de confiança
e na desiludida condescendência,
foi banindo aos poucos a tão sagrada essência
LAMENTO DE AMOR
Pensando no quanto, o lamento da mente
Como um vento fremente que as folhas farfalha
Corrói pensamentos, tal qual navalha
E nenhum argumento que da pena, valha
paixão, saudade, razão ou cuidado
Justifica a dor do amor, deixado de lado
Desprezo indolente que faz descontente
Ausência sentida, medida irreal
Traduzindo vertentes de atenção desigual
Amola a faca, acerta o fio
No frio contido. Dissimulação!
Maltrata o desfecho. Maldade em ação!
BÚSSULA DO AMOR
Tu me orientas
A navegar em tuas diretrizes
Sul da minha vida
A primavera dos meus sonhos
Meu Leste
No resplandecer da esperança
Meu Oeste
A alegria em bonança
Tu és meu verdadeiro Norte
O verão desta felicidade
E neste magnetismo de paixão
Esqueço o inverno e a iniquidade
Pertencendo-te para todo o sempre
Como tua, a tua, rosa-dos-ventos
DEVANEIOS FRIOS
Entrego-me a devaneios frios!
Tão sombrios...
Turbilhão de paixão e ódio
E em espaços vazios,
A dor sentida desta solidão!
Queria eu estar vestida de ouro
E, no entanto, estou aqui tão só!
E ter você agora, meu maior tesouro,
Do que ter meu sonho
Se transformado em pó!
INCÔNSCIENCIA
Diga-me então:
O que sabes além do que os teus olhos podem mostrar-te?
Nada além do que dissemina a frívola modernidade?
Nada além da pestilenta obviedade coletiva?
Nada além do subjugo da maldade?
Ah, mundo conturbado de agregados em ofensivas
Humanos alheios à essência, rendem-se a leviandade
Seguem sem porquês, comprazem-se ao talvez
Inconscientes, mascaram fases, da euforia à embriaguez
Sempre soubemos que a notícia da fatalidade,
cedo ou tarde aconteceria,
pela forma com que Amy conduzia sua vida.
Entretanto, nesta hora, nós,
os verdadeiros fãs desta fantástica voz,
não queremos ler ou ouvir as falácias
da imprensa sensacionalista sobre álcool e drogas.
Estes problemas são sociais e aos fãs, não compete o debate.
A única certeza que temos é que nem mesmo todos os escândalos
que cercearam a breve vida de Amy e sua carreira meteórica,
servirão para ofuscar o encanto que seu talento exercia sobre nós.
Continuaremos a admirar de forma incontestável,
a cantora, a compositora, a estrela,
sem contextualizar sua vida pessoal
com seu extraordinário encanto musical.
Todavia, lamentavelmente,
ofuscados por este imenso brilho,
esquecemos-nos de que nossos ídolos
também são humanos, e portanto, mortais...
AMO ESTE POVO
Amo este povo
Sou terra, sou chão.
Sobre mim exercem, fascinação!
É o canto dos pássaros
Em mensagens de paz.
É a vida que passa,
Homem branco voraz.
Invasores em festa!
Chora, Pacha Mama
Muito pouco lhes resta...
Os verdadeiros donos,
Destas lindas florestas.
SUPOSIÇÕES
Antes, estivessem ausentes por todo o tempo
abstraídos ante o invólucro inacessível
ali, jogado, arquitetadamente esquecido
Assim, não haveria compadecimentos
Não existiriam excusas descoloridas
Não existiriam desmerecimentos
Seriam somente, palavras rabiscadas
sem a banalização de análises
sem o esquartejar do entremear, das rimas
Ah! Pelo amor do bom Deus, sem heresias
Dêem luz aos versos, deixem-os fluir
Permitam que sejam unicamente, poesias!
O BRILHO DA ESTRELA
Estrela latente que brilha
Pulsando, freneticamente!
Escrevendo com mãos de veludo
Em folhas feitas de amor
Compondo com toque de fadas
Em perfume, sonhos e cor!
Bailado místico a romper amarras
Ímpetos de júbilo, angustia ou dor?
Somente extravasa, pensamento incauto!
Inelutáveis são as desinências
Sentimentos essenciais em cargo arauto
Propagando emoções em suas veemências
UMA ODE
Uma ode, ao meu amor
Amor forte e verdadeiro
Sem fronteiras e sem dor
Vívido, colorido e jamais sofrido
Vivido intensamente e por inteiro
Pois com ele, inteira sou
Completa, realizada e intensa, sou
Uma ode ao amor próprio
Que em mim, a vida enfatizou!
FARSANTE
Não sou Ariadne, tu não és Perseu
Mas nem mesmo o fogo que outrora
Incitou teus dias de outono como meus
Minotauro de vestido levara embora
Ela, a maldita cadela das estradas da vida
Que se enforque com o novelo que te deu
Falsa princesa, rebuscada, a pretendida
Que coma o acre azedo e o todo teu
Goze agora os encantos do farsante
Ache dignificante ser adultera e impura
Leve avante a ilusão, labirinto extasiante
Tuas folhas hão de secar de forma dura
A ira aflorará em teu semblante
Pagando caro por faltar à compostura
LUCIDEZ
Talvez seja outra vez a espera dos ansiosos,
Bárbara em observação nas geladas manhãs,
Impregnando a psiquê de desejos calorosos.
Contemplação arguta e perspicaz
Em um verão recheado de sofismas e ímpetos ardilosos.
No espaço admoestador prevalece o infortúnio
De queixas loucas e desvairadas,
Oscilantes entre a insensatez do talvez
E a sensatez do que não vale mais a pena.
Neste momento a temperatura passa a ser amena.
É quando do coração quase que destroçado
As mágoas vão aos poucos sendo deixadas de lado.
Então finalmente, na alma e na mente,
O momento de retorno do tempo quente
Prenuncia a libertação de tão atroz passado!
Porque na verdade não precisamos nos esconder atrás de mascaras que não nos pertencem.
Nossas mascaras, aquelas intrinsecamente arraigadas em nosso ser interior, já nos são suficientes. Carregar outras, seria por demais exaustivo e trabalhoso.
Não precisamos lançar mão de subterfúgios excussos, para nos safar.
Esta seria uma atitude no mínimo incoerente para com as boas intenções, para não dizer, desonesta e desprezível.
Não precisamos de aparências forjadas em idolatrias vãs ou atitudes emprestadas ao fazer uso dos atos de outrens, utilizando o que não nos pertence, nem em consistência de ego, de personalidade ou de caráter.
Na verdade o que precisamos da forma mais simples e mais clara é sermos apenas quem somos, com todo o arsenal de defeitos e qualidades, com autenticidade nos atos e ações, já que o inusitado, quando se trata de ser e existir em real essência, não existe.
LE TEMPS DE LA DANSEUSE
Sim, como queiras! Faço parte dos degenerados
Melhor que a cegueira de tecer frágeis rimas
Neste ridículo circo de infindáveis pantomimas
É pertencer ao mundo dos hábeis desequilibrados
Vês? Percebes? Sentes como a maldade contamina?
Ainda ontem tu sorrias com ares debochados
E agora, jovem mancebo, porque estas amargurado?
Oh, pobre coitado! Ao passado, espertina?
Come então a carne com o sangue que feriste a esmo
Prova do mesmo cardápio, larapio de sonhos
demi-plié ao sabor do desamor, a ti, ao mesmo
Dança bailarina; aplomb ao derredor do ser bisonho
Encima a valsa da vingança, rompe e lança ao supremo
O extremo do amor, sissone en avant, com ódio tristonho
"Existe uma linda palavra no momento,
com tanta doçura e intensidade...
E ela se chama, ENCANTAMENTO!"
ENCANTAMENTO
Mesmo que quisesse, não saberia dizer-te
quais eram as vestes que usavas
nem quando ou como tudo aconteceu
Apenas sei que aos meus gestos, observavas
nivelando a energia de minhas calorosas manhãs
ao sereno e ao breu de tuas noites frias e solitárias
As lembranças de tudo e do todo, persistiam
faziam um sibilar suave de aurora imaginária
pós luar, pós pôr do sol, pós forma de amar
Infiltravam-se em nós, como o agora
em um constante entremear de intensos sentimentos,
de desejos e pensamentos densos e infindos.
VALORES
Esplendorosa seria a calma transbordante
que aquece e une as almas quando da identificação.
Aquiescência de egos moldados um a um
frente aos desafios da arrogância e prepotência.
O fulgor estaria sempre assim:
Nos gestos suaves, no afeto espontâneo,
na volúpia dos sentidos calorosos.
Nos desejos ardorosos,
nos profundos e longos olhares.
Na lealdade e cumplicidade sinceras
enquanto demonstração dos bens mais valorosos
que se pode sentir, guardar
e proteger por toda a existência.
Sem pesos ou medidas,
sem explicações ou modelos pré estabelecidos...
O respeito e o amor, humanos!
SURPRESAS DA VIDA
A vida e seus mistérios
com razões e mil segredos
enseja os primeiros acordes
de variados contextos
Esboça sutil movimento,
enredando em densas redes
com um dançar síncrono e lento
prendendo em grossas paredes
Turbulento é o medo de amar
que aos poucos se desvanece
não permitindo mais, recuar
E a alegria floresce
apresentando mil e um motivos
para enfim continuarmos, vivos!
TOCANDO EM PALAVRAS
O toque aveludado das tuas mãos
preenche como encanto o vazio solitário
transformando letras em belos relicários
e o ruído da existência em canção
E quando a epiderme responde às palavras
erguida em sentido aos limites do corpo
o toque, o encanto, as mãos como porto
terão valido, em peso e medida, a sua lavra
Da ata manuscrita em ouro, tal qual tesouro
Nesta bendita escrita que aos sentidos grita
Que incita o ser a viver, até o conhecer, vindouro