Coleção pessoal de SilviaSoaresMacedo
Tudo circulando, caindo em nossos braços para que deles desfrutemos momentaneamente e, em seguida, lançá-los de volta à circulação. Quando internalizamos esta noção de não sermos capazes de possuir nada, ironicamente isso nos liberta para termos tudo que quisermos, sem a preocupação de possuirmos. Logo descobrimos a alegria de passar adiante e dele compartilhar.
(Nunca dizer) Ola.
Nunca viver.
Nunca sentir.
Nunca sair dos confins da minha alma.
Nunca sentir o sabor do teu beijo.
Nunca tocar a tua pele.
Nunca me entregar ao desejo
De saber
Como seria.
De saber
O que você faria,
Se um dia eu pudesse
Sair da minha jaula
E te dizer:
Ola.
Nunca tentar.
Nunca falar.
Nunca arriscar o nada, nem sair do meu conforto.
Nunca saber o que te faz feliz.
Nunca saber o que te faz chorar.
Nunca conhecer os teus medos
E desejos.
Nunca olhar no fundo dos teus olhos
E ver,
E saber
O que você faria,
O que você diria
Se um dia eu pudesse
Sair da minha jaula
E te dizer:
Ola.
Nunca te consolar.
Nunca te abraçar.
Nunca secar tuas lagrimas
E aquecer tua alma com meus beijos.
Nunca sentir o conforto dos teus seios,
E nem ver as lagrimas em teu olhos
Ao me dizer sim.
Nunca pegar em tuas mãos e dançar
E girar.
E rodar.
Até cairmos no chão.
Nunca ver as lagrimas em teus olhos
Ao me dizer não.
Nunca sentir o calor do teu beijo.
Nunca tocar a tua pele.
Nunca me entregar ao desejo
De saber
Como seria.
De saber
O que você faria,
Se um dia eu pudesse
Me despir dos meus medos
E te dizer:
Ola.
Esvaziar-se para entender uma escrita, é a melhor forma de evitar os micos... e de achar que tudo é uma carapuça feita sob medida!!
A paz é o fim. Quem quer amor quer vida, ruídos, e todas as confusões que ele nos trás... Paz é certeza, e quem vive de certezas, vive em gaiolas.
Dizer que brasileiros estão melhores informados hoje. Significa que antes a ignorancia encobria sua conveniência com a desordem.
A gente complica demais as coisas porque ser simples é muito difícil. Ser simples custa tudo o que você tem.
Estou com sede de mudanças,
mas não quero arrastar os móveis,
nem desentortar os quadros.
Quero desabitar meus hábitos.
Eu jamais chegaria aonde cheguei se só andasse em linha reta. Tive que voltar atrás, andar em círculos, perder dias, perder o rumo, perder a paciência e me exaurir em tentativas aparentemente inúteis pra encontrar um quase endereço, uma provável ponte: a entrada do encontro. Acertei o caminho não porque segui as setas, mas porque desrespeitei todas as placas de aviso.
Solidão prolongada me ensinou a ser exigente. Quando me tornei minha melhor companhia, só me apaixonei por pessoas absolutamente incríveis.
O que me interessa no amor, não é apenas o que ele me dá, mas principalmente, o que ele tira de mim: a carência, a ilusão de autossuficiência, a solidão maciça, a boemia exacerbada para suprir vazios. Ele me tira essa disponibilidade eterna para qualquer um, para qualquer coisa, a qualquer hora. Ele apazigua o meu peito com uma lista breve de prós e contras. Mas me dá escolhas. Eu me percebo transformada pelo que o amor tirou de mim por precisar de espaço amplo e bem cuidado para se instalar. O amor tira de mim a armadura, pois não consigo controlar a vulnerabilidade que vem com ele; tira também a intransigência. O amor me ensina a negociar os prazos, a superar etapas, a confiar nos fatos. O amor tira de mim a vontade de desistir com facilidade, de ir embora antes de sentir vontade, de abandonar sem saber por quê. E é por isso que o amor me assombra tanto quanto delicia. Porque não posso virar as costas pra uma mania quando ela vem de uma pessoa inteira. Porque eu não posso fingir que quero estar sozinha quando o meu ser transborda companhia. O amor me tira coisas que eu não gosto, coisas que eu talvez gostasse, mas me dá em dobro o que nunca tive: um namoramento por ele mesmo. O amor me tira aquilo que não serve mais e que me compunha antes. O amor tirou de mim tudo que era falta.
Quantas palavras foram gastas para falar do silêncio. Quantos abraços foram aceitos impregnando o meu campo energético com um peso denso, e quantas vezes me protegi de uma carícia sincera. Quantas vezes suguei e fui sugada chamando isto de bondade. Quanto mais adequada eu tentava ser, mas eu me perdia do que eu era. E abafei minha loucura no peito comprimido para ser socialmente agradável. E escrevi coisas otimistas quando estava sofrendo de tanto medo. E ninguém sabia que aqui do outro lado eu estava chorando. E deixei que me julgassem sábia quando sou apenas mais uma buscadora tateando no escuro à procura da luz que pretendo beber a grandes goles.
O que dizer de uma geração, que é mais seduzida pela cor baça do papel moeda do que pelas cores multivariadas da poesia!
Às vezes é preciso dormir, dormir muito. Não pra fugir, mas pra descansar a alma dos sentimentos. Quem nasceu com a sensibilidade exacerbada sabe quão difícil é engolir a vida. Porque tudo, absolutamente tudo devora a gente. Inteira.
Se pudéssemos entrevistar o touro que sofre na arena dos rodeios, ele diria ter sua revolta e mágoa, mais direcionadas ao povo que aplaude, do quê ao peão que causa seu sofrer!