Coleção pessoal de senhorfredericsen
Pessoas grossas são mais interessantes do que pessoas simpáticas ou amigáveis. Geralmente tem uma ferida muito funda por baixo da grosseria. Ninguém é como é por quê quer; sempre tem um por quê e eu gosto de conhecer isso nas pessoas, os pontos baixos delas, mais do que os altos. Fora que, quando você conquista uma pessoa assim, ela te faz sentir especial. Ela trata todo mundo mal, mas contigo é diferente.
Gosto de olhar pra pessoas desconhecidas na rua — quando o transito para, quando ando pela cidade ou quando vou a um bar. Gosto de imaginar qual é o problema que as mantém acordadas a noite, o quê as motiva pra levantar da cama e enfrentar mais ou dia ou se elas acordam com sede durante a noite. Gosto de analisar seus rostos, porém tentar olhar através disso. Porque é engraçado como as pessoas passam por você na rua, te olham no sinal e te cumprimentam nos bares, mas não tem noção do que você carrega por baixo. E é engraçado como você dá o seu melhor sorriso e todos os seus medos, esperanças, sonhos, tudo sobre você, fica escondido por baixo dele.
Quando você entrou na minha vida, poderia ter escolhido ser qualquer coisa e eu teria deixado. Podia ter feito o que quisesse, contanto que ficasse. Podia ter sido amizade. Teríamos sido bons nisso. Eu teria te contado todos os meus sonhos, medos, esperanças, experiências, expectativas pro futuro, saudades, mágoas, podia ter conversado com você horas a fio sem me cansar. Podia ter sido atração. Eu teria jogado meu charme desajeitado pra cima de você, feito piadinhas com segundas intenções, você teria rido maliciosamente e a gente teria se ajeitado em alguma cama por aí… Depois a falta de compromisso de nós dois teria acabado com as coisas, mas ia ficar tudo bem. Nada que não fosse superado. Podia ter sido paixão, algo mais forte… Sei lá, qualquer coisa. Mas de tudo isso, por que você escolheu ser só… Saudade?
Só me entende: é complicado fazer de tudo pra dar esperança pra alguém quando, você mesmo, no fundo, é uma pessoa totalmente desesperançada por natureza. E eu sou assim. Mas não desiste. Odeio a sensação te ter falhado em tudo.
Eu sei que não tem muita coisa especial em você. Digo, tem — seus dentinhos tortos, seu cabelo com cheiro de shampoo de criança, sua covinha solitária no lado direito da boca, seu jeito de arquear as sobrancelhas quando sabe que eu tô mentindo. Mas eu também sei que se eu saísse por aí e me desse ao trabalho de conhecer outras pessoas, acharia elas muito mais interessantes. Mas mesmo assim não consigo tirar meus olhos de você e de pensar que nunca vou encontrar outra pessoa que me deixe assim, bobo.
Chega aquele momento em que você acorda de manhã se sentindo diferente do que se sentia quando deitou a cabeça no travesseiro horas atrás, e finalmente percebe que cansou. Que nem sempre todo o amor do mundo é suficiente. Não me entenda mal, amor é o fundamental pra uma relação, mas nem sempre é o suficiente pra mantê-lá em pé. Da mesma forma que quando um não quer dois não brigam, quando um não quer, dois não se acertam. Essas relações em que você se sente sozinho, mesmo estando a dois, nunca funcionam. É como se a relação fosse um relógio e faltasse uma peça fundamental, aquela que faz com que os ponteiros estejam sincronizados e no tempo certo, sabe? Você se sente fora de ritmo, na hora errada, atrasado. É desgastante, é cansativo, é devastador. Dói mais do que colocar o coração no triturador de carne. Não que eu já tenha colocado o meu lá pra saber, mas você entendeu. Finalmente entra na sua cabeça que algumas pessoas nasceram pra se encontrar na vida, se amarem, marcarem um ao outro pra sempre e irem embora, e não pra ficarem juntas. Não é questão de desistir. É questão de aceitar que acabou.
Eu realmente não me importava se os seus assuntos eram fúteis, se você tava falando tudo enrolado e eu sem entender nada porque você se empolga contando uma história ou se a sua voz tava rouca por causa da chuva que você pegou — eu só não queria parar de ouvir tua voz.