Coleção pessoal de SauloLacerda1983
No flutuamento do seu pensar,
Seu coração pulsando estar,
Diagnosticando su'alma,
Que a todo instante, perde a calma,
Seus olhos se vão no horizonte,
E ele, cada vez mais distante
Entranha no seu corpo, a lira,
Neste ser alado que ainda respira,
Largou a sua bagagem no chão,
Esvaziando de vez o peso na sua mão,
E no seu íntimo, refúgio existencial,
Livra-se da dor que lhe causa mal,
Dizem que ele é poeta; deveras.
Alquimia és tu, Poesia, que a até ele "vieras",
Dizem que ele é poeta; ele diz: "Quem dera!"
Pois, encarecidamente disseram,
E os versos, até ele vieram
No extato momento,
Sendo para ele, fomento.
E nestes versos, dizem que ele é poeta?
Deveras; Quem eras, Poeta?!
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Quando eu não mais
Puder escrever,
Serei apenas uma sombra,
Indo em direção à luz,
Não estarei mais em minha carne
E nesse momento,
Minh'alma despir-se-á da matéria
Serei apenas uma sombra
Indo em direção à luz,
Talvez possa eu, ouvir as orações,
Que serão feitas
Ao meu corpo frio e adelgaçado
Deitado dentro de uma urna de madeira,
E na tristeza
Do meu espírito galgo de paz
Em meio ao silêncio gritante,
Da lágrima que escorre,
Afagarei como brisa,
O rosto dos presentes,
E pedirei ao Criador alívio
Aos corações,
Pois, quando eu não mais
Puder escrever,
Já não mais haverá
O fôlego de vida em mim,
Sim... quando eu não mais puder escrever,
Já não estarei mais aqui,
Mas estarei na memoria dos que assim lembrarem.
Nossa alma é bem mais profunda do que se pode imaginar.
Não será na superfície que encontra-la-á;
Superficialidade apodrece.
Alma permanece!
_
Por dentro, não há quem pinte cores,
Por fora, existem "maquia-dores";
Há lentes que mudam dos olhos a cor;
Mas não escondem as lágrimas de dor,
Expostas, vestes finas que a pele camuflam,
Porém, as feridas internas da alma, não curam,
Faltando na vida real, a terna amabilidade.
Corpos flutuando na inércia superficialidade,
Cinza por dentro; fora, cheios de cores
Dueto na face; coração ausente de amores
"Sarcastisando"e banalizando da vida a dor;
Humanos vassalos na ilusão do falso amor.
Sorumbáticos são estes corações enfim,
Exilados, apenas esperando da vida o fim.
_
No início de mim, eram sorrisos soltos ao vento,
Eu entrava no jardim, ouvindo o susurro das flores,
Enquanto sentia a suave brisa, sob a luz do luar ao relento,
Não cabia dentro do meu coração, do passado as dores,
Ah, noite singela no término do verão, céu por estrelas cravejado,
Sentimento encarnado, entranhado em minha pele,
Pois no início de mim, eram sorrisos soltos ao vento, revelando meu passado,
E agora, vivo meu presente, esperando que meu futuro se revele.
Entreligando-me, tudo o que fui no início de mim
Onde estive, onde estou, até o fim, ou talvez, um novo de mim.
_
Eu escrevi minhas dores,
Na poesia, eu me mostrei,
Mas o pranto aberto,
Para mim mesmo guardei,
Por falas, fui surrado, flagelado,
Porém, minhas aflições
Ficaram no peito, trancado,
Desenhei as lágrimas minhas,
Sofri em silêncio, calado,
Pois, eu vivi nas entrelinhas,
Escondendo o sofrimento meu,
Mas, ninguém me entendeu,
Fechei as corrinas, sair de cena,
Viajando na tinta da minha pena,
Pelas folhas de papel escorri,
E de tanto sofrer, cansei, morri.
_
Transferiu suas dores para as folhas de papel,
Para viver livre como ave no céu,
Sublinhou cada detalhe da sua viagem,
E espalhou toda a sua bagagem,
Aqui na terra, equilibrou-se nas entrelinhas,
Para poder viver agora no céu com estrelinhas,
Cada gota de lágrima derramada serviu,
Pois contruiu morada eterna no céu de anil,
Em paz..
Váis...
Foi...
Impresso no coração de quem lembrar,
Poeta não morre; nem jamais morrerá,
Pois, nem mesmo o silêncio,
Há de silenciar.
Em paz...
Viveu...
Foi...
Impresso no coração de quem recordar,
O Poeta não morre; nem jamais morrera.