Coleção pessoal de sandro_paschoal_nogueira

21 - 40 do total de 493 pensamentos na coleção de sandro_paschoal_nogueira

⁠Quem é amado deve...
Quem ama pede...

A lua se insinua...
Entre vielas escuras...
Há fogo que devora...
Que mata e que dá...

Arde a cabeça...
Enquanto o olhar vaga...
Nem entre as estrelas encontras...
O que procuras...

Só porque houve outrora...
No presente indeciso vives agora...
Será que haverá o futuro,
Do que necessitas e sonhas ?

Procura o ar onde a respiração é doce...
E canta para afugentar a tristeza...
Porque és do tamanho que vês...
Porque sentes a falta do que não tens...

Vaga..
Longe de todo céu...
E no inferno onde abitas nada encontra...
O verme da agonia te devora...
Onde estás afinal,
Nessas horas mortas?

O nevoeiro é tão grande...
E o final não encontras...
Sim...
Tu bem sabes...
Tendes total culpa...

Entre o temor e o espanto...
Reconhece o amor perdido...
Peito endurecido...
Por mostrar-se soberbo e presumido...
Feristes e não percebeste o real sentido...

Tendo o teu erro algum desconto...
Saberia que sendo amado deve...
E que amando...
Deveria ter pouco pedido...

Agora buscas a noite escura...
Cujo medo te afigura...
Tão certa desaventura...
De vagas esperanças...
Nem mesmo te ajuda a lua...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Com dura e branda cadeia...
Já esqueci-me de quem eu fui...
E nesta incessante lida...
Já nem sei quem ou o quê serei...

Com o mal, e com o bem...
Já não me dá beijos qualquer passageiro...
Entre o que vai e o que vem...
Entre lágrimas, um sorriso faceiro...

Anjos ou deuses, sempre nós tivemos...
Nossa vontade é o nosso pensamento...
Tão pouco me agrada...
O ardor do inferno...
Ou a paz do céu verdadeiro...

Se eu fosse tão feliz...
De viva voz eu diria:
Que pouco ou muito é dito...
Mas é certo tudo terminar um dia...

Há fogo que devora…
Há frio que abraça...
Há amor que entre nós volteia...
E também o descaso que se semeia...

Eu te abençôo...
Não desejando amaldiçoar...
Mas se o faço...
Não permito ninguém me julgar...

O coração que vive ainda...
E pulsa e quer pulsar...
Ainda sonha...
Em sua metade encontrar...

Oh...
Pudesse durar sempre...
As venturas por quais passei...
Mas compreendo que assim o mundo não seria o que é...
Só lamento por quem tolamente me entreguei...

Tive soluços, febre, e absurdos desejos...
De nada me arrependo...
Mas quisera eu...
Poder voltar no tempo...

Façamos nossa vida um dia...
Que há noite antes e após...
O pouco que duramos...
Ninguém sabe o que vai por esse mundo...
Na eternidade - não é mais que poucos segundos...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠O que não daria eu...
Num dia sem data...
A sentar-me em uma mesa...
Com aqueles que um dia me amaram...

Hoje tenho os lábios secos...
Os olhos marejados...
E arde-me a cabeça...
Do tempo passado...

O presente é todo o passado...
E também é todo o futuro...
Prossegue a música...
Entra mais na alma da alma...
E a lembrança é que entristece...
Essa terra de ninguém...

Espreito então pelas janelas de outrora...
Coisas que sempre soube mas que nunca quis olhar...
Tal a sorte às cegas...
Da nossa existência...

Ter e não perceber o valor que tem...
Perder e então compreender...
Feliz é aquele...
Que sabendo o que tem...
Ama e não se enlouquece...
Quando tudo se vai...
E nada mais vem...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠De tudo houve um começo...
De asas abertas...
Alguém que nunca voou...

Rios que perdi sem os ver chegar ao mar…
Tudo o que guardo...
São muitas palavras de ilusão...

Quando eu sonhava de amor...
Quando em sonhos me perdi...
Eternamente em fuga como as ondas dos mares...
A ti mostrei o meu olhar...

Mas serei sempre o que sou...
Meu destino esconde-se entre a bruma...
Achando sem nunca achar o que procuro...
Onde tenho a alma...
Mãos alheias não tomam...

O amor eterno que te ouvi jurar?...
Diga-me, agora, onde está...

Mãos de renúncia que não puderam me entender...
Este abandono custa...
Poque estou contigo e tu não...

Mas não sei trocar a minha sorte...
Quando o que há é só o agora...
Como existir no esquecimento?
Fugindo com o vento sem ter onde pousar?

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Perfumes de pecado...
Oras eu os sei...
Minha prisão de viver...
Inúteis as noites da minha rua…
Sem antes conhecer você ...

Rituais que previ...
Pleno de desejo e de ciúme...
Abismo do seu ser.
Sou saudade do longe donde vim...
Sou esperança por estar junto a ti...

No caminho da vida...
Fui outro, e, outro sendo...
Outro serei...
Tenho fantasmas não tão educados...
Que não sei eu...
Se são casados com o diabo...

Perguntaste-me outro dia
Enquanto olhava-me admirado...
Se a vida me comprazia...
Se eu desejava mudar meu fado...

Menti naquela hora...
E disse que não sabia...
Que te importa afinal...
O bem que me acalenta...
Ou que me fustiga o mal ?

De olhos vagos e perdidos...
Nos olhamos sem nos ver...
Quase tudo passa...
E tão pouco fica...
Dê-me alívio às minhas feridas...

De que são feitos os dias...
Pequenos desejos...
Ou mágoas sombrias?

O bem que nunca fora...
É o mal que se avizinha...
Mas enfim no que me é guardado...
São meus sonhos conturbados...
Alguns se perderam...
Outros na sarjeta foram jogados...

Anda, vem...
Nem todo prazer é pecado...
Da vida não tenho muitos jeitos...
Só saudades e embaraços...
Junto ao teu peito...
Me perco e me esqueço...

Olhando todos os céus...
Choram em mim os seus presságios...
O maior sonho que acalento...
É por ti ser amado...

Tudo que sou, sou prelúdio...
O resto foi o que eu não quis...
Como se o tempo fosse um sentimento...
Entre os teus braços enlaçar-me mais...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Bebe do meu cântaro se tens sede...
Que eu sem culpa já bebi...
Todos os venenos foram contatos...
Não fizeram-me mal...
Apenas me fortaleci...

Pus-me a escutar as vozes do silêncio...
Tanto sonho...
Tanta mágoa…
Se tens fome...
Come do meu pão...
Se eu tenho...
Da-me sua mão...

Que importa!
Ninguém sabe...
Daquele amor perdido...
Por dentro das escura noite...
Confundindo os sentidos...

Quantos, que marcham pela vida...
No intenso tráfego dos rotineiros dias...
Expõe suas tolas vontades...
Diante emoções tão frias...

Cavalheiro da triste figura...
Moinho a braços com o vento...
Nenhuma alegria ouvistes...
Só tristezas...
Desalentos...

Quando saíres, não me esqueças...
E não me cortes com a navalha...
Como dizer a um coração fora do peito...
Que para o vinho não há taça?

Por detrás de cada esquina...
A ver no mundo seco a seca realidade...
Erguendo os densos véus ...
Há de livrar-nos Deus...
Da dor indiferente da maldade...
Dos pares meus...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Talvez seja breve...
A recordação de um sonho...
E um desejo pontuado de estrelas...

Talvez seja breve...
O barulho que fazem os sentimentos...
A lógica do presentimento...
A razão perdida...
A dor da ferida...

Talvez seja breve...
O agora donde se murmura a vida...
A chegada...a partida...
A glória e a ruína...

Talvez seja breve...
A memória acalentada...
Ou a memória sendo esquecida...

Talvez seja breve...
A paixão não correspondida...
O amor jurado ser eterno...
A dor do peito...
O flagelo...

Talvez seja breve...
A falsa ou verdadeira promessa...
O brilho de uma jura...
Feito em dias claros...
Ou na noite mais escura...

Talvez seja breve...
A alegria ou a tristeza...
A maldade de uma língua...
O bem e o amparo de mãos sofridas...
O medo e talvez o desejo do desconhecido...
Talvez mais breve seja o espamo de um grito...

Talvez seja breve...
O tempo que escoa...
A doença que se avizinha...
A morte que clama...
O silêncio que murmura...
O convite ou a recusa de deitar-se na cama...
O momento de se achar tudo perdido...

Mas que não seja breve...
O seu olhar sobre mim...
Seguido por um sorriso...
De que estás a pensar...
1001 maneiras de poder me amar...
Que me alegre...
Que não consegues disfarçar...

E se tudo que foi breve...
Que muito tenha valhido a pena...
Pois é vivendo que se aprende...
E aprendendo que se vive...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Por que vieste?
Já nada é o que foi...
Conheço os começos...
E sei como serão os fins...
Rasgas-te o meu peito em pedidos...
Disses-tes a mim o que há muito não ouço e nem sinto...
Destes a minha vida novo sentido...
E partis-tes deixando-me sem abrigo...

Ah...
O medo vai ter tudo...
E cada um por seu caminho...
Minha vida em desalinho...
Sem ti...
Agora tão sozinho...

Vida parada antes de ti...
Eram inúteis e magoadas as noites da minha rua…
Já me bastava tudo isto...
E com tão pouco importava-me...

Me custa acreditar...
Que infelizmente eu não posso amar...
Sou a cada instante o que já não sou...
Mas tu vieste...
E acendeste a chama...

Agora sou saudade...
Ânsia do longe...
Alma sonâmbula...
Cada parte minha permanece quieta...
Vivendo apenas no sonhar...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Desconheço...
Sou eu poeta?
Cenário dolente...
Embora me divirta...
Aqui, coração que andou entre os homens, arranco...
Ando à deriva na fonte de muitos olhos...
Movendo-me aqui e agora entre contornos vivos...
A minha prisão de viver são perfumes de pecado...
A grande inteligência é sobreviver...
Entre o murmúrio dos esgotos...
Rotina...
De longos braços estendidos...
Velhos desejos recalcados...
Espantos e receios...
Escondidos em leitos sangrentos...
Disfarçados em diálogos sonolentos...
Provisórios dias do mundo a ti pergunto:
Sou eu poeta?
Desculpai-me esta face...
Serei eu só mais um fantasma de tudo?

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Ó estrelas infelizes...
Que sois belas e brilhais tão distantes...
Os amantes lhe conhecem...
Mas vós não conheceis o amor...
Brilham somente...

Tal sorte às cegas...
Por eternas leis vos regem...
Mas somente o homem escolhe e julga...
Sonhando em ser feliz eternamente...

Sei que nada me é pertencente...
E que tudo nessa vida é fugaz...
A cada um o tempo passa diferente...
Consome a tudo sendo voraz...

Então o homem cria desejos...
E seu coração transpõe todo os desertos...
Em nome daquilo que a si mesmo se criou...
Sentes atraído ao mais alto e ardente vôo... Diante tudo que sonhou...

Dentro de nós há também um universo...
De tantas outras estrelas que não vemos...
Porém o destino do homem é tal qual o vento...
Do céu vem, ao céu sobe...
Acaba em questão de momentos...

Vezes sem conto eu tenho às estrelas...
Contado meus sonhos, chorando lamentos...
Entretanto ao passar dos tempos...
Hoje compreendo, perdendo-me a pensar...
Feliz só será a alma...
Que aprender a amar...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Ser forte, sem ser...
Condescedente por falta de opção...
Vivendo, aprendendo a viver...

Sem querer ficar...
Mas fugir com o vento...
A noite que a tudo acata...
No dia acaba o perdão...

Fechando os olhos...
Como fera que estuda...
Na queda do súbito, o espanto...
Desnudar a carne para gerar a razão...
Porque se obriga a esconder o sentimento...
Fugindo da decepção...

Hora se tem um...
Hora se perde ao outro...
Nada existir...
Ser igual aos mortos...

Aspirar a voz...
Resfriar o suor...
Saber qual o momento...
Ser a criança que és...
Somente quando parar o tempo...

Segurar a vida por desespero...
Sabendo que nem tudo é tão perfeito...
A segura confiança trançando planos...
Vida estranha...
Vida dura...
Por mais que a gente se articula...
Despenca do barranco...
É uma rotina sem cura...

Vaivém de luzes...
Fatos, momentos...
Organizam a marcha em nossa estrada...
E assim vamos seguindo...
Criando sonhos...
Querer voar...
Sem ter asas...

Páginas em branco...
A serem escritas...
Sorrisos, choros...
Beijos e feridas...

Tudo junto...
Tudo misturado...
E tudo requer cuidado...

No fundo às vezes nem entendemos o porquê...
Mas vamos aprendendo...
Entre sermos felizes e a sofrer...

Infindável luta...

Recomeçar... após perder...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Corpo em carne e desejo...
Que alimenta o tumulto do vento...
Voz de inquietação...
Batalhas a meu lado...
Boca seca...
Palpitante coração...

Vem contigo a madrugada...
Meus olhos não se cansam...
A promessa de tua boca de eternidade...
Em surdina dás-me mais vontade...

Passo na rua e nada vejo...
Por que ardo eu até tão tarde?
Quis eu lá saber a tua idade?

Na embriaguez da cisma...
Foste um murmúrio...
Rua deserta...
Mundo mudo...

O sangue...
Festim ruidoso e ligeiro...
E a ilusão que me trouxe e que não invento...
Adubando a flor do desejo...

Seja meu que de ti também serei...
Arde-me a cabeça de vos querer...
Em febre e vagando...
Deixando-me de ser...

Nunca me dissestes seu nome...
Mas a ti conheço bem...
Enquanto na sombra te espero...
Aos olhos alheios não sou ninguém...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Passeia o teu olhar pelos meus recantos...
E se assim o desejas...
Dou-te a alma inteira...

Tudo fiz para ti...
E ingrato fostes...
Pagando-me com a ingratidão...
Sem fim...

Que importa?
Ninguém sabe...
Nem tu mesmo o sentes...

Entreguei-me em tuas mãos o que escondo dentro...
E foste indiferente...
Nada sentistes...
E ainda nada sentes...

Procuro-te por dentro da noite...
Ponho-me no silêncio nas horas duvidosas...
Morto é o contentamento...
O engasgo tão grande...
Que aperta-me o coração...

Não sei se fiz mal, se bem....
Mas fiz...
O dia e a noite são iguais por dentro...
E sigo com a ilusão...
Alimentando esse redemoinho de estranha situação...

Peço-te em pensamentos...
Não me atrevo a dizer-te...
Não me esqueças...

Embora ouça o eco do amor há muito soterrado...
Mas o que tem de acontecer que aconteça...
Triste escolha...
Triste fado...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Quem vós engana para conseguir o que desejas?
Pois te falta espelhos pra ver tuas faltas...
És terra, és lodo, és pó...
És vazio na alheia cama...

Mas não te digo, nem te lembro nada...
Enquanto entre risadas vaga...
O tempo vil, que tudo troca, e muda...
Sem perdão, de outrora sem culpa...
Desgasta o que cultua...
E te levará à cova...

São dias de febre na cabeça...
E não sentes o que te corrói...
Num jardim onde há flores sem hastes...
Dá-se sua alma em troca...

Finges uma lágrima enquanto chora...
A ti e aos teus no correr do tempo...
Somente enganas a tu mesmo...
Enquanto apodrece a alma...

Triste e dúbia luz em que vives...
Cuja vaidade lhe assombra...
Entre falsas lisonjas caminhas...
Em suas tristes e perdidas horas...

Eu dar-vos-ia as estrelas...
Se realmente soubesses amar...
Mas que triste ironia...
Nem isso anseias por sonhar...

Nem batalhas, nem paz tens...
Apenas um grito na memória...
Apenas dia após dia...
Apenas noite que vai e vem...

Se alguma qualidade pode ser preferida...
Não a restrinja...
És só...
Não tem ninguém...

Redemoinho de ventos...
A desenhar seus próprios pés...
Incerto destino te procura...
Enquanto vagas na realidade crua...
Enquanto singra pelas noites e ruas...

Seria hipócrita se dissesse...
Que sendo assim não te quero...
Contundo cresce em mim a paixão...
Desde que apenas com um único olhar seu...
Roubaste meu coração...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Perder é recomeçar...
Antes que desperte em mim algum grito...
Antes que se perca o sentido...
Diante o desconhecido...

Não me disseram para o que vim ainda...
Em um excesso de desejar sonhar, sonho...
Mas não sei trocar a minha sorte...
Antes da morte me beijar...

Hei de gritar...
Hei de cair e de chorar...
Também levantar...
Hei de amar, querer , desejar...
Não quero ter outra lei...
Além de sonhar...

Terrível solidão do mundo...
Onde pensam serem felizes por estarem acompanhados...
Onde colocam suas esperanças...
Em outro tão mais ou menos coitado...

Transcende a vida...
Entre as feridas...
Entre sopros...
Enganando-nos ...
Entre sorrisos e arrotos...
Enquanto nos abandonamos...

Enquanto no peito pulsa e canta a chama...
No silêncio mais fundo de nossa alma...
Sobre tudo por nós criado...
De si mesmo...
Contemplador e contemplado...
Enquanto escoa o tempo e o vento...
Até se completar o fado...

Perder e recomeçar...
Sempre...
Voltando, novamente...
A sonhar...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Minha luta é dura...
Olhos cansados por verem a terra que não muda...
Porque o melhor de meu mal está todo no cuidado...
Do que foi-me tomado...

E a noite que se avizinha...
Mostrando-me a face obscura...
Faz-me juras...

Mordendo o fruto das manhãs proibidas...
Um sossego como se nada existisse....
Assim o tempo escoa...

Me perco a pensar o que isto significa...
Que importa!
Ninguém sabe...
Dá-me um estranho ar de loucura...
Um vazio...
Inesgotável procura...

Mistério mais audaz da minha vida...
Em que todos os venenos estão contados...
Meu prêmio e meu castigo...
Anseio delirante...
De intensa saudade...
Que tanto sinto...

Ah...
Ilusão sombria...
Amor sem fruto...
Do pensar na vida...
Fuga perpétua...
Despedaçar...
Emendar...
A pressa contida...
Só para mim, que vou comigo...

Quero nesta noite...
E nas noites vizinhas...
Que enfim as estrelas...
Dêem-me suas graças infindas...
E assim...
Deixando de ser tão escura...
Já não me pesem...
O cansaço de meu olhar...
Sob juras...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Já não posso ser contente...
Onde se foram aqueles que me amaram...
O que é deles?
Ando perdido entre muitas gentes...

Conselhos não segui...
E vieram os desenganos...
A vida passou tão corrida...
Hoje apenas sigo sem rumo...
A esperança está perdida...

Prazeres que tenho visto...
Sem meus entes queridos...
Já não fazem sentido...

Cheia de penas me deito...
E com mais penas me levanto...
Dia após dia...
Noite após noite...
Só as lembranças amenizam...
As minhas tantas feridas...

E de noite eu sonho...
Com dentro de mim o castigo...
Pai, mãe, irmão...
Todos se foram...
Só em Deus hoje me abrigo...

Oh...
Quem me dera ainda ser embalado...
Neste mundo estranhável...
Ter ainda um conforto...
Desse meu olhar tão cansado...

Destino: aqui me tens...
Neste meu silêncio fustigante...
Sonhando e me iludindo...
Como foi bom meu antigamente...

Mas assim tu segues...
O outrora não é mais...
Quem sabe no vindouro...
Encontrarei a paz...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Já bebi da Sabedoria...
E questionei os enigmas sem fim...
Já puxei da faca...
Fiz muitas coisas...
E tantas me arrependi...

Já fugi de encontros marcados...
Alguns nem cheguei a ir...
Já deixei de aceitar um abraço...
Como também com muitos dormi...

Já fui esperto...
Também tolo fui...
Já tive pressa...
E andei devagar...
Sorri, chorei...
Mas nunca deixei de sonhar...

Já enterrei todos os meus...
E com eles à cova quis descer também...
Conheci o purgatório e o paraíso...
Na saudade que vai e vem...

Por esse mundo de meu Deus...
Ingênuo sempre fui...
Alguns de mim se aproveitaram...
Hoje, cansado, deles não quero mais nada...
Já que tantos em minha jornada me faltaram...

Alguns segredos foram rompidos...
Confiei demais...
Boca fechada não entra mosca...
Aprendi como se faz...

Incompreendido eu fui...
Aprendi a dizer adeus...
Também aprendi a perdoar...
Erros alheios relevar...
Não sou perfeito...
Não sei aonde vou chegar...
Mas se Deus perdoa...
Quem sou eu para contrariar?

Tive ouro...
Tive prata...
No bolso alguns cobres...
Passei fome e aprendi a dividir o pão...
Já tomei tapa na cara...
E encontrei quem já me estendeu a mão...

Fui motivo de riso...
Fui motivo de chacota...
Muitas vezes magoado...
Mas a vida tudo ensina...
Nos ensina a ter mais cuidado...

Se um dia a juventude voltasse...
Erros e acertos sei que os repetiria...
Vivendo e aprendendo sempre...
Sendo grato pelo nascer de mais um dia...

Tenho cá comigo...
Que o céu devo esperar...
Do inferno me afastar...
E de nunca me perder...

Mas carrego em minha alma...
De ambos um bocado...
A colheita é justa...
Devo aprender a plantar com cuidado...

E assim sigo...
Todo dia aprendendo...
Entre erros e acertos...
Feliz vou vivendo...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Que lucrei, eu, Senhor com o tempo perdido?
Num e noutro despojo me achando o que a vaidade me propôs...

Nunca mostramos o que somos, senão quando entendemos que ninguém nos vê...
Mas se ninguém nos vê o que importa afinal ser ou parecer?

Escoar-se é um desperdício...
Assim como aprisionar o vento...
Pouco se ganha...
Tanto se perde...
Tantas coisas sem sentido...

Homem que sou...
Ó divina esperança onde estás que comigo brinca...
E não me convida à dança...

Tu que transforma os sombrios pedadelos em sonhos dourados...
Que nos inflige e nos obriga a levantar da cama...
Virgem de eterno devaneio...
Que hoje minhas mãos não alcançam...

A rotina é tão pesarosa...
As mesmas pessoas enfadonhas...
Dentro de mim, a noite escura e fria se anuncia...

Que me olhar não se perca...
Entre tantos outros que passam...
E farto de fadigas...
E de fragilidades tantas...
Que amanhã...
Em outro dia...
Então...
Eu floresça...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Há entre as pedras um murmúrio de queixume...
E nada mais se ouve ao longo das ruas...
Ocultos, na agonia das casas, velhas saudades de olhos que fitam o nada...

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro...

Destila-se de lágrimas as preces e a profecia...
Do que outrora havia...
Do futuro que se avizinha...
Tremem mãos...
Escondidas nas cortinas...

No abismo do pretérito foram-se os dias...
Caminhantes se vão da terra...
Perdidos na própria sombra...
Levando consigo seus sonhos e histórias...
Deixando para trás...
Apenas algumas lembranças partidas...

Não demores tão longe...
Não se esconda em lugar tão secreto...

Anos após anos...
Seguimos aprendendo mais com os desenganos...
Meu ser traçado pelo som do vento…

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro...
Amanhã morro e não te vejo...
Amanhã morro e não te escuto...
Não demores tão longe...
Não se esconda em lugar tão secreto...

Todos passam...
As pedras não...

Queixando-se dias após dias...
Por serem ignoradas...
Dos que ainda ficam de vozes amargas...
Urdindo a grande teia... Sobre nós a vida...
Não demores tão longe amor...
Que amanhã eu morro...

Sandro Paschoal Nogueira