Coleção pessoal de sanathy
Balanceando
Contrariando minha própria vontade
Percebo que minhas verdades
Hoje não serve
Para o que disse ontem.
Se no passado acreditava em mitos
Seres fantásticos
Hoje a realidade me faz conviver
Com carnes e ossos.
O colorido das roupas e dos espaços
Já não brilham tanto nas minhas pupilas
E me esqueci disso.
Passei a cobrar de mim mesma
Resto de alguém que não mais existia
Houve um tempo em que borboleteava pela vida
E tinha medo de pisar no chão
Fechava os olhos à miséria
E o cor-de-rosa predominava.
Não dá mais pra policiar
O que já não sou
Há muito tempo a gaiola se abriu
E não sei ao certo se escolhi
Ratos ou sapos
No fundo do poço há cobras e lagartos
Esperando os demônios de cada um
Minhas incertezas de hoje
São verdades do futuro
Misteriosamente vou me aprofundando
Cada vez mais dentro de mim
E me espanto ao me ver diferente
Espelhos múltiplos, mil faces.
A noite chegou e continuo
A insistir que é dia
O barco pousou no porto
E dispensei a viagem
Hoje quero viajar e
Me falta port, me falta barco
Queria percorrer estranhos mundos
E em cada um recolher um pouco de mim
Juntar todos os pedaços
E o que sobrar de sólido, serei eu
Novamente pronta pra desintegrar
Em mil pedaços, mil cacos, mil sacos...
A Vida É Como Um Rio
Isto não irá adiantar
Estou aqui sozinha
Dormindo no vazio
Debaixo da morada das estrelas
Por quê? Por quê? Por quê?
Lembro-me de Hitler
Sinto a insegurança do desconhecido
Por que você me deixa só?
Cuide de mim, por favor!
Sei a que vida é como um rio
Com suas necessidades neuróticas
Quero nascer outra vez...
Não mais ser essa medrosa introspectiva
Acabar com essa comédia ridícula
Me disseram que o tempo cura tudo
Mas sei que só o seu amor
Será capaz de me prender
E você cortou tudo entre nós...
Por que o céu é azul?
Quem é a quarta dimensão do tempo?
Cada um tem o seu próprio caminho
Quero sair dessa prisão!
Tenho essa ideia fixa
Minha mente está oscilando
Devo ter mais paciência
Não ter tanta pressa
De ficar procurando por outras coisas
Afinal, estou aqui de visita.
Quanto tempo faz que não conversamos?
Você quer me destruir?
Talvez o melhor seja ficar em silêncio,
E se você me procurar no seu silêncio,
Com certeza, estarei lá.
Você sabe quem eu sou
Não gosto de sangue
Não quero um muro ao meu redor
Quero a vida e a vida é o presente.
Mas eu permaneço insatisfeita
É uma consequência natural
E preciso estar alerta
Tenho que encontrar um caminho
E este será definitivo.
Aquilino
Águia Voadora
Admiro sua resistência nas tempestades
Suas garras espantam os abutres
E sua luta pela sobrevivência é espantosa
Sua meta será atingida
Sua vitória é imprescindível
Penso que os raios não surtirão efeito no seu corpo
Sabe o que mais me surpreende?
Sua imunidade aos vírus emocionais
E seu habitat estava repleto deles
Recalques, chantagens, frustrações
O rondavam por todos os lados
Arremessados em sua cabeça em linha de tiro
E aí eu o via altivo, bater asas e voar.
Quando o conheci, voos rasantes eram comuns
A perfeição do voo estava quase atingida
E imagino as derrapagens, o medo
Que você dizia ter sentido no início
Mas que não acreditei.
Sua escalada ascendente me fascina
Poço misterioso fervilha em sua alma
As alturas serão sua morada
O alado, seu companheiro
Debaixo de suas asas
Percorri dimensões altíssimas
Rompi a barreira do tempo, da velocidade
Vislumbrei espaços de luz e de fogo
Você me guiou por veredas infinitas.
Devolvi à terra
Nunca mais o chão me atraiu
Ficou em mim restos de ar
Imperceptíveis
Não tenho asas
E daqui contemplo seus voos
Suas brigas
O espaço infinito é seu
A vida lhe foi dada
Para galgar alturas
Valeu a pena tê-lo conhecido
Ó Filho da Liberdade!
Alvoroço Ufanista
A festa é traiçoeira
Este lamaçal
É uma manifestação cultural
Em cujo céu coberto
De nuvens gordas
Contém os fabulosos
Animais do zodíaco
E eles valem muito.
A solidão é inevitável
A vida, uma miséria andante
Sobre a lama e sobre pedra
Alguns homens ganham o inferno
Falando sobre a história do mundo
A exploração humana.
Dizem que o destino está marcado
Estou musicando imagens
Com a ilusão dos mitos.
Foi uma boa experiência
Os mitos transformados em música
Sinto um frio imenso
Vejo a boca do dragão
No último grau de decadência
Sinto um vazio no estômago
Vejo cintilações palpitantes
E os argumentos são ridículos
Hesitantes e invisíveis
Tcham-tcham-tcham-tcham...
A luta é brava
Os monstros apocalípticos...
Socorro!!!
Alma Em Voo
É o cúmulo da insensatez
A demência das escrituras
Tal qual uma ninhada de cães
Numa noite de vigília
O mundo anda cambaleante
Com suas torrentes esgotadas.
Eu sou um raio de luz
O real e o irreal
Massa voraz
Repleta de sofismas mágicos
Sou uma engenhosa metáfora
Nas gavetas do meu cérebro
Os dias são trêmulos
Como novas paixões
Ou como um teatro ácido
Ou as ruínas das Civilizações.
Os elétrons fogem
Com o vento furioso
Estou plena de seiva
Povoada por claras estrelas
Que agem tal audazes estupefacientes
A magia da linguagem
Se faz tão antiga
Como as trevas milenares
Desejo a música
Antes de qualquer coisa
Desafio às estrelas
Com seus jatos violentos
Em ondas cósmicas
Os negros fantasmas
Reproduzem as moléculas
A tarefa sagrada
E o vento crispado
Me faz pensar
Que a ação não é a vida
A revolução dos meios
A suprema simplicidade
Virá com a marcha dos tempos.
Água-Viva
O pé na estrada não sente
Que o rumo já se perdeu
Na Consciência do viajante
Sua lucidez voou para um espaço livre
Tudo indica que há palmeiras
No final do caminho
Há indícios de água-viva no meio do mar
Não mais morto.
E a atmosfera se faz verde, brilhante
Posso divisar a luz, o sol e a vida
Sentida em cada poro que se abre
E deixa passar o suor de minha angústia
De minha espera.
Passou o cavalo louco, talvez espantado
Pelo fantasma do meu medo
Que me persegue constantemente
E não há nada que o possa exorcizar
Talvez seja essa lua cheia que o desperta.
Repetem-se as cenas em câmara lenta
A realidade se fragmenta
E cada um desses cacos se transforma
Num lindo sonho voando devagar
Poro infinito, mas enxotado pela Rainha
Do mundo da Realidade.
"Fora, não há lugar para você"
E ele se vai, tão docemente...
Eu me fixei ao chão
E daqui não posso sair
Cogumelos são meus vizinhos
E me embriagam
Viajo com eles até a galáxia mais próxima
Sem passaporte ou suporte
Com a inconsciência do inconsciente fotografado
Vou mais além e me perco pra longe
Bem longe de mim
O quebra-cabeças se embaralha
Se emaranha na mesa da sorte
O seu outro "eu" anda por aí, sem saber
Dos perigos que corro a cada dia
Ele pouco sabe das minhas mil mortes
Do solo perigoso que possuo e que pode
Desmoronar a casa instante.
Do efeito cicatrizante que tem o seu olhar
Sobre minhas feridas
Da luta maior gerada com a suspeita
De que sesse amor me faz percorrer
A "Terra Prometida".
E é tudo quanto tenho no momento
Procuro arrancá-lo com todas as forças
Que já não possuo.
A minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão.
Confluente
Eu me abro em espaços de interrogação e meditação
Não quero ser da vida apenas um álibi
Por onde nada meu lado de fera, felina, confluente?
Vivo, ora cheia de introspecção e simbolismo
Ora revolucionária e existencial
Não quero viver dentro do esteriotipadamente previsível
Preciso de mais escolhas, estímulos e possibilidades
Porque em mim há uma inabalável vontade de viver
Dentro dos limites-espaço-temporais do tempo
Com um vasto poder de fogo.
Onde o milagre da ressurreição?
O tempo certo para voltar?
Os caminhos do absoluto?
São coisas que importam sempre e me intrigam.
Sei que vimos por entre a multidão
E aí deu-se o início de novos sonhos
Você estava sempre à procura de critérios
Mais objetivos e eu queria saber
O segredo fantástico de suas ilhas
Descobri tesouros insondáveis.
Certos Carinhos
Por onde anda seus sabores, sons e cheiros?
Me induza a novos delírios como um vampiro
Ponha um profundo olhar nas minhas carências
Pois estou ávida por certos carinhos
E você sabe quais são.
Sinto saudades do seu mágico amor
Onde havia progressivas explorações
E possibilidades de mil fantasias
Meu cálice transbordava e a emoção
Molhada vinha fluindo dos poros
Jamais poderei me esquecer disso
Venha pouco a pouco, sem pressa
E me entregarei sem nenhuma
Barreira ou resistência
Sequiosa, vulcânica, fluida
Sob as cinzas jaz a chama
E nesta vida há coisas
Com as quais não se pode romper
Por mais que se queira.
Anjos Distantes
Você pode se queimar
Com esse olhar triunfante
A fuga se faz estratégica
Plaf, plof, plaf, plof...
Eu sabia de muitas coisas
Do espanto e da desolação.
Quem é você?
Uma guerreira terrível!
Tei! Tei! Pum!
Plaf!!!
O sonho é meu
Veja como as estrelas estão
Perdidas no cosmos.
Numa grande agitação
O vento levou
Os pingos de chuva
Dos olhos da vida
Ainda que seja uma mentira
Eu tô só de passagem...
"Já não temo fantasmas
invoco a todos
que venham em bando
povoar meus dias
atormentar minhas noites
entre tantos
loucos e livres
existe um
que é doce
e que me
falta."
Sou demasiado orgulhoso para acreditar que um homem me ame: seria supor que ele sabe quem sou eu. Também não acredito que possa amar alguém: pressuporia que eu achasse um homem da minha condição.