Coleção pessoal de samuelfortes

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Conjugação Cotidiana

⁠A vida como
Um seio exausto

Assim tão reluzente
Sobre a noite e do mar,
Lhe veio a voz

E só então, foi totalmente a sós
Sentiu-se pobre
E triste como Jó

Da carne nos rasgos
Da febre mais quente

Que

Jamais queimasse
Mas nunca como antes

Nem paixão tão alta
Nem febre tão pura
Em noites de insônia

Sua Maneira


Intrigante
Instigante
Maravilhoso
Mistério

E ainda
Não nos demos
Conta disso

Um pouco à tua maneira
Que não revia desde o tempo
Em que lia e te relia

Como de cera
E por acaso

Fria no vaso
A entardecer

⁠Demiurgo

Palpitando na matéria
⁠Anjo
Desatento

Se
Outro
Mérito
Não teve

Pelo menos
O
De não ter
Perdido
Tempo

⁠Sarcasmo e Arvore

Com dificuldade
Ergo-me

Na saudade do amigo
Que
Se perdeu na eterna saudade

Daquele espelho
Me olhando
Tomo o café da manhã

À minha e à sua vontade
O gigantesco abismo
Goza a delícia de ser

Lábios roxos
Assim passeio por ele
Sem sua infantilidade

Onde a cobra fuma
Seu moderado cigarro
Admirando seu ventre

Trazendo o sol batido de vento
Enquanto o mar tece a trama
Imóveis na solidão

Juntos a novos anjos cativos
Na luta de classes

Honorárias prisioneiras
Mulheres
Que o simples toque pode romper

Por um momento
Todos e infinitos talentos em seu seio
Maior que a força contida no ato
Na móvel linha do horizonte

Apaisanar


Não precisavam
Deles

Sentiu-se
Livre
Para ir

Seguir

Principalmente
Não ir

Seguir
Se assim
For

Marginal

Finalmente
Livre

Para
Ser útil

Não sendo
Inútil
Menos mal

Passageiro


V⁠iveu
Como se fosse
Viver
Para sempre

Nem
Percebeu
Que viveu
Eternamente

⁠Serventes do Tempo


Estou sempre de branco
Por toda a rua cinzenta

Relógios, paredes
Se quebram com o tempo

Prisioneiro de mim mesmo
Agregam-me os fatos

Relógios paredes me travam no tempo
Eu faço e desfaço-me
Pois sou o meu dom

E se querem saber o que fazem
Dos erros

Autores do tempo
Inventam seus tons

Os dois hemisférios comprazem enredos
Intensos abraços e eterna intenção

Da pele do pêlo dos nervos do elo
O logos do louco da lógica ao chão

Da simples pureza que se perde ao tempo
Do mero cansaço
Talvez solidão

Por entre os silêncios se dê um jeito
E
Do eterno e interno selvagem

Salve o lado bom

⁠Em Riachão do Dantas


Trilha
Em
Que trilha

Paradinha
Pra
Fôlego

Mente
Viaja

Ao longo
Do
Que ficou

Emoções
Vividas
Lá estão

Fraturadas estão
A golpe
De martelo

Permanecem

⁠Em noite
De apagão
Redescobriu
Céu estrelado

Quisera Tanto


⁠Não é querendo
Me gabar

Mas
Hoje eu chorei

Numa explosão
Milhões de vezes

Maior que a força
Contida no ato

Agitam docemente
Os cabelos da rocha

Entre a linha móvel
Do horizonte

Ato Fecundo


⁠Que fecundou as rosas
Como cadelas à lua

Por seres
Quem me fostes

Grave e pura
Desfigurando estrelas

A lua que sangra à dentro
Numa vertigem de morte

Com cheiro de virgem

Meninas de bicicletas
Escravizadas à beleza

De repente do riso
Fez-se o pranto

De repente
Da calma fez-se o vento

Levando a sua tristeza
No
Quadro da Bicicleta

A limitação de Kant


O andrógeno
Meigo e Violento

De mãos luminosas
O mágico pastor

Que espia
Do
Fundo da noite

Dos ermos da noite
Despetalou

As jovens putas das tardes

Em vossas jaulas acesas
Rola perdida no céu

Fazeis rapazes entrar

E deu a luz ao meio-dia
E morreu no mar

Para Que Vieste


⁠Levai vossos Cantos
Minhas pobres mágoas

Na melancolia de teus olhos
Nos frios espaços de seus braços
No anseio de teu misterioso seio

Com meu cardume de anseios
Náufrago entregue ao fluxo forte
Da morte

Teu silêncio
Teu trêmulo sossego
Da minha poesia extraordinária

Esse riso
Que
É tosse de ternura

Quanto mais tarde for
Mais cedo a calma

É o último suspiro da poesia
Se foi por um verso
Não sou mais poeta

⁠De
Insegurança
Da
ONU

Bem
Nutridos
Parlapatões

Trocando
Parlapatices

Vidas
Escoando
Pelo
Ralo

Quando
Tudo for pedra

Atire
A primeira flor

⁠O avesso das águas
Guardam o segredo da vida

Segundo
Darwin

O homem
Descende
Do macaco

Pelo visto

Humanos
São macacos
Que deram
Errado

⁠Tem barulho
Que
A gente

Só escuta
Quando
Faz silencio

Assim

É a água
De chuva

Que se faz
Do
Rio a sua morada

As falhas
Dos homens
Eternizam-se no aço

E
Quanto mais bebemos
Mais sede temos

As suas virtudes
Escrevemos na água

Como um gole d'água
Bebido no escuro

⁠⁠O Espaço Descontínuo

Gosto de viver
Com
A realidade

Quem diz que busca
É porque não a tem

Mas com algum delírio
Sou vil

Sou reles
Como toda a gente

É com a imaginação
Que eu amo o bem


A realidade
É

Para mim, insuportável

Fantasma
Do meu ser
Presente

Nunca


Houve uma guerra boa
Nem uma paz ruim

⁠Avançamos
Em ciências

Tecnologias
Não tanto

Em
Evolução
Os
Sapiens

Que
Não se toleram

O Criador
Ainda

Não acertou
A mão

Os poetas odeiam o ódio
E
Fazem guerra à guerra.

A maneira mais rápida
De
Acabar com uma guerra

É perdê-la

⁠Seria

Asociedade dos homens
De bem a quem não sorri
Nem se orgulha

Ter na parede

Retrato de herói
De uma guerra
Qualquer

Que frouxos de zombaria
Não ouviste , ainda desperto
Às estrelas que por certo
Cochilavam Luz macia

No pélogo submerso
Do imenso abismo sem meta
Que te acorda da Nostalgia

E quem traça a curva
Do horizonte

E dá linha
Aos movimentos rasos
Dos astros

O Caos e a Simbiose⁠


A maioria pensa
Com a sensibilidade

E eu sinto com o pensamento

Para o homem vulgar
Sentir é viver

E pensar é saber viver

Para mim
Pensar é viver

E

Sentir não é mais
Que
O alimento de pensar

Todas as manhãs
Somos abençoados

Com a sublime
Dádiva do recomeço