Coleção pessoal de sammisreachers

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⁠Somos seres finitos: comprimimos para compreendermos. O infinito é fantasma de nossos fantasmas.

⁠A burocracia é duplamente maléfica: ela desumaniza ao reduzir tudo a estatística, ao sacralizar o “preto no branco”, e a tudo nivelar pelo rigor (miopia) da lei; e ao comportar e alimentar seu feio irmão siamês: os mecanismos de apadrinhamento que a burlam – e o apadrinhamento, o compadrio, é mesmo tudo o que a burla, numa simbiose tão perfeita que faz corar a natureza. É um tipo de homicídio qualificado do tempo, das esperanças e mesmo dos méritos alheios, em benefício de um construto em geral grande e/ou vazio demais, e das elites que o propuseram, “em benefício do bem comum”.

A Igreja vencerá. É da natureza da bigorna durar mais que o martelo.

⁠Armas não substituem a coragem. Quando muito, só prolongam a ilusão dos covardes, dos que irremediavelmente não-nasceram-pra-ser.

⁠O extremismo é um corredor veloz, mas sem pernas: precisa sempre das pernas e do lombo de um asno para avançar.

⁠Sem Nunca Ter Aberto os Olhos - Um poema sobre o aborto

Sammis Reachers

Envenenado enquanto sorria
Para a luz que atravessava
Os tecidos da barriga
Broto de bambu queimado
Para que sobreviva a floresta de incendiários
Queimado enquanto vive a floresta pragmática

Tua mão, tão pequena,
Botão de uma rosa silvestre
Ninguém a segurou, não foi?
Somos oito bilhões e
Ninguém de nós segurou
A tua mão enquanto você despencava

Na noite mais escura
Dessas que tantas acometem
As almas dos homens
Alguém imaginará
O que você poderia ter sido
Que caminhos e abraços você fluiria

E o filme se repetirá
Nas noites mais escuras
Dessas que tantas acometem
As almas das mães
que desistiram

E será tarde demais
E a pessoa dormirá e acordará
Com este edredom, "tarde demais."
Tarde demais,
Tarde, muito tarde
(Pois quando apagamos uma estrela
Tudo o que resta é a escuridão)

Teus olhos nunca chegaram a se abrir
O Universo, esse jardim de
Incredibilidades fulgurantes
Esse jardim que seria seu como é meu
Você nunca o viu

Ente guardado num ente
Apunhalado num ente,
Ente descartado, promessa
Abortada
Sem nunca ter aberto os olhos

Nos perdoa a loucura, o mar o oceano
De loucuras
Que levaram até teu fim,
– Civil a quem a civilidade
Negou civilização –
Até o assassinato de um começo

⁠Raciocinar é estar em guerra.

⁠Um livro antigo cumpre uma dupla função: Alicerça, ainda que apenas moralmente, tanto uma biblioteca quanto o seu possuidor.

⁠Uma das muitas definições possíveis para o bem governar pode ser: (A arte de) Erodir resistências.

⁠Olhe para os lados. Os homens estão cheios de dádivas para lhe oferecer; a maior delas e da qual estão repletos, fruta a qual dão e recebem por graça ou escambo, se chama decepção.
Olhe para o alto.

⁠O jogo, assim como o fogo, consome em poucas horas o trabalho de muitos anos.

⁠Conta uma lenda que o baralho de cartas foi inventado por um povo que, vitimado pela carestia, alimentava-se um dia sim, outro não. No dia de jejum desperdiçava o tempo jogando. Assim, o jogo e as cartas são filhos da miséria.

⁠O jogador de profissão não é um homem, é um animal de vícios, porque de ordinário o jogo arrasta consigo o alcoolismo e a lascívia.

⁠O jogado inveterado, empedernido, de profissão, é um ser inútil.

⁠As cartas e os dados são os livros e os ossos do diabo.

⁠Se alguns jogadores vivem do que o jogo dá, quantos a morrer de fome por aí não há?

⁠O vício não é outra coisa senão o sacrifício do futuro ao presente.

⁠Eis o jogo, o grande putrefador. Diátese cancerosa das raças anemizadas pela sensualidade e pela preguiça; ele entorpece, caleja e desviriliza os povos nas fibras de cujo organismo insinuou o seu germe proliferante e inextirpável.

⁠Jogar é roubar com consentimento mútuo.

⁠O jogo é a mãe das mentiras, dos perjúrios e da pobreza.