Coleção pessoal de ruth_dos_santos
ESTA MANHÃ
Esta manhã andaste
no caminho
dos meus labios.
Abrandas os passos
na languidez
dos teus susurros
escrevendo com o corpo
o que a tua alma deseja.
Com ardor
cadência certa ,
o coração pulsa
sente e enlaça..
Em gotas de suor
e grito silencioso
renascemos, entrando
com deleite
na casa do amor.
E num olhar
refletindo o mar
Foi lindo
ouvir-te dizer baixinho
Ao som
da nossa musica tema
- amo, te amar !
O LIVRO
Foi o livro na mão ou o ar enternecido ?
Pediste perdão e sem esperar resposta
Estavas sentado, no banco de jardim
Num ar decidido, olhando para mim.
Falavas como quem não espera resposta
De quem por dentro se ilumina
Com entusiasmo e paixão, e eu
Embevecida,vi que era um livro de poesia.
Fico em silêncio a ouvir, cativada
Untas-me a alma, o corpo se arrepia
Estranho aquele casual momento
Uma estrêla filante caída no meu firmamento.
Amo tanto o teu rosto inclinado para o meu
Expressivo, ousado, seduzindo com palavras lidas
Afago-o jà com mãos invisíveis, decido ler-te
Mostrar que a tua poesia não é o livro - sou eu !
Procuráva-te sem saber bem onde e como te encontrar. Vieste no Verão, inadvertivamente, como frescura de Outono. Olhaste-me e sorriste.
Tudo mudou em mim quando chegáste. Deixámos escapar alguns segredos e houve encanto nas palavras : amáste-me para que eu pudesse renascer. Gosto do que és e do que me fazes ser através de ti.
O sentimento de perda se esconde na magia de cada encontro!
FLEURS BLANCHES
Un manteau de fleurs
Aux pétales blanches immaculés
Dans un champ scintillant
D’une naturelle beauté,
Alors que l’être humain cruel
Ne pense qu’à tuer …
Faisant naître injustices et inégalités
Au sein d’un monde que se sent
De plus en plus écrasé.
Nascemos todos poetas,uns escrevendo as suas emoções eternizando-as, outros deixando-as escoar na profundeza das suas almas.
A Paz duradoura vem do interior : ela nos dá serenidade para decidir, coragem para agir e força para vencer.
O BANCO DA PRAIA
Um banco solitário, triste olhando o mar
Querendo carinho…
Recordando abraços, beijos, sorrisos
Sussuros,algumas lágrimas
Saudades deixadas, guardando mil segredos
Nas fibras da sua madeira pintada.
O banco mudo e frio,cansado de esperar
Quer voltar a escutar... ali me encontro
Sentada, aconchegada, enternecida
Partilhando lembranças, passeios infinitos
Em dias sem data, o sol e a maré se deleitando
Na praia da minha infância ainda adormecida.
UNIDOS NA FESTA JUNINA
Fogos, balões em explosões de cores
Cravos de papel, manjericos à janela
Saias de cetim que ondulam
Desfilando de arquinho na mão
Pela avenida, numa música sentida.
Santo Antonio e o menino, casamenteiro
A quem as solteiras pedem um amor
A S.João, que o corpo seja são
A S Pedro, guardião do céu e santo da chuva
O contrôle do clima, para proteção do sertão.
Atrações, bebidas, comidas típicas
Em Portugal caldo verde e sardinha com broa
Um copo de vinho ou cerveja na outra mão
No Brasil cuscuz, churros, milho e quentão…
Ambos festejando unidos a mesma tradição.
Ilude-se a vida por momentos!
Que seria do mês de Junho
Sem seus santos populares ?
Divino se mistura com profano
Em oração e alguma superstição.
De tanto cheirar a flor
O caracol fica com o seu odor.
Veludosamente se foi...
Levando nos olhos as suas pétalas
e deixando no caminho a sua marca prateada.
E o primeiro dia de verão chegou
Com lágrimas de tempestade...
Gotas fortes, violentas, em enxurrada
Maltratando e deixando marcas
no corpo da terra que se curvou.
AMOR OBSESSIVO
O meu amor desagua na opacidade da tua virtude
Perco-me de mim e de tudo o que sinto
Presa no labirinto tortuoso dos teus sentimentos
Nascem delirios que me envenenam a alma.
Tento combater esse monstro sangrento
Grandes temores, pérfida obsessão
Que consomem como labaredas ardentes,
Que me devoram cada instante,a toda a hora .
Cansado o coração grita paz, felicidade.
A dor dá à luz uma nova visão, clama liberdade!
Bati as asas feridas, voo longe,voo alto
Solto-me da tua argúcia e deste tormento
Vejo que nunca me afastei de mim
Contigo, esvai-se o meu delirio…
E desabrocho viçosa como um lirio
CAFÉ
Fazes parte integral da minha vida
De manhã, à tarde ou mesmo à noite
Aprecio-te nos bons e maus momentos
Quente ou gelado, puro ou adoçado
Mas sempre delicadamente perfumado.
Em grão ou em pó,em roda de amigos ou só
Com frio, chuva ou em tarde de verão
Levo-te aos lábios,em silêncio ou em música
Com prazer degustado ,suavemente saboreado…
Sentada, ou mesmo de pé, amo-te café !
O LEGADO DO FUTURO
Tapetes de veludo em rocha descarnada
Oásis de flores dançam em diversas cores
Os passáros namoram,cantam em louvor
As árvores com os seus galhos se abraçam
Mãe Natureza cheia de mil riquezas tem alma
Toda ela é harmonia,se exprime com amor.
O Legado do Futuro,agora comprometido
Sofrido, agoniza soltando gemidos.
Fauna em extinção, pela pele e o marfim
Florestas silenciosas, aves raras jà não falam
Nos rios poluídos peixes jà não nadam
Ninguém aguenta mais,nem homens nem animais.
Somos todos dependentes desta Caixa de surpresas
Tomara que o homem na sua ganância e desdém
Compreenda que dizimando a Natureza
Busca a sua desventura também !
Breve
Aquele lenço vermelho
Atado no cabelo
Breve
O beijo entrelaçado
Que é do passado
Breve
O desabrochar da flor
Morreu-lhe nas mãos
Breve
O canto do passarinho
Cantava igual em cada ninho
Breve
E fatal !
A sua imagem quebrou-se
Como bola de cristal.
Ode ao caminhoneiro
Lá vai o caminhoneiro padecendo o dia inteiro
Estradas congestionadas, horários apertados
Vigilância controlada, vai e vem, vem e vai
Com tempo, sem tempo ou contra o tempo.
Conhece o caminho na palma da mão
Cansado, vence trilhos de alcatrão
Tem como companhia a solidão
O amor da sua amada e a saudade de pai.
Em percursos intermináveis,sofridos
Vislumbra novas paisagens,aclives, declives
Vales, montanhas, campos de flores
Ou roda com neve e grande tremor.
Na sua casa ambulante
Que se move de maneira sinuante
A estrada é o seu poema, a sua amante.
O Canto do passarinho
Da minha varanda, ouço o cantar de um passarinho ao lado na floresta que borda a minha casa. Não posso vê-lo, mas posso ouvi-lo e o seu canto é como uma oração, um louvor que perfuma aquele meu instante com essências de serenidade, de paz.
Como o pássaro assim é o nosso coração : cada um tem a sua própria melodia espalhando-a sem saber até onde ela pode chegar ...
Como te choro Mundo
*
Como te choro Mundo
Tão colorido e delicado
Fonte de inspiração
És agora conspurcado
Moribundo, desencantado
Exausto de competição.
Vais perdendo o teu fulgor
Num lento e apático turpor.
E o Homem ?
Alheio ao sangue que escorre
Inspira e respira, olhos ao Alto
Que alivia o peso da consciência
Os gritos de sofrimento
As cóleras lavradas em explosão
A busca de um pouco de pão.
E o mar ? E os rios ? E os animais ?
Palavras, promessas, ações e omissões…
Somos sentenças de homens que mandam
Apenas trágicas consequências
De convergências e divergências !
O Gato
Cabeça dócil e altiva
Olhar perspicaz,profundo
Garras que dilaceram
E ferem fundo
Aéreo, elegante
Calmaria, nervos de aço
Quando feroz
Ninguém cala a tua voz
Liberdade, intuição
A tua indiferença é só ilusão
O teu ronron afetivo
Traz calma ao coração.
No teu olhar em ranhura
Há torrentes de ternura
Voltas à noite, desejas caricias
E logo depois,como que alheio
Dou contigo confortavel
Já deitado na minha cama
Ou mesmo no meu regaço.
Matreiro !
Andando pela areia do mar, sentindo a brisa afagar o meu rosto, as ondas rolam e sussuram melodias – cantam-me a persistência, ensinam que por vezes temos que saber recuar para melhor avançar.