Coleção pessoal de RoseCunha

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AS RAZÕES QUE O AMOR DESCONHECE

Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes do Ettore Scola, dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de
viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettuccine al pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desses, criatura, por que diabo está sem namorado?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim. Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Costuma ser despertado mais pelas flechas do Cupido do que por uma ficha limpa.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai ligar e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário, ele só escuta Egberto Gismonti e Sivuca. Não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama esse cara? Não pergunte pra mim.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco, você levou-a para conhecer sua mãe e ela foi de blusa transparente. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano-Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referências. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó. Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é.

Julho de 1998

UMA DEFINIÇÃO NÃO ENCONTRADA NO DICIONÁRIO - Não ir embora: ato de confiança e amor, comumente decifrado pelas crianças.

Um livro aberto é um cérebro que fala;
Fechado, um amigo que espera;
Esquecido, uma alma que perdoa;
Destruído, um coração que chora.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.

Não importa onde esteja sempre estarei com você.⁠

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Livros e flores

Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

AS VOLTAS DO MUNDO E DO AMOR

No livro Perto do Coração Selvagem, romance de estréia da escritora Clarice Lispector, a personagem Joana, em um determinado momento, sente-se confusa por estar sofrendo por algo que, um dia, a tornou terrivelmente feliz.

Acontece muito. A dor e o prazer alternarem-se em volta do mesmo motivo. Passam-se anos, ou meses, ou horas, e aquilo que nos deu tamanha vontade de viver torna-se a razão de tanta angústia e lágrima. E o mais exaustivo é que este é um fenômeno incompreensível.

Sendo de impossível entendimento, nada pode-se esclarecer aqui, a não ser dizer que, na maioria das vezes, é o amor que provoca tal contradição. O tempo passa e o amor sofre mutações: de ansioso passa a ser calmo, de constante passa a ser inconstante, de onipotente passa a ser falível.

Nós, por outro lado, também mudamos. De carentes a auto-suficientes, de infantis a maduros, de ternos a ríspidos. Somos igualmente poderosos e igualmente fracos. E a metamorfose do ser humano, como a metamorfose do amor, gera pânico: que amor é esse que um dia me faz explodir de alegria e que no outro dia me implode? Que ser é esse que sou, que um dia aceita as contingências de um sentimento mutante e que no outro dia o quer estático, igual como sempre foi?

Há exemplos mais simples. Ele te amou e isso te fez feliz. Ele deixou de te amar e isso te tornou infeliz. Felicidade e dor em alternados momentos e pelo mesmo motivo.

Ela era passiva e caseira, e isso deixou você apaixonado. Ela manteve-se passiva e caseira, e você passou a sonhá-la agitada e independente, e de repente não a quis mais. Ela não mudou, mas você mudou, e o amor acompanhou a mudança.

Não há como parar o tempo, cristalizar o que nos enche de êxtase. Este êxtase um dia se tranformará em algo que nos perfurará feito lâmina. Porque assim é: a terra gira em torno do sol e nós giramos em torno de nós mesmos, sem descanso.

⁠Amo Muito!

Amar é mesmo tão difícil, precisa ser assim, solene valoroso, impossível pois é no impossível que o melhor amor se revela...
Amar o comumente belo, agradável, gostoso... isto fazemos até sem perceber!

Mas, amar o difícil, o que para você é incompreensível, o que não te compreende, o amargo, o azedo... Sem ter sensação de dificuldade, amargor, acidez ou azedume, sem necessidade de compreensão.
Isto sim pode ser pleno, este amor que, quando experimentamos e, conseguimos gozá-lo nos torna pessoas melhores...

Hoje vi que este amor precisa ser exercitado pois é momentâneo, mora nos tempos difíceis, portanto precisamos nos abastecer desta capacidade durante os bons tempos. Guardando boas lembranças, nos embebedando de bons sentimentos, sobretudo de coragem.

Amor inteiro, amor ao que não é belo no amado, ao amargo, ao azedo, ao difícil... A existência do contrário é que valoriza sua importância! Assim podemos saber o que é doce...
Examinando o amado em sua completude, não hesitar em amá-lo, com suas feiuras, tragédias, rabugices.

O Amado mundo, os amados filhos, os outros amados, o amado eu.

Ainda não sei como fazê-lo...

Mas ando me lambuzando em experimentações...

⁠Ainda que, com muito custo, eu faça do mato e da praga um jardim, de vez em quando me aparece uma lagarta para estragar tudo!

⁠O que você quer de mim não tenho como te dar, porque não sou extensão de você...

Suas queixas de mim pouco têm a ver comigo, muito mais tem a ver com aquilo que você quer que eu seja, ou que te incomoda na minha existência...

Então, neste caso, o problema não é nosso, é seu!

⁠Saudade x Nostalgia...

Nostalgia é o mal estar que se tem ao perceber a impossibilidade de reviver certos momentos da vida.

Diferente da saudade a nostalgia aumenta ao entrar em contato com sua causa.

Quando sentimos saudade de alguém ou algum lugar, este sentimento é aliviado ao reencontrarmos este alguém ou visitarmos este lugar.

A nostalgia, ao contrário, se agrava ao reencontrar alguém de quem sentimos falta de conviver da maneira que convivíamos antes...

No reencontro o sentimento nostálgico irá se alimentar e não diminuir como a saudade, pois lamentamos ainda mais a impossibilidade de reviver aqueles momentos naquele lugar ou com aquela pessoa...

Estou nostálgica dos meus avós...

O respeito é o que te impede de agir em pensamento, palavras ou atitudes contra a integridade existencial, física e filosófica do outro, considerando tanto os seus valores, quanto os valores do outro.⁠

⁠Jade, Clara e Laura

Eu chamava a primeira bebê de maravilhosa... A segunda de belíssima... Um dia a 1a perguntou se eu não a achava bonita, então virou espetacular... Pois não é que veio a 3a? E todas nós a chamávamos de maravilinda...

Aliança

De alguma maneira
Quero sempre me casar com você.
Para mim, este amor é diferente, não é de papel passado.
É amor de papel presente.

Meu conselho é que se case. Se você arrumar uma boa esposa, será feliz; se arrumar uma esposa ruim, se tornará um filósofo.

Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval.

Não deseje para o seu casamento a felicidade dos casais dos contos de fadas, pois nessas histórias os apaixonados só são felizes no final e ninguém vê o que acontece depois disso.

Um casamento não dura o tempo de nossos dias.
Um casamento, fruto de verdadeiro sentimento,
não conhece o que é tempo.
Possui a essência da eternidade
Dura para além da vida!