Coleção pessoal de Rose05
Eu hei de dar a você.
Eu hei de dar a você sempre um pouco
daquilo que em mim é ser contente.
E minha felicidade jamais vai deixar
de ir de mãos dadas com você.
Não sou capaz de adquirir nada
que não dê a você de presente.
Meus sorrisos e passos têm o sabor
dos olhos do meu Amado.
Só viver
Nem sempre o futuro traz as respostas,
Melhor buscar a esperar passar,
Seguindo os ventos conhecidos do passado,
Com os olhos no presente, sem nada adiar.
Cabeça erguida, nunca desistir...
Ter sempre vontade de ir além,
Fazendo do desejo a plena realização,
E fazer da vida um sonho também.
Inventar e renovar todos os dias,
Desejar um tempo que nunca teve,
Ver nas pessoas e no mundo todas as poesias...
Ter a eternidade de um novo amanhecer
E passar a vida sem tantas fronteiras.
Derramar luz e paz, só viver.
Um brinde com meus personagens
Especialmente agora, meus personagens vieram jantar. E todos, diante de mim, como num ato sentimental de reencontro, erguem seus brindes naquelas mesmas taças em que sempre sorvo o fel. O fel que contém o sêmen da poesia. Cumprimento a cada um, abraçando e beijando, alegre pela sua participação empírica em tantos partos dolorosos que me fazem poetisa. Junto com cada um cumpro meu projeto de vida: os meus livros.
Muitas vezes atiro longe o meu ópio e mergulho em subterrãneos escuros. Entrego minha alma às contrações dos versos, sem anestesia, sem analgésicos, que os deformam... E eles (meus personagens) estão "ali", inquietos, sofrendo junto comigo, sentindo os dissabores, a perplexidade ante o imutável que a vida impõe a minha sensibilidade plena de líricos espantos. E como eu, eles não têm escola, pois para quem tem sede de poesia, estes detalhes não contam. Bastam-nos as sensações, o inesperado das imagens, o ápice e o desfecho sempre surpeendentes que falam direto à alma.
Especialmente, agora, para a glória da poesia, faça-se a eternidade! - é o que eu brindo com meus personagens. Porque eu creio no sol que mora no fundo da minha alma, que me traz sempre de volta à minha eterna busca.
Uma pausa na Cafeteria
Existe, na agitação de meus dias, um espaço para mim. Sentada à mesa de uma Cafeteria, nas costas de um diário de classe, o meu lápis começa a semear o sonho. As palavras se encadeiam e elevam meu pensamento, meu corpo se torna menos tenso e meu sorriso se esboça à lembrança... e a musa aparece como em magia, deslubrante,esvoaçante, seminua, dançando descalça naquela contracapa azulada. A palavra desejada se acomoda a outras tantas, até a chegada do ápice, quando o poema está pronto, na rima, no rítmo, na métrica e na beleza. Esqueço o café que esfriou na mesa, recoloco o diário de classe na bolsa e retorno novamente aos meus afazeres.
Fica comigo
Quantas vezes ouvi: "Fica comigo."
Tantas vezes ouvi que hoje consigo
dizer: "Não fico mais!"
Quantas vezes, na valsa dos teus braços
no doce dos teus beijos,
senti todo o universo a perguntar
de que me adiantaria, ser tua por um momento?!
Fui tua, seduzida,
entregue ao ritual de tuas promessas,
possuída no embalo de teu verso,
mergulhada em teu lago, imerso
num temporal fingido de amor...
Revolução silenciosa
A cada dia dou conta que
o mundo,
a natureza,
as pessoas,
escondem um
encanto inesperado,
fotografado por
minha alma,
registrado em
meus versos.
Isso é uma
grande revolução silenciosa!
A vida é uma interpretação, e no meio desta interpretação há experiências muito fortes que devem ser testemunhadas para o crescimento mútuo.
Eu acredito que somos uma força no mundo, e podemos alcançar novos patamares em nossa vida acreditando mais naquilo que fazemos - se extraordinariamente bem feito. Isso muda nossa vida e a dos outros.
Anoitece
Anoitece.
O manto da noite cobre o meu corpo,
o silêncio deita o meu sono
e as estrelas ofuscam os meus sonhos...
E eu mergulho na lembrança.
Anoitece.
A lua vai bailando,
aos poucos invadindo o meu sono
e acariciando o meu corpo.
E eu mergulho na saudade.
É o sereno invadindo o meu quarto;
é sobra da solidão na minha alma;
é um gosto de saudade na minha cama...
... E beijando a minha esperança,
os lábios de um breve retorno teu.
Entrei a nado
Entrei a nado pelo rio adentro,
beijando fontes, abraçando correntezas.
A manhã era ensolarada.
O rio era de prata.
Uma mangueira soberba e alegre
ficou, de longe, me sorrindo.
O céu era esperança.
O rio era possibilidades.
Nadei em águas daqui distantes.
Cachoeiras formosas deram-me pouso.
Agora, exausta, de volta à margem,
sinto-me alegre como a amplidão.
Meus lábios secos beijaram fontes,
meus braços curtos romperam as curvas
das fortes correntezas na imensidão.
Agora volto de novo à margem,
tenho nos lábios o doce da certeza.
Trago nos braços a compreensão.
A procurar
As horas vão passando sonolentas
nas minhas dezenas de páginas da saudade...
Estou vivendo nesta eternidade
debaixo de mil e uma tormentas.
Até o céu que muitas vezes eu via
com o mais bonito luar que me sorria,
hoje de tão pálido, vazio e sem graça,
se tornou uma aquarela sem força.
Eu pergunto a mim mesma: Por que estou
descrente e indiferente a tudo,
o olhar triste, vago e mudo?
Eu estou sempre a procurar respostas
para esta vida que tanto me desgosta,
onde eu vivo querendo me encontrar.
No silêncio, te amo constante;
Na mente, gravado o teu nome;
No coração, os desejos que o tempo consome;
No caminhar, sou aquilo que passa e você não vê.
Se soubesse do que sinto e penso,
E se soubesse como é grande e extenso
O sofrimento que atinge o fundo de minha alma,
Compreenderia porque perco o sono
E porque sofro tanto este abandono:
-É porque te amo meu querido!
Nossos olhos expressam ou guardam nossos sentimentos e podem ser ponte entre o nosso coração e a nossa alma.
Até ontem
Até ontem seguíamos separados,
vagando pelo mar das ilusões,
afogando-nos nas tantas recordações,
com os corações visivelmente ilhados.
Eu a lembrar dos erros cometidos
durante o meu passado efervescente;
você a pensar insistentemente
dos corações, por você destruídos.
E agora nos reencontramos
e pra tentarmos evitar mais dor,
vamos fingir que não nos conhecemos.
Mas nossos olhos por exprimir ardor,
logo vão nos dizer que ainda
temos aquele velho e louco amor.
Pausa
Momentos de pausa,
madrugada fria, agonia,
e eu em clausura mofada:
com pensamento empoeirado,
perdendo os fios da poesia,
travando comigo uma guerra...
Angústias por se lavar,
mas um bucado de fadiga, mental.
Aindassim recaio
no colo fraterno da Musa,
como bicho de pelúcia,
sem vontades, sem emoções,
sem espanto,
quase morta.
E enquanto ela me acalanta,
vou chorando,
agonizando,
amargando os versos
que estão presos
e não querem vir à baila.
Mas, sobremodo,
entendendo
que meus versos,
por hora,
emudecem,
talvez,
porque eu não estou
pronta para eles.
O amanhã
Lá fora a chuva cai
trazendo recordações de antigos vendavais
no cais os pescadores
preparam as redes e esperam
As noites mais profundas obrigam um novo olhar
a lua debruça na janela
a esperança antes imperceptível
faz consertos na casa.
No quarto a cama
onde tantos carinhos amor e sonhos
viraram rezas e choro
não há mais lençol de seda.
A memória vai polindo os momentos
restaurando o passado com as cores das lembranças.
O amanhã?
O mundo dá voltas.