Coleção pessoal de RosangelaCalza

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⁠Gosto das noites calmas.
Das ondas varrendo a praia docemente com suas águas salgadas.
Gosto de andar descalça pelas madrugadas à meia-luz que desponta na linha do horizonte.

Gosto dos dias tumultuados.
Ruas em completo turbilhão.

Eu?

Só mais um espectro que paira invisível na multidão.

⁠Felicidade

Como eu queria a felicidade encontrar.
Nela fazer meu ninho e pra sempre nele me aninhar.
Ter dias de sol e calor...
Tudo de bom na medida certa.

Pôr fim a toda dor.
Doce ilusão sonhar com isso meu coração.

Ninguém é feliz o tempo todo.
A felicidade vem em ondas.

Vivemos fragmentos de felicidade.
Felicidade X frustração...
Que se repete num ir e vir...

Feliz é quem consegue dos fragmentos de felicidade totalmente usufruir.

⁠No fundo do teu coração

Tira a sandália do medo.
Descalça todo o temor.
Apesar das nuvens escuras
A luz virá trazendo destemor.

Interpreta o tempo.
Não se constranja.
A vida é bela...
Tudo no fim se arranja.

Abre a fechadura emperrada.
Escancara as janelas
Deixa o sol entrar...
Dos cantos escondidos da sala tua vida bela hás de resgatar.

Derruba as paredes da incerteza.
Equilibra-te na linha do tempo.
Tira do fundo do mar a paz, a alegria e toda a sua beleza.
Equilibra-te a avança.

Dança a mais bela das danças.
Rodopia no salão.
Conforto encontrarás sempre no fundo do teu coração.

⁠Esse amor

Um longe... alhures... distante.
Um som que chega de instante a instante.
Uma lua no céu a brilhar.
Um mar... as ondas num ir e voltar.

Amplexo complexo.
União de duas almas raras.
Um beijo, um sussurro...
Vai-se embora todo o escuro.

Estrelas bruxuleiam no céu.
Uma brisa suave a nos acariciar.
Um amor tão lindo como esse
jamais pensei que fosse ganhar.

⁠Receita? Pra poesia?

Este olhar ávido que tudo perscruta.
Esses ouvidos atentos que tudo escuta...
Essa inquietude... não importa a latitude, nem a longitude...
Um amor desconjuntado.
Um vento que chega de qualquer lado...
Uma viagem.
Uma fatia do luar.
Luz e sombra a lhe acompanhar.
Gritos internos.
Silêncios eternos.
Quantas mil outras coisas mais...
Um caminho deserto.
Um regato de águas borbulhantes...
Um agora... um depois ou um antes...
Um sonho queimado.
Um bolo estragado.
Uma mistura letal.
Um vazio.
Um dia normal....
Tristezas ou alegrias...
E assim nasce uma poesia.

⁠A minha fé

Estou com saudades dos dias de sol...
Estou com saudades do agora que trazia um depois com gosto de mel...
Estou com saudades do seu jeito contente...
Estou com saudades de respirar sem medo do ar que iria sorver...
Estou com saudades de andar por aí e tranquilamente pelo mundo me perder.

Estou com saudades da intensidade da vida.
Estou com saudades de não sentir ansiedade.
Estou com saudades daquele tempo das laranjeiras.
Estou com saudades do cheiro do café.

Estou com saudades do tempo em que o que mais me movia e me mantinha em pé era a minha fé.
Estou com saudades dos tempos em que não sentia saudades...
Estava tudo no lugar certo.
Estávamos todos tão pertos.

O amanhã sempre parecia tão certo.

⁠Meu futuro

Meu futuro...
Um tiro no escuro?
Um eixo oposto?
Um gosto ou um desgosto?

Água potável?
Água intragável?
Luz do sol?
Mofo da escuridão... do abismo mais profundo o fundo?

Sombra?
Ou luz que calibra meu caminho?
Âncora segura?
Câmara escura?

Meu futuro...
O que será de ti?
O que farás de mim?
Alargará as fronteiras?
Do precipício a beira?

Meu futuro...
Há algum veredito?
Ou será sempre o dito pelo não dito?

Meu futuro...
Bendito?
Maldito?

Medo crescente do que vem pela frente...

⁠Viva intensamente

Vida que passa igual fumaça.
Vida que passa tão rápido.
Vida que é finita.
Vida... que é breve... que seja bonita.

Valorizemos mais cada minuto.
Apreciemos os dias que chegam e num piscar de olhos se vão...
Contemplemos cada momento... cada fração do tempo.

Vida é só um momento.
Viva intensamente.
Viva o presente sempre presente.

Na efemeridade da vida... viva plenamente.

Agradeça.

Seja contente... coerentemente.

⁠Enganada

Da vida... abandonada emocionalmente.
Dores e sofrimentos diariamente.
Um tempo eternamente corrosivo.
Fez, para viver, o que era preciso.

Lamentos lacônicos...
Sofrimentos em nada resumidos.
Muita dor.
Nada de amor.

Da vida... eternamente traída.
Longa jornada...
Eternamente enganada.

⁠Melancolia

O frio da madrugada.
A escuridão que não me deixa ver nada.

Partiste e sozinha me deixaste.
Contigo toda a minha paz e alegria levaste.

Escrevo agora minha última poesia.
Sem rimas... sem métrica... sem nenhuma melodia.
Só uma nota triste que em toda ela persiste: a mais corrosiva melancolia.

⁠Amor perdido

Inquieto coração.
Sabor e dissabor.
Conflitos... ilusão.
Paixão secreta.
Razão e emoção.

Ah esse amor que existe...
Não, não é o acaso que insiste.
Amor quase desesperado...
Por tanto tempo tão esperado.
Razões desperdiçadas.

Amor que deu em nada.
Coração partido...
Amor que não era pra ter sido.

⁠Ame de um amor infinito.
Ame com o amor mais bonito.
Ame e não se canse de amar...
Amando e amando, há muitos tu vais felicidade doar.
Ame com um amor que invada a alma de outrem de felicidade...
Ame com um amor que torne os dias mais leves...
Ame com um amor que tudo o que ruim releve.
Amor – sentimento contagioso.
Amor – do olhar carinhoso.
Amor – sentimento preciosos.
Amor – cheio de graça...
Ame... não cobre nada de volta...
Ame sem querer nada em troca...
Ame, e ame muito, e ame de graça.
Ame... seja, no amar, generoso.

⁠Ela aprende rápido

Ela é como gente que não vive no espelho do passado.
Ela aprende rápido com o que deu errado.
Ela ri dos seus passos atrapalhados.
Ela sabe que com um beijo cura seus joelhos arranhados.
Ela levanta sempre a cada tombo...
não importa, na alma, o tamanho do rombo.
Ela pede pro seu gato lamber o leite derramado.
Ela não lamenta o que a vida lhe tem tirado.
Ela joga de novo o dado...
e de novo... e de novo...
Ela anda mais uma milha.
Ela aspira o perfume das flores na sua trilha.
Ela segue em frente...
sem maximizar a dor que sente.
Ela é forte, determinada...
Não é mesmo apenas uma brisinha de nada.

⁠Sim, faço muitas coisa por obrigação

Aham... sinto-me no dever... e por isso saio por aí dizendo sim, sim, sim... mil vezes... quando queria dizer NÃO!

Faço muita, mas muita coisa apenas por obrigação... que normalmente vem dentro de um saco de cor escura, vem rodeado de autoprivação, totalmente cheio de sacrifícios em causa própria.

Mobilizo meus esforços, minha energia... uso meu precioso tempo. Tudo por obrigação.

Aaaa mas você pode deixar de fazer se quiser. Não, não é tão simples assim. Minha dificuldade de dizer não vem da idade da pedra. Não há estudos que dizem que lá atrás nossos ancestrais se deram conta de que colaborar uns com os outros facilitaria a sobrevivência? Recebi isso por herança, acredito.

Está tão arraigado em mim essa força de sempre dizer sim... se já me questionei por que motivo tenho dificuldades em dizer não que não seja a herança recebida do meus tatatatatatatatatatravos....?

Claro... pode haver muitas outras razões. Mas, não... não vou listá-las aqui.
Me ensinaram que dizer não se aprende. Devemos desconstruir a imagem de bondade e servidão que foi criada a nosso respeito - por nós mesmos e pelos outros.

Vale lembrar que toda desconstrução causa desconforto no início. Vamos nos sentir estranhos por estarmos agindo diferente do modo como sempre agimos: sim, sim. sim... amém, amém, amém. Por exemplo, estou com os dedos formigando para listar aqui as outras razões de ter dificuldade em dizer NÃO... estou me sentindo estranha por esse meu novo comportamento. Mas, convenhamos, pra você não faz a mínima diferença, né não?

Isso prova que o NÃO afeta mais a mim do que a qualquer outro ;)

Aprendi também que nada como o tempo pra nos acostumarmos com a nova persona. a que diz NÃO... e sabe que isso fará bem a sim mesma... e quiçá aos outros também...

Maybe Yes Maybe No

⁠Meu descansar

Deitada na rede... sonolenta.
Ouço o cantar dos pássaros.
O vento passa suave.
Balança as folhas das árvores.

Nuvens escuras no horizonte.
Certamente irá chover.
A água pelos telhados irá escorrer.
E eu... eu vou me deixar ficar.

Vou esperar as escuras nuvens aqui chegar.
Quero ouvir o barulho da chuva no telhado... lavado.
Quero ver a água em poças se formar.
Quero ver lentamente o dia passar... a noite chegar.
Sem corre-corre.
Sem agonia.

Só quero viver intensamente o dia.
Apagar os inúmeros graus de cinza...
Que somente eu em dias de sol via.

⁠Rotina

Põe-se o sol ao cair da tarde.
Surgem as estrelas no céu...
Vem a chuva depois da chegada de grossas nuvens...
Caem as folhas dos plátanos...
O dia segue a noite.
A noite se encerra com o amanhecer.
Sempre tudo igual...
Vem a primavera depois do intenso inverno.
Antes de montar algo se lê o Manual.
Flores se abrem.
Frutos amadurecem.
Sol que tudo aquece.
Coisas de rotina.
E, às vezes, você nem atina.

⁠Eu... por mim

Eu comigo.
Eu em mim mesma um abrigo.
Eu, meu caminho, desde que nele estou sigo.
Quantos passos?
Quantas lágrimas?
Quantos sorrisos?
Quantos abraços?
Quantas chegadas?
Quantas partidas?
Quantas esperanças pela água salgada do mar engolidas?
Quanta vida!
Sou como a lua... tenho fases.
Sou como o vento – brisa suave, ventania...
Arranco raízes de tudo em um só dia.
Invento – me reinvento.
Vivo com plenitude cada momento.
O passado? Lá atrás ficou.
O futuro? É pra lá que vou...
Vida, presente... aqui estou.
Estou... e estou inteira... em pedaços...
Quebrada. Restaurada.
Estou... ainda me formando.
As peças do meu quebra-cabeças montando...
Eu em mim mesma me encaixando.
Quiçá um dia direi:
Agora sou...
sou tudo o que em mim minha vida juntou.

⁠Nunca igual

Nuvens sombrias pairavam sobre as colinas.
Sentia-se no ar o cheiro que antecede os temporais.
Na enseada um pensamento flutua ao acaso.
As ondas batem forte no costão.
Uma sombra insistia em cobrir o tempo.
Lápis-carvão esfumando o fim do dia.
Uma noite que chega com a força de um tufão...
Sinto o peso do abismo.
Meu olhar direciona-se para o ponto-final.
Morre outro dia.
Como todo dia acontece.
Mas nunca igual.

⁠Essa saudade, que dor...
Que dias sem expectativas.
Foi-se seu tempo.
Esvaiu-se no ar como o perfume da flor.
E a vida continua normalmente a bailar.
Como se a morte não tenha acabado de te levar.
Triste.
Sigo.
Ou não...
Sei lá.
Acho que de agora em frente estarei sempre na contramão.
Uma incerteza audaz e intempestiva...
Por que insiste em me manter viva?
Já respirou minha alma a magia...
Já bateu meu coração de alegria.
Já brilharam meus olhos ao te ver...
Hoje me dedico a tentar te esquecer.
Um céu de outono que não se acaba mais.
Um medo do agora... e do que virá depois.
Dor na alma...
O ir e vir tão imperfeito.
Quem escreveu que as vidas deveriam ser desse jeito?

⁠Te foste

Ah! As cicatrizes...
Os meus olhos de silêncio.
Sempre que me cortavas...
Palavras duras.
Palavras silenciadas.
Lembro-me do quanto odiava os dias assim.
Mas não conseguia me desvencilhar.
Estava amarrada.
Presa.
Colada.
Sangrava a pele.
E um algodão-doce me adoçava.
Hoje já não sinto tua falta.
Nem do algodão-doce.
Te foste, graças a Deus, de mim te foste.