Coleção pessoal de rosaborges
Um dia, volveremos ao infinito.
Onde estaremos? E o que seremos?
O nada do infinito não responde,
pois não há ninguém para escutar.
Não há explicação para a alegria,
nem nos interessa explicá-la.
Porém, a doença, o sofrimento,
a velhice e a morte inevitável
nos fazem pensar que a vida
tem alguma explicação.
O tempo nem sempre apaga
as nódoas do já vivido,
principalmente o sofrido
e as fundas marcas do amado.
Onde o sonho não é possível,
começa o território do vazio,
o oco do ser, o chão do nada,
a despercepção e a desmemória.
Saudade há que dura um corpo:
é chaga para toda a vida.
Sangra quando lembrada
e nunca mais cicatriza.
Além de átomos e células, somos feitos de palavras.
Porém, além das palavras, o Reino do inexprimível.
As palavras nada são além de grafia e som em obscura semântica.
Os idiomas são feudos.
Além da palavra, o abismo silencioso do Nada.
A sabedoria é ágrafa.
Entre as palavras e os fatos, o vácuo da incompreensão.
Fatos se tornam sonhos
e sonhos se tornam fatos.
Qual deles é o real?
O fato que já passou?
O sonho que ainda é sonho?
Apegar-se ao conhecimento é o mesmo que se apegar às coisas.
Todo apego, seja de que natureza for, é uma prisão.
Quem não é livre do que sabe, não pode aprender sempre.
Sábio não é aquele que se imobiliza no seu vasto saber, mas aquele que é capaz de renunciar a tudo o que sabe para saber mais.
Um vazio pulsante é o que somos,
vivendo na ilusão da solidez.
Matéria são vazios que colidem.
As formas são momentos do vazio.
Tudo é mudança.
Mas, o que dirige
a universal mudança do vazio?