Coleção pessoal de rosaborges
Liberdade de uma folha
girando solta no ar,
nas circunstâncias do vento,
o vento que é sem caminho
embora seja caminho
onde vaga o seu voar.
Se o vento é que nos dirige
por que, folha, nós queremos
dirigir nosso voar?!
Da janela do presente
observa-se o presente
com os olhos do passado.
Da janela do presente
observa-sse o futuro
como extensão do passado.
Quando somos o presente,
não há futuro e passado,
porque só há o presente
observando o presente.
Sentimos a flor conforme a vemos
não pelos átomos que a compõem.
Quem disseca a flor, não vê a flor.
É procurar o homem no cadáver.
Somente quando te fizeres vazio,
experimentarás o Vazio.
Somente quando não tiveres vontade,
conhecerás a Vontade.
Somente quando deixares de ser,
encontrarás o Ser.
Somente quando te despojares
do que julgas ser teu,
possuirás o que é teu.
Somente quando te sentires vazio de tudo,
reconquistarás a Plenitude.
Só somos uma vez e nunca mais:
não há repetições na Natureza.
Não se confunda o som com o seu eco.
Os fantasmas são ecos que assombram
os ouvidos sensíveis da saudade.
Ninguém vai chorar por você,
mas pela falta que você fará,
a companhia e a presença,
o tempo compartilhado,
os espaços preenchidos,
seu ouvido disponível,
sua voz consoladora.
A morte destrói o corpo,
não o amor que ficou,
embora em dor e saudade.
Lembrança é quase pessoa,
vagando por toda a casa,
perfume de coisas órfãs,
gemendo em cada lugar.
Não vejo as tuas pegadas
nem escuto os teus passos,
pois és feito de silêncio
e de invisibilidade.
O real não é a medida
da nossa percepção.
Eu creio no que não vejo,
no que não ouço, nem toco.
Os sentidos me apequenam
e a razão me aprisiona,
o corpo me faz mortal.
Tempo e espaço são o cárcere
do prisioneiro ilusório.
Quem crê em suas paredes,
não pode ver o infinito.
No agora não há palavras:
o que se fala, passou.
A palavra é sempre eco
do que não existe mais.
A percepção é agora.
O pensamento é depois.