Coleção pessoal de rosabergcine
M e T a M o R f O s E
Em um segundo,
Fui de herói a moribundo,
Perdi meu sorriso nas esquinas
E chorei até não poder mais.
Num outro segundo,
Alcancei-me fugindo de mim mesma,
perdida feito bêbado na madrugada,
calçando botinas para chutar a vida.
Fui capaz de atravessar as avenidas da loucura,
amar tudo e não amar ninguém,
ser infeliz na minha felicidade
e incapaz de me reconhecer na minha identidade.
Embebedei-me no fel de meus sentimentos
Fui megera de minha própria alma
Tornei-me ruína, fiz-me pó, evaporei.
Mas com tantos segundos nessa guerra,
fui capaz de acordar a minha fera
e ressurgir para vida que me espera.
GOSTO DE VOCÊ
Gosto de você. Gosto desse seu jeito manso de chegar e da meiguice que carrega nesse olhar. Gosto dessa sua voz doce e suave que me acalma e das novidades que sempre tem para me contar. Gosto dessa sua vivacidade carregada de poesia, repleta de fantasia, que faz o meu dia clarear. Gosto desse sorriso enorme na sua boca e das gargalhadas que você dá. Gosto dessa sua alma cheia de luz, que vibra em sintonia com o meu caminhar. Gosto de sentir a sua pele em minha pele, quando em meu colo vem se deitar e dos seus abraços apertados de quase sufocar. Gosto de suas perguntas sem respostas e das respostas que inventa, quando não sabe o que falar. Mas o que eu quero mesmo dizer é que, mesmo que tenha algum defeito, de qualquer jeito, gosto de você
ANIMAL FERIDO
Sou o improvável por detrás da cortina da neblina que me sublima. Distraída morro nos versos desconexos que me alucinam e que devoram as minhas horas sem rima. Corro em disparada em direção ao infinito, carregando, no meu dorso, a minha carga e soltando talvez o meu último grito de animal ferido. A luz do sol queima a minha pele e abre os meus poros. Banho-me no sal do meu suor na tentativa de aliviar a dor de minhas feridas expostas. A minha boca está seca, a língua rachada, tenho fome, sede e febre alta. Estou exausta. Antropofágica, devoro a minha própria carne e sacio a minha sede bebendo no oásis de minhas próprias lágrimas, com furor. Como uma corredora, no deserto de minhas fragilidades, vou em frente. A brisa que sopra acaricia o meu corpo quente e o deixa dormente, abstraído de sua condição. Neste exato momento, sou toda coração e para cumprir mais essa etapa, cuja única meta é conseguir chegar ao final da estrada, libero o que sobrou de mim para vibrar no ritmo de sua pulsação.
DE REPENTE
De repente, a gente se dá conta que estava distraída e tropeçou.
De repente, a gente se dá conta que a própria vida se desgovernou.
De repente, a gente se dá conta que as coisas não deram certas, mas que tentou.
De repente, a gente se dá conta que o duelo foi provocador, mas acabou.
De repente, a gente se dá conta que foi vencida, mas lutou.
De repente, a gente se da conta que para não morrer de tédio é preciso se salvar.
De repente, a gente se dá conta que a música que toca não afaga mais.
De repente, a gente se dá conta que era importante e agora está demais.
De repente, a gente se dá conta que não dá para voltar atrás.
De repente, a gente se dá conta que está na hora de ir embora, que o melhor,agora, é dar o fora, porque a gente também não aguenta e nem quer ficar mais.
DESPEDIDA
Sairemos daqui, iremos embora e carregaremos os nossos fragmentos que continuam impetuosos dentro de nós.
Queremos a precisão da razão que nunca existirá.
Os pensamentos esculpidos na vibração de nossos cérebros nunca se dobrarão nas molduras das formas dos desejos.
Na plasticidade de nossos sentimentos, tentaremos nos salvar para não morrermos asfixiados dentro de nós.
Por nossos olhos, com vigor, vazam a dor e o desespero pelos sonhos fabricados que flutuaram vagabundos no tempo e se perderam no silêncio.
Vamos embora, vamos rápido.
Não deixemos que a vulnerabilidade das horas nos torne mais frágeis e nos consuma até a morte.
Nem que a tempestade das incertezas nos assombre com as injúrias e com a veneração do ódio.
Nós não merecemos.
Nesse raiar da loucura, vamos substituir às pólvoras de nossos canhões dessa guerra fria, pela vibração das luzes que se acendem dentro de nossas almas inquietas que caminham lado a lado distraídas, perdidas, entorpecidas na trajetória das vaidades.
Vamos, vamos logo.
Tudo deu errado, não temos como negar.
SE EU TIVESSE PERCEBIDO
Se eu tivesse percebido, não teria permitido você entrar pelas minhas frestas e depois quebrar minhas arestas para me machucar.
Se eu tivesse percebido, teria refletido e as suas propostas ficariam todas sem respostas.
Se eu tivesse percebido a sua intenção, não beberia no mesmo e copo e não teria composto uma canção.
Se eu tivesse prestado mais atenção, ignoraria todos os seus sinais, teria saído de perto e não me incomodaria em caminhar pelo deserto.
Se eu tivesse prestado mais atenção, não teria me distraído com as horas, teria ido embora antes do sol sumir.
E quando o sufoco se parecesse com um louco e sorrisse para mim mostrando os dentes, eu morderia com vontade a sua boca, até sangrar.
Olhares vazios,
olhares vadios,
olhares de promessas,
olhares de propostas,
olhares com ou sem intenções,
olhares perdidos,
olhares bandidos,
Não importa!
Basta-me achar um olhar à disposição para acelerar as batidas de meu coração.
Meus ouvidos estão atentos à marcação de meus passos no tempo, para que meu corpo não se perca no manicômio de meus sentimentos.
PONTO FINAL
Nenhuma reticência, nenhuma exclamação, nenhuma interrogação, agora é a vez do ponto final.
A fase termina, as frases terminam e quando terminam é ponto final.
No ponto final, o sonho ficou, o amor se guardou, a paixão que marcou pediu ponto final.
No ponto final, o grito se calou, a dor se abrigou, a ilusão se curvou e pediu ponto final.
No ponto final, a tempestade da loucura cessou, a mágoa se trancou, a tristeza voou e pediu ponto final.
No ponto final, o pecado se eternizou, o desejo se estagnou, a hora parou e pediu ponto final.
No ponto final, a compulsão da busca se acalmou, a indiferença não mais machucou, a tentação da luxúria sossegou e pediu ponto final.
No ponto final, o seu sorriso continuou, a sua voz silenciou, a ilusão se desassombrou e pediu ponto final.
No ponto final, o ímpeto de lhe ver adormeceu, a alma se entorpeceu, a saudade morreu.
Depois do ponto final, a vida me pegou no colo, de minhas feridas cuidou, com voz suave me acordou e um segredo me contou: depois do ponto final, vão existir outros lugares, outras pessoas e tudo vai começar de novo, porque depois do ponto final, tem outro ponto, e outro...e outro....e de novo, ponto final.
NÃO CONFIE NOS POETAS
Não confie nas juras dos poetas.Eles são verdadeiros ladrões de sentimentos, roubam-lhe as paixões e se apoderam das carícias do vento. Na convicção de suas loucuras, se tornam seres alados, capazes de voar no firmamento, só para assaltar as almas distraídas e lhes arrancar os segredos, tirando-lhes o sossego, fazendo-lhes chorar. Não confie nesses seres esquisitos, amigos íntimos e fiéis das madrugadas, que usufruem de suas dores, de seus prazeres, de seus amores, só para inventarem poemas, fingindo que os versos são seus. Não confie nos sonhos desses magos, que despertam palavras cheias de intenções, que se consagram aos Deuses pagãos em grandes rituais de invocação. Não confie nesses Anjos iluminados, que se assentam, sem pedir licença, do seu lado, estão ali para que pense que estão tomando conta de você, fazendo-lhe de carinho enternecer e assim, sem que você perceba, obrigá-lo a abrir o coração que tanto eles desejam roubar. Não confie nesses falsos libertadores que nem as próprias dores sabem curar e que chegam de mansinho para lhe acalentar. Não confie nesses falsos Profetas que, em alto e bom tom, lhe pedem atenção e lhe sopram aos ouvidos palavras bonitas do seu poetar. Não confie nessas Divindades cativas dentro de si próprias, que se vestem em armaduras e se disfarçam para sobressaltar os seus anseios mais profundos, fazendo-os ressuscitar. Essa é a maneira de como conseguem se alimentar. Não confie nesses Poetas, não confie, porque assim que você lhes der inspiração, eles vão se levantar, vão lhe beijar e por fim vão lhe abandonar.
ALUGA-SE UM CORAÇÃO
Aluga-se um coração. É um coração grande com muito espaço. Tem até área de recreação. Não é a primeira locação, mas está limpinho e em ótimas condições. Tem armários embutidos, nada precisa ficar fora de lugar, há espaço para se guardar todas e quaisquer emoções. A sala é uma sala ampla e tem grande lareira que, no inverno, aquece o fogo da paixão. Todos os quartos têm varandas que dão de frente pro mar, um presente ao morador que sempre terá a chance de sonhar. Tem também uma suíte presidencial, com elevador privativo, um lugar de estadia a ser oferecido a uma pessoa especial. Todos os cômodos têm música ambiente para que esse coração seja um lugar contente. Todo o ambiente é muito ventilado para que ninguém se sinta sufocado. O preço? Não se preocupe, o preço, garanto a você, é preço de ocasião.
SE ALGUÉM ME ACHAR ,FAVOR ME AVISAR,
Perdi-me de mim mesma, procuro-me por mim desesperadamente e não consigo me encontrar.
Já revirei os meus armários, baguncei minhas gavetas, arrastei até o do sofá, mas também não me achei por lá.
Refiz os caminhos de volta dos mesmos lugares de onde vim e nem sinal de mim.
Quem sabe estou dentro de um envelope largado num canto qualquer e me esqueci de anotar no seu conteúdo que eu estou lá?
E se me rasguei sem querer e me joguei inteira no lixo sem perceber?
Como é que vai ser? Não quero nem pensar!
Afinal, preciso estar comigo para viver, tenho obrigação de me achar.
Abro os livros que estou lendo, de repente, quem sabe? Virei marcador da página onde a leitura tive que parar.
Mas que nada, infelizmente, também não estou lá.
O desespero me domina, a memória não ajuda, fico que nem barata tonta tentando pensar onde posso me encontrar.
Já chamei até São Longuinho, dei-lhe de gorjeta, antecipadamente, três pulinhos, quem sabe ele pode me ajudar?
Parece que nem ele consegue me achar.
Respiro fundo porque preciso me acalmar.
Sento na beira de minha cama tentando me lembrar quando foi a última vez que me vi em algum lugar.
Estou pensando até em colocar a minha foto num jornal dizendo que desapareci.
Que desespero! Não me acho e não consigo me lembrar de onde eu possa estar.
Então, não vejo outro jeito a não ser o de apelar para quem me viu passar por algum lugar.
Amigos! Se vocês me viram por aí a perambular, avisem-me, preciso de mim com urgência e irei correndo até onde for preciso, para me buscar.
Preciso de mim.
TOPAS?
Se você topar!
Vamos nos encontrar,
sentar em algum cantinho para conversar.
Tomar um café com leite,
com açúcar, sem açúcar,
como você gostar.
Se você topar!
Vamos falar besteiras,
nos contar nossas asneiras
sair desse lugar.
Comer um cachorro-quente,
com maionese e batata-frita.
Como você gostar.
Se você topar!
Vamos caminhar no tempo,
sentar na calçada ao relento, vamos nos falar.
Comer pipoca-doce e lambuzar os dedos no mel.
Como você gostar.
Se você topar!
Vamos assistir a um filme,
só para depois criticar.
Tomar uma coca-cola,
com limão ou sem limão.
Como você gostar.
Se você topar!
Vamos morrer de rir,
falar da vida alheia, vamos fofocar.
E no final desse encontro,
abra os seus braços e me dá um abraço de aninhar.
Para que na hora da despedida,
se pudermos ainda,
fazermos as promessas de nos reencontrar.
Se você topar!
Cada um carrega o que pode,
E se pode, ainda carrega um pouco mais.
Sendo assim, serei o navio de minha insanidade
Navegando nas tormentas em busca de cais.
INVASÃO DE ALMA
Com o olhar posso invadir sua alma.
Sei dos seus medos, de suas incertezas, de suas sutilezas para fingir tudo bem.
Sei de suas lutas, sei de seus percalços, seu corpo emite sinais.
No seu silêncio, posso escutar suas vozes internas.
Sei de suas palavras engolidas, de suas vontades escondidas, de suas falas negociadas para fingir tudo bem.
No seu isolamento, posso ficar perto de você.
Sei de suas dores, sei de seus sonhos, sei de seus medos, mas você sempre tem uma boa desculpa para fingir tudo bem.
Na sua autodeterminação, posso escutar seu coração.
Sei dos seus desafios, sei dos seus desatinos, sei de suas intenções para fingir tudo bem.
Sua tristeza, no entanto, fica exposta à mesa para qualquer um enxergar, porque essa você não consegue abandonar.
E já que lhe conheço a alma, tenho o direito de lhe pedir calma para que bote brilho no olhar e nesse rosto que gosto de ver sorrindo, porque não suporto nunca ver você chorar.
MENTIRAS
Não suporto perversidade,
Nem tão pouco maus tratos.
Não suporto agressividade,
Nem tão pouco falsidade.
Não suporto desagravo,
Nem tão pouco humilhação.
Não suporto fingimento,
Nem tão pouco desacato.
Não suporto bater,
Nem tão pouco apanhar.
Não suporto desatinos,
Nem tão pouco suas consequências.
Não suporto falsas palavras
E nem tão pouco grandes MENTIRAS.
Por isso, não diga mais nada
Porque de minha parte, a partir de agora,
Prefiro ficar calada
Hoje, acordei de um sonho.Por isso, vou beber um refrigerante, comer um chocolate que suje os dentes, que suje os dedos, que adoce a boca, que me faça feliz o dia inteiro