Coleção pessoal de RoneyRodrigues
Me leva na sua bolsa,
perto do teu kit de maquiagem,
perto das chaves do teu coração.
Me guarda no calor no teu colo,
enriquece minha presença
com memórias suas.
Me leva pra onde você for.
É só você chamar
que eu vou tropeçando.
Faz mais frio aqui nessa mesa
do que no bolso daquele teu
jeans preto rasgado.
Me alegra ser um chaveiro,
pois de vez em quando,
eu fico grudado em você.
Roney Rodrigues em "Chaveiro"
Acredite, palavras são profecias. O que é dito volta com a ferocidade de um furacão ou com a maciez de um lábio apaixonado. O dia ainda não acabou, aproveite cada oportunidade para espalhar a cura de uma palavra boa.
Quando um abraço acontece,
os corações se esbarram,
o calor estremece as veias,
as pontas soltas se ligam,
o relógio se retorce
e o tempo desacelera.
Amar é um grande descompasso,
é curvar o tempo e ser eterno
nem que seja apenas
por um momento.
Roney Rodrigues em "Descompasso"
O inverno corta rente a carne
a ferida arde mais em quem sente
mais que os outros.
Em um ponto de ônibus qualquer
as horas demoram para passar
e o vento assopra loucuras geladas
no ouvido de uma moça que deixa escapar algumas lágrimas,
ela recolhe algumas gotas que caíram.
Com um lenço vermelho ela impede que vejam a fragilidade.
O frio mais assassino é um coração polar,
um coração tão frio que afasta qualquer alma
que ouse se encostar para esquentar.
Roney Rodrigues em "Coração Polar"
Me recordo muito bem,
eu, maestro do silêncio sabia te silenciar,
meus métodos impecáveis te jogavam pra longe
lembro da imagem do seu rosto inocente reluzindo
como um cometa e me acertando em cheio,
eu acordava suado no meio da madrugada
e ficava acordado até meu corpo se apagar,
porque minha mente nunca se apaga,
ela está sempre ligada repetindo meus erros
me levando para um passado recente
transbordando minhas lembranças.
O passado é um trem carregado apitando e saindo da linha, eu nunca fui bom corredor e sempre perco essa corrida.
Roney Rodrigues em "Memória Fumaça"
Esses meus ombros magros
foram feitos para carregar você
e todos os seus problemas,
não hesite em me chamar,
eu volto correndo
eu me aconchego
em qualquer lugar.
Roney Rodrigues em "Meu Corpo Seu"
É fato que já é noite
e que a madrugada se arrasta
para dentro de mim.
Eu fico girando o mundo
que levo nas costas
vagando minha memória
à procura de sono.
Antes de adormecer
eu fico repetindo
os fatos do dia
O vento atravessando
meu tênis rasgado.
O rancor exibindo
sua cara lavada no noticiário.
A 'vodka' voltou para minha mão.
É fato que os malditos fatos
afetaram o meu afeto.
Roney Rodrigues em "Os fatos te afetam?"
Eu sobrevivo
com essa vaga recordação
do seu lábio.
Você costumava ter
um leve gosto de morango
e era linda e gelada
como um floco de neve.
Roney Rodrigues em "Snow White Queen"
Oh mãe,
eu já sei escrever.
Acumulei tristezas mãe,
tenho pauta pra sofrer.
A vida aqui não é fácil,
como você disse que seria.
Eu devia ter ouvido mãe,
eu podia ter mergulhado
no seu abraço.
Podia ter chorado
no teu colo quente,
não nesse piso gelado.
Roney Rodrigues em "Ladrilho"
Eu furei o dedo
hoje cedo ao tentar
cortar o pão.
Não reclamei,
não chorei em vão.
Meu amor, eu sabia
Cortar o dedo
Não é nada,
pra quem cortou
o coração.
Roney Rodrigues em "Batom Vermelho"
Quilos de maquiagem
em seu pescoço
para apagar as marcas
dos meus beijos.
Litros de bebidas alcoólicas
em sua despensa,
para detonar a solidez
do meu gosto.
Roney Rodrigues em "Contusão"
em meus passos surdos
invado uma sala lotada
em meus fones uma utopia
em meu peito uma poça
essa umidade acumulada
se agrava quando o inverno vem
uma poesia escrita
com tanto desdém
no verso
de uma nota fiscal,
um rascunho de mim
exposto no aperto
de um bloco de notas
uma mancha de café
difama o branco
da minha gravata
uma ansiedade escarlate
mancha a neve
do meu sorriso.
Roney Rodrigues em "Ansiedade Escarlate"
É sempre inverno para a criança iraquiana
Mesmo quando o vento do deserto abrasa a terra
o frio do coração grita alto do outro lado do portão.
O céu está carregado, bombardeiros ou nuvens?
No telhado de uma escola um morteiro aguarda calado,
enquanto a professora tenta ensinar sem ser interrompida por explosões.
Comida quente, dignidade e uma bandeira branca é o que almeja essa geração.
Torpedo no celular?
Essas crianças nunca ouviram falar,
mas quase todas elas sabem
o que fazer quando o torpedo despenca do céu.
Todas tem medo de demônios,
demônios humanos vestidos de preto
que aparecem na madrugada
para ceifar cada vestígio de felicidade.
O Eufrates é mais sangue que rio,
é mais morte que vida.
A maior arma da briga por terra ainda é o terror.
Eu clamo em voz alta:
Qual terror é maior do que mutilar crianças indefesas?
Qual terror é maior que jogar gasolina no direito à vida
e acender a chama da violência?
De bomba em bomba a humanidade regride ao pó.
Do outro lado do mundo, a justiça cega adormece
em leito quente e acompanha tudo pelo noticiário local.
RODRIGUES, Roney