Coleção pessoal de RMCardoso
SEM NOME E SEM RIMA
Na precária
quietude
que orbitava
a noite
preparei
um
poema
sem
nome
e sem
rima.
NOITE
Da janela
entreaberta
vejo
o galopar
das horas
no estirão
da noite...
Os rangidos
do vento
rasgam
o silêncio
lá fora.
BAILARINA
Nos palcos da formosura
Tu bailavas, sutilmente,
E a plateia, intensamente,
Te aplaudia com fervura!
Eu, então - quanta loucura! -
Em meio àquela gente,
Vibrava, incessantemente,
Com tua desenvoltura!
Mas o tempo, alheio a tudo,
Foi passando livre e mudo,
Te roubando a a galhardia.
Hoje, brilha o teu bailado
Entre as luzes do passado,
Sem plateia e euforia!...
SEGREDOS
Há
tanto
tempo
tento
domar
os teus
medos,
no ardente
e doido
intuito
de romper
os teus
segredos.
AS APARÊNCIAS
Já não creio em total felicidade
Dos mais enamorados corações.
Quem propaga ter um bem de verdade,
Muitas vezes, imerge em ilusões.
Quem busca eternizar a afinidade
Nem sempre colhe doces emoções,
Onde se julga haver serenidade
Prosperam turbulentas sensações.
"Ninguém é de ninguém" - assim se diz;
"Aparências enganam" - isto é certo.
No amor a gente sempre é aprendiz.
Se agora alguém te quer e vive perto,
Depois parte olvidando que te quis
E tua vida torna-se um deserto.
SALMO
Cantar a mudez
Das horas inválidas,
Colorindo a tez
Das noites tão pálidas.
Cantar o vazio
Das coisas perdidas,
Do ser doentio
Curando as feridas.
E cantar o agora,
O amanhã também -
Cantar revigora
E à alma faz bem.
Quem canta afugenta
Agruras e dor
E faz da tormenta
Um salmo de amor.
CIRANDA
Noite
morna
de verão.
No sublime
azul,
estrelas
brincam
de poesia
feito
crianças
brincando
de ciranda
no terreiro
de outros
tempos!...
SONHANDO
Sonho ver a gente
Isenta de abrolhos,
Para que os meus olhos
Brilhem, plenamente!
Sonho ver o mundo
Sem fome, sem guerra
Para que, na terra,
Haja amor profundo!
No ombro deste sonho
A esperança eu ponho
E sigo o caminho,
A certeza levando
De que, por onde ando,
Não ando sozinho!...
TEMPOS DE ANGÚSTIA
...E quando noite de inverno,
Chovia, chovia
Batia o frio na pele
Batia o frio nos nervos
Batia o frio na alma!
A angústia insistia
Em conversar com a solidão!
E a lentidão das horas
Varria, varria
O alento e a calma!
MEU VÍCIO
O jogo
Do amor
É fogo! -
E não
Se ganha
"No grito" -
Pois logo
Se perde
A calma
E a alma
Entra em
Conflito!
Ganhar?
Perder?
Isso é
Do jogo,
Faz parte
Do ofício.
Por isso,
Eu jogo,
É esse
Meu vício.
COLISÕES
Há,
nas estradas
de nossas
vidas,
algumas
colisões
entre
o passado
e as lembranças,
que deixam
nossas
almas
levemente
machucadas
ou,
intensamente,
feridas!...
VIDAS AMARGAS
Quando Saúde, Trabalho
Segurança e Educação
Deixarem de ser promessa
A cada irmã, cada irmão;
Quando for reconhecido
O valor de quem trabalha,
Quando se tiver certeza
Que a Justiça nunca falha;
Quando o medo e a violência
Se transformarem em paz
E a relação entre os povos
Tornar-se mais eficaz;
Quando o amor vencer ao ódio
E o riso vencer ao pranto,
Quando a Fé e a Esperança
Já não nos faltarem tanto;
Quando já não mais houver
(Sem sonhos e sem escola)
Uma criança na rua
E alguém pedindo esmola;
Quando ninguém mais sentir,
Dos males do mundo, as cargas,
Quantas vidas, certamente,
Deixarão de ser amargas!...