Coleção pessoal de ReynaldoAraujo

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Ele ridiculariza minhas grandes sentenças de morte, de impossibilidades, de não posso mais viver assim. Hoje é domingo e tem sido domingo desde então.

De qualquer canto da minha casa dá pra ver a porta. Só moro com muita janela.
Eu olho pra fora, confiro a validade do passaporte. Saber que só existe oxigênio aqui na Terra me dá claustrofobia.

Pensando em você:


Se você acordar e tentar se encontrar, e se por um instante se pegar sozinho, pegue o telefone e me ligue. E eu vou dizer: Vamos chutar esse dia juntos. Vou correndo verificar se meu coração ainda bate por você, vou deixar você ficar, vou deixar você me ver sorrir.

Hoje quando acordei eu tive a certeza que nosso amor se enferrujou, e através dessa janela eu vejo um dia melhor. Talvez eu feche as cortinas, talvez não.

Talvez eu apague a luz, mas minha luz é você.
Você é meu vazio, as cores mais bonitas de um vestido de verão, meu amor, você está em todas as coisas que caem do céu. O Sol, a chuva, a lua, a luz.

Apesar de tudo, eu irei lhe abraçar quando se sentir necessitado.
Por isso querido, não chore, apenas inspire e expire.
Você não está sozinho!

TEXTO:
SACADA.


- Te achei.
- Eu sabia.
- Sabia o quê?
- Que iria me achar.
- Sou tão previsível assim?
- Não.
- Então por quê achou?
- Porque eu acho que ainda acredito.
- Acredita em quê?
- Nas pessoas.

Ela levou a taça de vinho na boca e deu o primeiro gole. Ele enfiou as mãos no bolso e procurou por algo, em seguida arrancou um maço de cigarro. Tirou um, acendeu, e tragou. A luz do ambiente era pouca, mas mesmo assim reluzia os olhos verdeados dele. A brisa soprava os cabelos da moça desarrumando-os e os jogando frente ao seu rosto.

- Isso vai te matar.
- O cigarro? - Perguntou ele tragando mais uma vez.
- Sim.
- Relaxa moça. Não morri nem de amor, quem dirá de cigarro.
- Já amou alguém?
- Já. Umas duas vezes.
- E eu achando que só se amava uma.
- Não. As pessoas amam uma, amam duas, até três.
- Vezes?
- Vezes, e pessoas. E você, já amou alguém?
- Já. Um homem qualquer. Ele me fez acreditar que eu era especial, mas eu acho que a ex namorada continuou sendo mais especial que eu, o final você pode adivinhar, eu deixo.
- Te traiu?
- Sim.
- E o que ele disse?
- Que passava os finais de semana com a mãe.

Os dois estavam numa sacada de um bar de uma cidade grande qualquer desse mundo. Ela olhava o trânsito lá embaixo e ele acompanhava as estrelas. Ela se preocupava com a luz do ambiente, e ele se preocupava em arrumar as mechas rebeldes de seus cabelos que caiam sobre seu rosto.

- Preciso ir. - Disse ela.
- Mas já?
- Sim. Está ficando tarde.
- Mas são apenas onze da noite.
- Ele está me esperando.
- Quem?
- O cara que eu amo.
- Mas...
- Mas?
- Achei que você não tinha ninguém. Ele te traiu.
- Sim.
- Por que ainda está com ele?
- Você, assim como eu, sabe que a gente não escolhe.
- O que não se escolhe?
- Quem se ama. A gente não escolhe.
- Pode ser por medo.
- Medo de?
- De viver. De se redescobrir. Redescibrir novas vontades, novos sorrisos, novas fragrâncias. Já tentou?
- Eu gosto da forma como eu me sinto ao lado dele. Não me importo que ele me traia, eu só quero ter a certeza de que no final do dia ele estará em casa.
- Mas e se um dia ele não voltar?
- Eu vou continuar esperando.
- Esperando por nada?
- A gente sempre espera por algo.

Os dois ficaram mudos. Ela tomou o último gole da taça de vinho. Se afastou da sacada, olhou o garoto que estava ao seu lado. Camisa preta de rock, calça jeans caída, e cueca preta de elastano aparecendo. Ela vestia um vestido de griffe e usava brincos de prata, seu saltos eram os mais caros, e a taça na qual bebia era de cristal, enquanto ele fumava um cigarro de baile e tomava cerveja em um copo descartável. O garoto manteve o olhar fixo no céu como quem buscava alguma coisa, alguma estrela cadente para realizar um pedido.

- Te vejo por aí. - Disse ele.
- A gente se esbarra. - Se despediu ela.

A garota pegou a sua comanda, foi até ao caixa e passou com um cartão de crédito cinco estrelas. Passou a mão nos cabelos e jogou-os para trás, olhou para o relógio em cima da porta, pegou a nota e agradeceu ao menino do caixa. O relógio apontava onze e dez, ela certamente estaria atrasada. O garoto da sacada olhou para a porta de saída até que a perdesse de vista no vão da escada. Abaixou a cabeça e deu o último trago no cigarro, segurou-o pela ponta e o soltou ao ar livre de onde estava. Encheu mais uma vez o copo de plástico de cerveja, e cruzou os braços sobre a sacada do bar. Seu olhar era de um cara que não se preocupava com nada, apenas com o que seria da vida dele no amanhã, e imaginava a garota que já tinha uma vida toda planejada. Ele era exatamente um nada.

- Eii... Me dá um cigarro. - Voltou a garota.

Ele estendeu o maço e a garota retirou um, acendeu e tragou.

- Isso vai te matar.
- Não morri nem de amor, quem dirá de cigarro.
- Está atrasada.
- Cansei.
- De quê?
- De continuar voltando pra casa, e esperar.

Mesmo que seja temporário, eu sei que posso te chamar de meu.

Eu só queria alguém que batesse em minha porta, cheio de amor pra dar.

Eu poderia estar aqui agora, mas a minha cabeça estava lá na frente, sonhando, pensando, voando.

Soltei as mãos da borda, e mergulhei, até que me faltasse o ar.

Ele estava deslumbrante, realmente lindo, e eu estava prestes a partir seu coração.

A melhor parte de viver intensamente é que tudo é momentâneo. Pelo menos por hora.

- Posso te perguntar algo?

- Claro. Todas as coisas desse mundo. - Respondeu ele.

- Quando namorávamos... O que fez você gostar de mim? Como era eu?

- Olha... Eu gostava da sua autenticidade... - Respondeu ele que logo em seguida deu um sorriso de canto de boca, era um sorriso orgulhoso, de quem estava tendo um momento nostalgia. - Você não forçava nada para mostrar quem você realmente é. Você era quente, carinhoso, e eu gostava de você porque eu adorava discutir com você e depois pedir desculpas cheio de beijinhos. E além do mais você é sarcástico, irônico, e muitas vezes dramático.

- E isso é ruim? - Com as mãos no bolso, sorri sem graça.

- Algumas dessas coisas podem parecer defeitos para alguns. - Ele deu uma pausa, me olhou nos olhos, e concluiu. - Mas pra mim nunca foram.

...apesar de tudo, você ainda é a primeira coisa que penso quando me dizem: Faça um pedido!

Hey garoto, pode entrar. Pode entrar na minha vida, no meu coração, na minha cabeça, mas só não repare a bagunça, por favor. É que deixei entrar gente de menos por aqui.

E eu agora paro e me pergunto; Será que a gente sabe pra onde ir quando não temos nem a certeza de onde queremos chegar?

Tenho lembrado todas as manhãs da palavra "Paciência". Temos que ser pacientes naquilo que esperamos e acima de tudo sermos pacientes com quem nos cerca e com o que fazemos no cotidiano. Porque nada é bom sem paciência, até mesmo nós.

Há tantas coisas que eu gostaria de te dizer, porém me encontro em completo estado de inércia.

- Me deixa quebrar essa sua armadura?
- Enquanto não consegue me paga um whisky.

Não vou esperar por suas atitudes, nem sua maturidade. Há uma fila aguardando por mim lá fora! Próximo por favor.

Eu amo, e pra não sofrer às vezes trato mal.

É mais ou menos isso. Ou quase isso. Tanto faz.