Coleção pessoal de ReynaldoAraujo
É irônico pensar que grandes amigos podem se tornar grandes estranhos, grandes amores podem com o passar do tempo se tornar experiências infrutíferas, sobretudo é doloroso saber que um mural de fotos com todas essas recordações dói mais que todas as lembranças.
Lavo meu rosto, tomo meu café, jogo no lixo uma escova de dentes que sobrava no meu banheiro e percebo que era a sua, empacoto, tomo meu banho, me lavo, me seco, me escorro pelo ralo.
E daí se minha vida for um livro sem marcação de páginas que o vento bagunçou e revirou todas elas numa frequência só? E daí se não foi feito pra ser meu? E daí se eu perder, e daí se eu chorar? E daí, e daí?! Às vezes a vida engana, a gente mente, e ela nos rouba, mancha nossos sonhos, corrói nossos planos, e o que nos resta ao acordar é lavar o rosto e dá-lo a bater novamente, e começar tudo de novo. E daí se tiver que ser? E daí...
O tempo é a pior de todas as coisas desse mundo. Ele te devora. Não espera por você, tampouco volta pra você.
É estranho explicar, mas eu sinto saudades de quem eu fui. Não que eu esteja completamente diferente do que eu era, mas eu estou.
Até que o tempo, o fuso horário, os quilômetros de distância, e todos os meus defeitos (que são muitos) nos separe.
- E se você conhecer uma outra pessoa?
- Não vou.
- Mas e se você conhecer?
- Não existe "SE" neste caso.
E às vezes nem é amor, é carência, é saudade, é entusiasmo, é falta. O amor acontece de diversas formas, e você está ali para ser atropelado. E como eu queria atropelar o meu Joãozinho, viu...
Você sorri, me beija, me chama de Rey, me coloca num trono. Eu fico feliz, e acabo deixando mais uma vez o eu te amo pro dia seguinte.
Me sento para lhe escrever, e de repente todas as minhas palavras se vão. Me sento para te falar o quanto eu realmente sinto, e o que eu realmente sinto, mas todas minhas palavras desvanecem. O meu tom se vai, e você permanece ali, intacto, me olhando com aquela carinha de cachorro sem dono que só você sabe fazer; aquela que me faz te levar pra casa todo o fim de noite, que me faz deitar ao teu lado e te dar abrigo, te aconchegar, de acobertar no nosso crime perfeito.
- Da próxima vê se tira esse boné pra falar comigo, seu moleque! – Gritou Ana.
- Sua maluca! – Resmungou Pedro que logo em seguida deu partida no carro.
..."Como vai?" você disse. "Me desliguei em um gancho errado, cansado de bater na madeira, é assim que eu vou indo" Eu quis responder. Mas me afundo em seus olhos, dois poços de lamas escuros, invendáveis, envolventes, não sei definir com precisão, um sorriso avassalador, fascinante, que me mata. De saudade, vontade, de tudo.
Grandes amizades escorrem pelas mãos, e as novas brotam como flores de primavera. E eu tenho que aprender a me desprender do passado, do meu quarto, da minha cama, dos meus velhos amigos (que me deixaram) eu preciso. E eu penso: Também mudei, será que eles me enxergam assim também? Sei lá. Sei lá. Só sei que eu continuo voltando pra casa, farto de tudo, ando longe, ando pensativo, ando preso, ando solto, ando por aí. Continuo me sentindo fora, deslocado, desplugado. Continuo me sentindo um peixe. Um peixe fora. Fora do meu aquário. Que se não fosse meu, eu....