Coleção pessoal de REGISLMEIRELES
ALGEMAS
Eu mesmo, as vezes, crio as minhas algemas;
Quando creio em tudo que me dizem;
Quando interpreto tudo por ângulo único...
Quando olho as coisas de cima para baixo.
E escuto sem ouvir...
Minhas emoções me traem;
Quando digo coisas por dizer...
E faço por fazer.
GENTE QUIETA
Gente quieta, de quem não se ouve som...
Nem sempre estar calada;
Gente que fala muito, gente que fala alto
Na maioria das vezes não diz nada.
O silêncio é ensurdecedor para os tolos;
Mas é conselheiro para os sábios.
Quem fala muito, diz pouco...
Quem fala pouco a seu tempo, diz tudo.
- MEDO DO MEDO
Todos os dias eu sigo um caminho.
Por trieiros novos e as vezes por calçadas velhas;
Enquanto ando percebo portas fechadas...
E janelas abertas... Sinto o cheiro do medo.
Vejo pessoas que me espiam...
Pessoas que olham para a rua
E parece que se escondem de tudo...
Outras vezes, parece que buscam inspiração para a vida.
Eu passo devagar, tento adivinhar o que sentem...
São prisioneiras de seus próprios medos?
Ou os seus medos são só do mundo?
Janelas que se abrem e fecham todos os dias;
Por trieiros novos e calçadas velhas.
Ando logo que o dia começa...
Também tenho meus medos;
Não é o medo do mundo.
Sinto o medo de me tornar prisioneiro dos meus medos.
DESEJO DE MENINO
O Menino queria ser passarinho;
E chora por não poder voar;
O menino é bobo...
Tem inveja dos passarinhos?
Só por que os passarinhos podem voar;
Bater as asas e ir a todo lugar?
O menino implica com o Bem-te-vi;
Diz que bichinho é convencido:
“Ele poder sair espiando por ai”.
E “da vida dos outros sabe tudo.”
O Menino quer conhecer o mundo.
Quer cuidar do planeta;
Não quer a terra seca, por isso, cuida d'água;
Sabe quanto o verde é bom, traz esperança;
No amarelo, ver seu tesouro.
O mesmo menino quer ser o namorado da lua;
Por isso quer ser astronauta.
Acha a lua bonita...
E de presente quer levar uma fita.
Quem sabe poderá morar em Marte?
- MORTO DA SILVA
Não sei para quem faz algum sentido, morrer?
Pelos menos aos que ficam.
Aos que se despedem da gente...
Depois que a gente se vai.
Parece que tanto faz, pois, já se foi.
Nunca mais querem nos ver.
Engraçado? Mesmo dizendo que amam.
Que amam aquele que se foi não o quer mais...
E preferem morrer de saudades.
a tê-los por perto, uma vez, que já se foi.
Morrem de medo da ideia de desenterrando
Não se encontre os ossos.
Morrem de medo de se ter saído do túmulo
e voltado para casa;
Onde não se será mais bem vindo.
Se estiver vivo se morre de medo dos mortos;
Se estando morto, se mete medo nos vivos.
Ainda que não se faça nada, estando morto.
Que se pareça está todo o tempo ali deitado,
Parado...sem piscar.
Morto da Silva!
SENTIMENTOS NEGROS
Já me fiz de branco sendo negro;
Queria me sentir melhor...
Não era por mim.
Era menino e pensava como menino.
Já me sentir branco, mas continuava negro;
Era eu sem ser eu...
Era pequeno e nada discernia.
Cresci...
Conheci a causa e o valor da cor;
Tudo ficou claro, esbranquiçado.
Esclarecido...
Cor é apenas cor, jeito é apenas jeito.
Tudo não passou da ideia de um menino...
Que sentia medo do mundo...
A PAIXÃO DO POETA
O poeta é apaixonado, é vidrado na vida;
Por cada dia e todas as noites.
Pelas horas que escreve suas poesias;
Pelas letras que usa nos seus versos;
Pelas palavras que formam suas frases
E por tudo que o inspira viver.
É apaixonado pelo branco do papel;
Pela pena e tinta preta.
Pela luz da vela de noite,
Pela claridade que entra pela janela durante o dia,
Que ilumina a sua escrivaninha.
É apaixonado pela sua musa inspiradora,
Por sua história de amor.
Por seu mundo e sua gente;
Pelos que estão sentados na praça à tarde
Pelos transitantes da rua.
A paixão do poeta é por tudo:
Tudo de bom que existe;
Por todas as coisas que consegue ver,
Pelas sete cores do arco-íris
E por sua cor preferida, o verde.
RESPEITO PELAS COISAS
Não me incomoda o incômodo;
Sei aonde é meu lugar no mundo.
Atiro-me só no que espero e quero,
E esmero-me para ser o melhor humano.
Se o meu lugar no mundo incomoda,
Peço, não se preocupe, a ocupação é breve.
Um tempo e já não sou...
Num estalar de dedos e já não estou.
A vida é breve...
O tempo corre e voa;
Muitas coisas passam, e já não voltam mais;
De outras que ficam, nada é demais.
Não me incomoda o incômodo;
Sei onde é o meu lugar ao sol...
Sei também aonde é o lugar das coisas
Pra ficar peço licença!
DEPENDÊNCIA DAS COISAS
Que se dite as inúmeras regras,
Que se achem os jeitos certos, mágicos...
Nem sempre valerá para todos, serão erros?
Somos todos diferentes, se é gente!
Ainda que grite os mandamentos;
Que os repita de dia e de noite,
Mas só o impacto na alma,
Fará - se abraça-los...
Ou será a carência?
Que se escreva os melhores livros;
As mais melancólicas histórias de amor.
E os mais quentes romances,
Mil e uma estórias de terror.
Cada qual sabe o que sente...
É incerta a dependência das coisas
É repentina,
É eterna...
OPORTUNIDADES NAS COISAS
Oportunidade se agarra, nunca se pendura;
Algumas quando não voltam, lamenta-se
Talvez não seja a mesma, quem se importa?
O bom mesmo é que mesmo passando,
A vida continua..
Oportunidade é boa...
A pequena é demais para alguém,
Vem o desdém...
A grande não vem para ninguém,
Se vem, é para tão poucos...
A perdida, essa é sempre boa para todo mundo
E há muito tempo se foi,
Pensou, passou e na mente pesou.
COISA DO TEMPO
Pensa-se: só hoje importa!
Ontem não existirá jamais.
Amanhã talvez nunca chegue...
Sempre se espera e ele nunca vem!
O que fazes hoje ?
Recordarás com alegria?
Tempos bons, boas aventuras...
Recordarás com remorsos ?
Ou coleciona erros e loucuras...
Na sorte de ontem terás saudades,
Se fez muitos amigos, sorrisos...
Viveu bem todas as fases, celebrar-se-á...
Envelheceu, cuidou e aproveitou cada dia.
E na sorte - agora curte o tempo restante!
COISA DO DIREITO DE SER
Há tempos que se deve ser para outros,
O que elas querem que se seja, é acordo
É respeito, é por um tempo;
Sempre se é, o que se quer ser!
Será perda de energia se não for...
Calo-me para não desperdiçar-me;
Sou a resiliência, sou multiforme...
Discutem, discordam e insistem, logo se vão!
Volto sempre a ser eu, quando estou só;
Volto a ser eu quando estou pensando;
Volto sempre a ser o que gosto de ser.
Volto a ser eu quando encontro pessoas que amo;
Volto a ser eu , perto de quem sabe quem sou
Volto a ser eu, quando durmo, reinvento-me!
ASSIM É QUE É BOM
Comer apressado um churrasco mal passado;
Uma ideia entre amigos com vaquinha magra.
Pedaços contados, porções marcadas,
E atentamente vigiadas;
Assim é que é bom!
Levantar cedo, mesmo assim se está atrasado;
Vestir as roupas às avessas...
Na pressa se veste cuecas por cima das calças;
Calçar sapatos com pé para o mato;
Meias de cores diferentes, de pé trocado;
Assim é que é bom!
Vestir a calça apertada muito ligeiro:
Fechar o zíper na pele errada;
Perder mais tempo, pois é difícil a decisão,
E nem se tem a coragem de puxá-lo,
Nem para cima e nem para baixo.
Assim é que é bom!
Tomar café apressado que de tão quente fumaça,
Deixa o copo trincado;
Num gole só, se manda para dentro,
Pois, se está no limite do tempo,
Só ai se sente, que se fez a coisa errada,
Depois de se ter a língua queimada.
Assim é que é bom!
Pegar um trânsito engarrafado,
Chegar no serviço atrasado...
Encontrar o chefe na porta plantado,
Balançando o pé e a cabeça
E confirmando o que já se sabe.
Assim é que é bom!
Enfim, todo mundo passa por isso:
Não tem escolhidos;
Não se têm melhores...
Em situação de gafes, micos e embaraços.
A vida continua aos trancos e barrancos.
Num dia acontece de tudo,
N'outro não acontece nada.
Assim é a vida, é com a gente, é com o mundo.
Assim é que é bom!
COISA DE GENTE DIGNA
Há aqueles que o mundo não é digno,
Aqueles que pouco dizem e se dizem é inaudível;
Aqueles que pouco reclamam e só veem favores.
Aqueles que esquecem de si mesmos, em causas
E por outros se entregam em troca de nada.
Há aqueles que em meio a uma multidão,
Que não se nota, passam despercebidos
Pois não buscam a glória;
Não buscam a fama e o status.
São e querem ser apenas, o que são: humanos.
Estes que não são copiados, não são interessantes;
Não tem uma marca, não são lembrados;
Não ocupam páginas, não são contados;
São e querem ser sempre o que os outros veem.
Nada exigem, nem o respeito e nem a honra.
Nascem, crescem e andam entre nós,
Fazem muitos, transformam gente,
Mudam a história e muda o rumo do mundo.
São por muitos amados, por outros odiados.
Tem seus tempos curtos e estão sempre ocupados
Parecem fazer valer, cada dia de vida.
Ou percebem que tem os dias contados.
Confunde-nos se são anjos, enviados;
Se são seres encantados, missionários;
Mas dos seus jeitos mudam o mundo
E se vão como chegam, sem serem notados...
MEDO DO NOVO
Acordo com medo, desaminado;
Medo do desconhecido, é um novo dia.
Acordo acanhado, e já não penso em nada;
Tem-se medo, se desconfia.
Mas é preciso coragem, não ser covarde;
Pense o que tiver de ser será, vou encarar;
O que vier, estava para vir ou criei?
Só não posso é abandonar-me..
Quer na vida, vigia!
Quer na cama, preguiça!
Quer no dia, sempre de manhã recomece...
Quer nos braços de quem se ama;
Devo sempre cuidar de mim...
A vida é minha.
DIA DE COISAS
Há dias que ninguém nos ouve,
Por mais alto que se grite;
Há dias que por mais que se mostre:
Ninguém nos ver;
Há dias que por mais que se corra,
Parece não se chegar a lugar nenhum.
O que parece ser um dia ruim,
É o dia, um dia qualquer;
Apenas um dia diferente na vida da gente.
É apenas um dia em que requer:
Mais esforços, mas atenção:
De se considerar o que quer:
Grita-se: quer ser ouvido, no quê?
Mostra-se: quer ser visto, por quê?
Corre-se: busca algo importante?
Há dias que parece de coisas
Dia de decisões,
Dia de escolhas,
Dia de sentenças,
Dia do juízo final...
Mas a coisa que vale a pena, é viver!
REPETIÇÕES DAS COISAS
Desnorteia-me saber
Que não sou autor de nada.
Pois, tudo é repetição das coisas
Há tempos criadas.
Só faço as coisas que os outros já fizeram;
Apenas adaptei-as
Ao meu jeito de fazer...
Falo só do que já ouvir, há tempos.
Escrevo do que já li, de vários livros;
Canto o que já cantaram, desde da infância...
Tudo é repetição, quase nada é novo.
Só não quero repetir, pois enoja-me:
Os erros dos outros ...
Que quebraram a cara, deram com os burros n’água!
OLHAR PELA VIDRAÇA
No olhar pela vidraça a minha visão embaça;
Dos outros enxergo somente as proezas.
Não atino as mazelas;
Coloco-me de costa a minha realidade
E a vida fica sem graça!
Pela vidraça há sempre uma ilusão lá fora
E o medo pelo lado de dentro.
Pela vidraça não ouço soluços,
Não percebo as lagrimas
E não escuto os lamentos.
Pela vidraça penso:
Que vida boa o vizinho tem?
É bem melhor que a minha...
Cria-se as ilusões, as fantasias.
Mas não se pode medir uma dor
Alojada no coração.
MULHER
Um mundo complexo,
Segredos e mistério sem intenção;
Um mundo desconhecido, à vista,
Um mundo surpreendente.
Decidindo ser feliz, cria os meios;
Se quer mudar a historia, virá a página;
Tem argumentos, se diz inocente, a culpa é de outro;
Encontrá-la como esposa é como procurar tesouro.
Depois de amá-la profundamente,
Perde-la é deprimente, tristeza.
Mulher é flor de laranjeira...
É dama da noite, perfumes e arranjos...
É lágrima de emoção, dor, saudades;
Usurpadora, dona de corações e invasora da alma.
COISAS DE MENINO DE RUA
Um menino de rua pode ser doutor?
No meu tempo podia..
O menino de rua era o dono do lugar;
Ele podia ser o que bem queria.
O menino de rua no meu tempo:
Tinha termo, se divertia;
Tinha vida, sorria e gargalhava;
Tinha casa e cama macia.
O menino de rua no meu tempo
Ia pra escola, fazia fila;
Cantava o hino nacional;
Jurava devoção à pátria mãe.
Memorizava as cores da bandeira;
Rezava de mãos posta no peito;
Chorava e não se envergonhava...
Pois, amava a pátria que nasceu.
O menino...
usava uniforme azul e branco,
Meias brancas, branquinhas,
Conga azul ou kchute preto...
No pescoço tinha uma gravata.
Fui menino de rua...
A mãe sabia, o pai espiava sisudo;
A vizinhança sentada na porta da casa
Da meninada, cuidava.
Menino de rua do meu tempo...
Se quis virou doutor, professor, jogador
Por isso sou poeta ...
Em versos escrevo história.