Coleção pessoal de RaqueldeJesus
O pássaro, o broche, a canção, as amoras, o relógio, o biscoito, o vestido em chamas. Eu sou o tordo. O que sobreviveu apesar dos planos da Capital. O símbolo da rebelião.
esse plano muito bem-detalhado do qual eu era uma peça, assim como estava destinada a ser uma peça nos Jogos Vorazes. Usada sem consentimento, sem conhecimento. Pelo menos nos Jogos Vorazes eu sabia que estava sendo um joguete.
Seguro a pérola na palma da
minha mão e examino sua
superfície iridescente à luz do
sol. Sim, vou ficar com ela. Pelas
poucas horas que me restam de
vida, vou ficar com ela bem
grudada em mim. Este último
presente de Peeta. O único que
realmente posso aceitar. Talvez
ela me dê força nos momentos
finais.
A sensação dentro de mim fica mais quente e se espalha pelo meu peito, percorre todo o meu corpo, braços e pernas, e vai até as extremidades do meu ser. Em vez de me satisfazer, os beijos têm o efeito oposto. Fazem com que minha necessidade seja ainda maior. Pensava ser uma espécie de especialista em fome, mas essa fome aqui é de um tipo totalmente diverso.
– Ninguém precisa realmente de mim – diz ele, e não há nenhuma autocomiseração na voz dele. É verdade que a família de Peeta não precisa dele. Eles sentirão a sua morte, assim como um punhado de amigos. Mas continuarão com suas vidas. Até mesmo Haymitch, com a ajuda de uma grande quantidade de aguardente branca, seguirá com sua vida. Percebo que apenas uma pessoa ficará irreversivelmente devastada pela morte de Peeta. Eu.
– Eu preciso – digo. – Eu preciso de você.
Fujo do que não consigo
combater. Do que só pode me
trazer danos. Só que dessa vez é
o meu coração, e não o meu
corpo, que está se desintegrando.
Desde que acordei hoje de manhã, assisti a Cinna sendo brutalmente agredido, aterrissei em uma outra arena e vi Peeta morrer.
Nós, amantes desafortunados do Distrito 12, que sofremos tanto e desfrutamos tão pouco as recompensas de nossa vitória, não estamos procurando os favores dos fãs, não estamos agraciando-os com nossos sorrisos, ou recebendo seus beijos. Nós não queremos perdão.
Nossas mãos acham umas às outras sem maiores discussões. É claro que vamos entrar nisso como um único ser.
Olho para aqueles olhos azuis que nenhuma quantidade excessiva de maquiagem consegue deixar verdadeiramente mortíferos e me lembro como, não mais do que um ano atrás, estava preparada para matá-lo. Convencida de que ele estava tentando me matar. Agora tudo se inverteu. Estou determinada a mantê-lo vivo, ciente de que o preço será a minha própria vida.