Coleção pessoal de ranish
Ares varam minha janela.
Fico teclando enquanto
o espaguéti não cozinha.
Eu quero mais chuva.
Pra lavar a terra
e a minha alma
empoeirada..
Atarantadas as minhas meninas.
Carrapatos miúdos
e mosquinhas do chifre
lhes sugando sangue dia-e-noite.
Fui lá socorrê-las: apliquei do injetável
e, também, um mosquicida 'pour-on'.
É bom vê-las sem abanações
de cabeças e rabos.
Sem inquietudes: pacíficas, dengosas,
lá na vargem da Vertentinha.
Me demorei um tanto.
Mas é da lida,
é a vida...
Voltei pra casa respirando
o hálito perfumado
da boca da noite.
A vida, às vezes,
tem um quê de final de novela:
ciclos se fecham,
outros se abrem
e tudo acaba
se ajeitando.
E viva o México!!!
Faz frio.
Quisera eu agora
um mocaccino com cognac.
E beijos,
beijos incandescentes
para acordar
meus demônios.
Amanheci 0-bala.
Uma noite alongada,
cheia de sonhos.
Ataraxia profana.
Imagens gatafunhadas
num caderno antigo.
Dimanche!
.
Foi mesmo um risco n'água.
Apartei mais quatro para desmama.
E acertei a devolução do Pacato.
Foi a conta de voltar e refestelar-me na rede
que começou a cair uma garoa fininha.
Daquelas que molham nossa alma de felicidade,
daquelas que tingem a pastaria de verde.
Agora é esperar pelo cafezinho passado no coador
para acompanhar a broa de milho.
Amanhã ainda será assim.
Coisas rurais, recorrências.
.
Refuguei o periquita.
Um bom português não deve ser sacrificado assim
na solidão de um fusili com linguiça.
Coloquei a garrafa de volta no berço
para que fique adormecida até a chegada
dalguma princesa pálida.
Ou mesmo de amigos valorosos.
Agora vou começar a sesta
porque depois ainda terei muito que urdir
lá pelos meus domínios na barra do Piancó.
Lá vem a chuva molhando a pastaria
ao som atroado dos coriscos.
Farfalham árvores borrifando
de perfumes o ocaso.
Verdades definitivas
não existem mais
nesses nossos dias efêmeros.
E todo o ódio
e mal
tendem a retornar
donde vieram.
Esses biógrafos nos surpreendem com verdades inesperadas...
E nós que nos projetamos em heróis imaginários
que achamos ser como nós mesmos gostaríamos de ser.
O jeito é apelar para o sonho: nele tudo é perfeito,
sem os retoques inoportunos da realidade.
Preciso começar a escrever livros.
Se "these beautiful pale girls" passarem
por minha casa encontrarão na estante
apenas empoeirados pocket books da geração beat,
ou clássicos indesejados, ou quadrinhos antigos,
ou fotonovelas mexicanas...
Nada,
definitivamente nada,
escrito por mim.
.
Só o tempo cura as perebas.
E os queijos.
Antes do carnaval meu fígado estará reconstituído.
Então eu dançarei sonrisando
pelas ladeiras de Diamantina.
.
Lá vou eu, já vou eu abraçar toda gente que inunda a cidade com alegria e expectativa,
na passagem.
Farei o rito habitual: Estamparei os sorrisos colados
nos meus lábios pelos vapores da vodca.
E navegarei ainda uma vez a turba em algaravia
buscando os amigos de antes
e, também, os de agora.
Tentarei encontrar também a esperança.
Amanhã será um outro ano na roda do destino
e eu nunca mais serei o mesmo.
Meus olhares irão brilhar alegrias: tudo recomeça,
tudo tem jeito.
Abraços a todos os que tiram um tempinho para ler
as pequenas bobagens que escrevo,
abraços aos que não encontrarei por aqui pelas ruas
da cidade! ...
Um 2.014 com as cores da realidade!
Raniere.
Um bangalafumenga.
Um vírgula entre zeros.
Do que eu era não sei quem sou.
Não mais.
Descanelado no meio do novelo da vida.
O sol com seus cílios dourados esquenta a manhã.
Sem zonzuras, nem ressacas.
Apenas o tédio farfalhante das guarirobas
e o baloiço cadenciado da rede da varanda:
Dominguado, ossos do meu ócio.
I I " Pilastras largas,
colunas finas,
janelas...
Profundidades estonteantes.
Camadas e camadas de encantamento.
Vislumbres do irreal.
Antes eu decifrava,
entendia.
Agora apenas viajo.