Coleção pessoal de ranish
Um sapo será sempre
um sapo.
Princesas, imaginário,
ideário,
desejos, beijos
não mudam isso.
Um dia a gente acorda
e vê tudo desbotado.
Era apenas sonho.
Santa cesta.
Abóboras orvalhadas
no titubear da meia-noite.
A lua nos seus olhos
sesta santa.
Aluam os meus olhos
sexta sexy.
Lábios selados
com os beijos das horas.
Entre a noite obumbrada
e o dealbar apenas
murmúrios entristecidos
das galinhas-d'angola.
Não devemos usar casos isolados
como justificativa agigantada
para arrimar nossas próprias ideias.
Um torcedor do fluminense num espaço
majoritariamente flamenguista
seria igualmente hostilizado.
O que não quer dizer que todos
os rubro-negros são fascistas,
não é?!
Precisamos tirar a venda da paixão
para nossos olhos enxergarem
os espaços entre as letras.
O sono pesa minhas pálpebras de chumbo.
Morfeu me puxa os pés enquanto meus dedos
automáticos escorrem pelo teclado.
É hipnótico.
Um mais-que-um-vício.
Meu cérebro corroído por taturanas vermelhas.
Imagens, palavras: ir-e-vir-e-ir-e...
Dormir é desconectar.
Desconectar é viver.
E viver não é preciso.
Naveguemos, pois, Pessoa.
Amanhã retumbarão culpas.
Outra jornada A la recherche
du temps perdu.
Mas vá!
Melhor que os bispos da Universal,
melhor que o ópio da zona baixa.
Ou não?
Acabarei mesmo por me entregar.
O peso é demasiado.
Dos dias-e-noites,
do chiaroscuro intermitente
na janela.
Um vento negro apagará meu senso.
Levará o sonho para dentro de
minhas narinas corroídas,
das minhas orelhas moucas.
Dormirei, enfim, para
novamente girar a roda do destino.
Do meu destino apoucado
de alegrias pela areia
amarga dos anos.
Que já vai um pouco além
da metade da ampulheta
da vida.
Sessão coruja.
Livro de cabeceira+insomnia.
Um travesseiro entre as pernas que não é você.
Navego passados
e lembranças
P,
A experiência me fez ateu.
Antes só havia o medo.
Ante a de qualquer deus
eu prefiro a sua bênção.
Nela, ao menos, posso encontrar
alguma serenidade.
A perfeição é uma bobagem.
Uma pedra de Sísifo.
Um horizonte inalcançável.
Para mim o que importa realmente
é um coração generoso.
Eu acredito na energia da vontade
de quem acredita com o coração.
Mas quem tem medo apenas procura
uma tábua para não se afogar.
Num mar de incertezas.
Num lamaçal de agonias.
Num deserto de palavras.
O vento me alçava pelas ruas da cidade.
Lentas as rodas do carrinho giravam
e viravam ao bel prazer do meu olhar.
Aqui-e-ali algumas ilhas de música, bebida,
carnes, gentes...
Carteados nas calçadas...
Dentro um jazz baixinho roendo meus tímpanos.
Fora: os meus olhos perscrutando novidades.
O natal é dia morto.
Cada um com os seus.
Botecos fechados, círculos fechados.
Fui-e-voltei-num-risco.
Um pequeno giro pra digerir a leitoa.
O que me resta agora
é preencher a boca-da-noite
voltando ao ritual
de abrir freezers e cervejas
e sorrisos.
Amanhã será outra coisa.
A Fortuna havia me escapado.
Passou dois ou três dias
pastando lá na vargem do meu vizinho.
Foi um custo trazê-la de volta.
Tive de fechar todo o gado no curral
para depois ir no encalço da danada.
Eu chamando e ela negaceando,
desconfiada, astuciosa.
O jeito foi esperar o tempo dela.
Ao se ver sozinha foi beirando cercas
até emparelhar com o gado fechado.
Abri a cancela e ela entrou.
Agora estou mais tranquilo.
Passarei meu dia mais confortado.
Embora um pouco mais magra
a Fortuna está de volta aos meus domínios.
Poderei por fim tomar minha Pirassununga
sossegado.
Foi um presente dos Santos Reis
protetores das minhas mimosas.
E da barra do Piancó.
Ubiquidade.
É triste essa sensação psicótica
que estamos sempre sendo vigiados
e que ao menor erro
poderemos ser punidos.
Esse é o lado mais cruel
e alienante das religiões.
A chuva continua, ainda.
Chorando todos os meus risos.
Colorindo de verde
o horizonte
dos meus olhos..
Quatrocentas vezes fui,
outras tantas eu voltei.
Vi, revi, milvi
tudo.
E te digo:
nada há lá fora
senão o próprio umbigo.
Timidamente
alguns perdigotos de Zeus
caíram barulhentos
no zinco.
Olhei o revolto dos céus
e firmei que vinha deveras
um temporal.
Estampidos sonoros se seguiram
diante dos meus olhos.
Escutei o tropel
de minhas vaquinhas
se recolhendo no barracão.
Elas estavam sorrindo.
Eu também!!!
Uma amiga confessou não saber
o que é um Lá Maior.
Respondi a ela: eu te digo,
lá maior é um horizonte alongado.