Coleção pessoal de ranish
Lá fora sopram o zéfiro e o noto.
Agora que o agradável sono voou
de minhas pálpebras
manejo o controle remoto
procurando impossível alento.
Depois de passar a vista no plantel
chegou a hora de um bom moscatel.
Pasta e vinho para adormecer o sol.
A manteiga de leite desliza
derretida no pãozinho quente.
Chá de canela e o mugido das vacas
lá no curral.
Quarta linda!
A lida é um sem fim.
Um brota e desbrota.
Um faz e desfaz
que nem mesmo a morte leva.
Um trabalho de Sísifo.
Um cansaço desesperado
feito de sombras e sobras...
Ventos agustinos penteiam as guarirobas.
A rede balouça meus signos ressaqueados.
E segue o domingo
magro de deleites.
Universidade.
Ando chateado com o meu passado
E também com esse presente cheio de
mesmices.
Velhas estórias não me seduzem mais.
Sinto dores que não são de amor e as
intempéries se agigantam no inverno.
Acho que o peso dos anos vividos
começa a me agaçar.
Fico esperando pela chuva pra poder chorar
sem que ninguém perceba.
Eu nos teus lençóis essa alegria me
bastava.
Abrir todas as janelas e deixar
entrar um pouco de luz dentro da vida.
Estou amargo de tanta solidão.
Preciso mesmo de novas ilusões que
me distraiam o senso.
Acho que voltarei pra universidade.
Lá tem lindas
cabritas sorridentes.
Com beijos
molhados e olhos macios.
E um pouco de
esperança pra eu poder roubar.
Hei de poder deitar naqueles colos
quentes.
E sentir o perfume daquelas coxas
roliças e longas.
E ainda uma vez olhar pra frente com
um sorriso nos lábios.
As chuvas inundaram todos os planos.
Minha lida vespertina foi adiada
para a manhã de amanhã.
Embora sábado restarei na alcova.
Sonharei com sorrisos perdidos,
com os olhares que não passarei pela turba cazuzeana,
com as cervejas seladas,
adormecidas no fundo do freezer.
Outra balada sem cevada.
Anti-inflamatórios seguem cuidando para que
meus finais de semana não inflamem.
Nostalgias do normal.
O baile foi até dia claro.
Whiskies, energéticos, cervejas...
e o sol que fechou meus olhos.
O cetim vermelho engoliu meu corpo
e quando dei por mim a tarde caía.
Meu estômago pedia comidas em esperanto.
Nada lhe dei da minha geladeira cheia de espaços.
Terei de buscar coragem pra ir até a cidade,
pra saciar meus desejos.
Chegando em casa.
Noite tíbia que cozinhou meu coração.
Agora naufragarei entre travesseiros.
E que o sono amaine meu tédio
e meus olhos despertem coloridos
de esperanças alegres.
Tépido, tíbio, úmido.
Esse final de dia cozinha minhas carnes
e meu cérebro gris.
Imagino rafting na Cachoeira
ou windsurf no Rio Grande.
No caminho devemos exercitar
a paciência, a humildade e a simplicidade.
A verdadeira sabedoria está no desapego,
no espaço entre as letras.
Caminho pelas pastagens maiúsculas
do Piancó.
Sol a pino.
Vacas, bezerros... Uma anta atravessa
a rodovia.
Penso.
O vento me sopra
idéias.
Olhando o ocaso cor de sangue
e de volúpia, penso: Amanhã a luz
do sol haverá de incinerar
toda essa escuridão que me aturde.
Escuridéu, breu.
Demorou um tanto
pra ver a anágua do dia.
Sorti de sal os cochos.
Passei os olhos
na mansidão da vargem...
Ando cinza ultimamente.
Tudo à minha volta desbotou.
O velho está mais velho, a cada dia.
E o novo não existe.
Ando mouco de deleites.
Meus habituais apelos aos prazeres mundanos
foram engolidos pela vida tarefeira,
pelo meu cotidiano estúpido.
.
Não existem pecados gratuitos.
Todos eles são pagos.
- E os mais caros são os melhores!
De uma maneira ou de outra
sempre pagamos.
Às vezes à vista, outras parceladamente
e outras, ainda, quando
o diabo nos leva.
O cheiro era o de mucama alisando o cabelo
com pente de ferro em brasa.
Calibrei o mochador à vermelhidão e comecei
a queimar os chifres dos parcos bezerros
fora da linhagem do Campeão.
Depois um ungüento para evitar
as moscas varejeiras e pronto.
Foi a estréia do tronco novo
na Vertentinha:
Aprovado!
Se seguirão outras lidas.
O gado manso, a curralama regular,
a formiga, o pente de rolimã...
tudo contribui pra facilitar minha vidinha rural.
E é isso:
O gado engorda aos olhos do dono
e o dono engorda olhando o gado!
Rsss!!!