Coleção pessoal de portalraizes

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Há tantos deuses!
“Há tantos deuses!
São como os livros — não se pode ler tudo, nunca se sabe nada.
Feliz quem conhece só um deus, e o guarda em segredo.
Tenho todos os dias crenças diferentes”...

( Álvaro de Campos [Heterônimo de Fernando Pessoa], (escrito em 9.3.1930), In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002. (trecho))

“Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é”.

( Alberto Caeiro [Heterônimo de Fernando Pessoa], In Poemas Inconjuntos - In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Fernando Cabral Martins, Richard Zenith, 2001.)

Falaram-me os homens em humanidade,
Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade.
Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si.
Cada um separado do outro por um espaço sem homens.

Sou espiga e o grão que retornam à terra.
Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando,
é o arado milenário que sulca.
Meus versos têm relances de enxada, gume de foice
e o peso do machado.
Cheiro de currais e gosto de terra.

Eu, que fabrico o futuro como uma aranha diligente. E o melhor de mim é quando nada sei e fabrico não sei o quê.

Mas as palavras que uma pessoa pronunciava quando estava embriagada era como se estivesse prenhe – palavras apenas na boca, que pouco tinham a ver com o centro secreto que era como uma gravidez.

Banqueiro

O banqueiro ignora que tem dinheiro suficiente
para fechar o banco e começar vida nova.

“A arte chinesa: já notaram que seus cenários aparecem sempre cobertos por neblinas? Estão lá porque a alma precisa delas... A vida é cheia de neblinas”...

(trecho de “Neblina” do livro em PDF: do universo à jabuticaba)

Devemos tratar os homens com a mesma cautela, resguardo e desconfiança, de que usamos em colher as rosas.

(do livro em PDF: MÁXIMAS, PENSAMENTOS E REFLEXÕES)

Dei gritos de dor, e de cólera, pois a dor parece uma ofensa à nossa integridade física. Mas não fui tola. Aproveitei a dor e dei gritos pelo passado e pelo presente. Até pelo futuro gritei, meu Deus.

Um atestado de amor
Alguém disse: “Acerca de duas pessoas nunca refleti profundamente: é o atestado de meu amor por elas”.

(do livro em PDF: 100 aforismos sobre o amor e a morte )

A frase mais pudica que jamais ouvi: “Dans le véritable amour, c’est l’âme qui enveloppe le corps” [No verdadeiro amor, é a alma que envolve o corpo].

(do livro em PDF: 100 aforismos sobre o amor e a morte )

“A “história” nos abre o mundo das coisas acontecidas no passado. Mas as “estórias” nos levam para o mundo das coisas que nunca aconteceram e só existem na imaginação”.

( em “Se eu pudesse viver minha vida novamente...”. [Organização Raissa Castro Oliveira]. 21ª ed., Campinas/SP: Editora Verus, 2010, 142.)

“Aprendi que hoje as pessoas procuram os terapeutas por causa da dor de não haver quem as escute. Não pedem para ser curadas de alguma doença. Pedem para ser escutadas. Querem a cura para a dor da solidão” (…)”

( em “Se Eu Fosse Você”, do livro ‘O Amor Que Ascende a Lua’. Campinas/SP: Papirus, 1999.)

Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais. Então eu não digo nada, aparentemente submissa. Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã. Domingo de manhã também é a rosa da semana. Não é propriamente rosa que eu quero dizer.

Cão
Rendo homenagem ao cão; ele late melhor do que eu.

( In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.)

“Diziam os argonautas que navegar é preciso, mas que viver não é preciso. Argonautas, nós, da sensibilidade doentia, digamos que sentir é preciso, mas que não é preciso viver”.

(do livro em PDF: Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares)

SUPER-CRIANÇA Aquilo que os tradutores não souberam traduzir e traduziram como “super-homem” é, na realidade, uma criança. Em vez de “super-homem” proponho “homem-transbordante” – exuberante como uma fonte (ou uma criança...).

(do livro em PDF: do universo à jabuticaba)

Os erros circulam entre os homens como as moedas de cobre, as verdades como os dobrões de ouro.

(do livro em PDF: MÁXIMAS, PENSAMENTOS E REFLEXÕES)

“Todas as manhãs a gazela acorda sabendo que tem que correr mais veloz que o leão ou será morta. Todas as manhãs o leão acorda sabendo que deve correr mais rápido que a gazela ou morrerá de fome. Não importa se és um leão ou uma gazela: quando o Sol desponta o melhor é começares a correr”. Provérbio africano

(do livro em PDF: A confissão da leoa)