Coleção pessoal de polianapb
Não havia ao seu redor homem algum que lhe pudesse inspirar uma dessas loucuras as quais se entregam às mulheres impelidas pelo desespero que lhes causava a vida sem finalidade, sem acontecimentos, sem interesses.
Para ela tudo era sublime, extraordinário, estranho, divino, maravilhoso. Animava-se, se encolerizava, se abatia, alcandorava-se, e quer olhando o céu ou a terra, seus olhos se enchiam de lágrimas. Gastava a vida em perpétuas admirações e se consumia em estranhos desdéns.
Existem, com efeito, certas sensações incompreendidas que devem ser guardadas em nós mesmos. Certamente que um pôr-de-sol é um grande poema, mas não será ridículo para uma mulher descrevê-lo com palavras grandiloquentes diante de criaturas materialistas?
Queria mandar e tinha de obedecer. Entre obedecer a caprichos grosseiros, a espíritos sem indulgência para com seus gostos, e fugir com um amante que lhe agradasse, ela não teria hesitado.
Uma das infelicidades a que estão sujeitas as grandes inteligências é a de compreender forçosamente todas as coisas, tanto os vícios como as virtudes.
Bebendo longos tragos da taça da ciência, da poesia, com elas se inebriando para esquecer as desventuras da vida da província.
Os raios de sol que brincavam nas folhas da parreira acariciavam os dois poetas, envolvendo-os com sua luz como uma auréola.
Farto de beber na grosseira taça da miséria, estava ao ponto de tomar um desses partidos extremos aos quais nos decidimos aos vinte anos.
Seus filhos, como todos os filhos do amor, teriam por herança a maravilhosa beleza da mãe, presente tantas vezes fatal, quando a miséria o acompanha.
A avareza, como o amor, tem o dom da vidência, quanto às contingências futuras, fareja-as e apressa-as.
Os hábitos da juventudo voltam com mais força na velhice. Séchard confirmava essa lei moral: quanto mais envelhecia, mais gostava de beber.
Reza uma lenda oriental que Deus coloca obstáculos no caminho do gênio para que os anjos possam aprender com os homens a serem sábios e fortes. Essa sabedoria e essa força - que se chama beleza na linguagem da arte - é o estôfo de que são feitos os grandes compositores. E é essa qualidade que transforma um sofredor humano num professor divino.