Coleção pessoal de poetamarcosfernandes
Reflexões sobre o ocaso I
Vestiram-me um paletó preto,
Calçaram-me um belo sapato.
Senti-me importante.
Era a primeira vez
Que calçava sapatos.
Quando precisei, não os tinha.
E para onde irei
Não precisarei usá-los.
ENTREGA EM VÃO
Trago em meus passos vacilantes
E em meu caminho trôpego
A dor e a agonia
De ter feito tanto por nada.
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A insônia da dor
No poema, repousa
A minha silente dor.
Mas apenas repousa.
Ela não dorme nunca.
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Poesia irremediável
A poesia chega feito doença.
Sinto febre,
Calafrios intermináveis,
Dores no corpo inteiro,
A garganta queima
E a disposição me abandona.
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Desistir é quase sempre a opção mais fácil. Mas, às vezes, é a mais sensata a se fazer. É preciso recuar para enxergar melhor e pensar com clareza.
Autodefesa
Aceitar que nada é para sempre
É uma tentativa do coração
De se proteger
Dos males decorrentes
De um amor decadente.
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INSACIÁVEL FOME
A poesia é o grito
Que me sobra
E a insaciável fome
Que me assola.
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Nada é tão ruim quanto parece ser. Há sempre uma saída, por mais oculta e impossível que possa parecer.
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Abdicação
Renunciei à poesia.
Quando estava a definhar,
Percebi que neguei
O que me mantivera vivo
Durante todo esse tempo.