Coleção pessoal de PensadorRS
Auge da irrelevância
Sou muito pouco, mas mais que nada
Um quilômetro da inacabável estrada
Um torneio somente do Grand Slam
Sou um ator, porém não possuo fã
Limitado, já tentei melhorar de fase
Chegar rapidamente na última base
Adivinhar ao menos quatro dezenas
Me regojizar com frivolidades terrenas
A gota que cai tem uma parte de mim
E tendo a começar pensando no fim
Pois a ansiedade sim é abundante
Ainda conservo algo de triunfante
O meu fio de cabelo foi recusado
Quando brinquei que era adotado
Ao me sentir só por não ter irmãos
Vendo que os de domingo são vãos
Estou no auge da minha irrelevância
E aparenta ser de miséria a ganância
Só que estou habilitado para respirar
Marchando altivo pro show continuar.
Alter ego
Sobre meu alter ego: possui insanidade
É tresloucado e apronta quando aparece
Sendo difícil que ele passe despercebido
Tem bastante gente que já lhe conhece
Eu sou calmo e cauteloso normalmente
Assim, fica nítido que nos diferenciamos
Às vezes, temos confrontos peculiares
E, a cada um deles, mais nos separamos
Ora reina tranquilidade, ora há agitação
Dependendo de qual as rédeas assume
Em um mundo de escolhas antagônicas
Se pode ser bálsamo e também chorume
Ele responde pelos problemas causados
Haja vista que eu não tenho nada a ver
Quando meu alter ego chega, eu sumo
Orando para uma tragédia não ocorrer.
Planeta metamórfico
Liberalismo, socialismo, anarquismo
Capitalismo, centrismo, comunismo
Xintoísmo, espiritismo, zoroastrismo
Hinduísmo, catolicismo, adventismo
A propagação da dieta vegetariana
O desfile de gala da gourmetização
Querer conhecer a tradição tibetana
Música que inicia e acaba no refrão
Distintos seres com variadas causas
Tentando achar um propósito maior
Nativos de um planeta metamórfico
Uns sisudos, outros às gargalhadas
Repetindo frases que sabem de cor
Em um cenário raramente bucólico.
Grito silencioso
Ela pediu um drinque no velho bar
Como se fosse remédio para a dor
Fugindo de si mesma, angustiada
Tentando sentir um pouco de calor
Laís não é mais uma garota de 15
E foi iludida de novo por um rapaz
Rodeada de várias amigas falsas
De sobreviver ela quer ser capaz
Os comprimidos estarão à espera
Todos conhecidos de longa data
Em sua infernal e infeliz trajetória
Com a cabeça sem reflexão exata
Por favor, guarde já esse estilete
Você ainda irá descobrir a alegria
Nada de se precipitar em desvario
Sei que lhe fará bem mais um dia.
Eu não acredito em signos, porém acredito menos ainda em uma relação amorosa bem-sucedida entre dois aquarianos.
Simplesmente rotina
Faço sempre o mesmo trajeto
Dia após dia na velha calçada
Ainda assim feliz por continuar
Uma história talvez abençoada
Pode ser rotina, mas é valiosa
Cortando a praça da infância
Encontrando gente do bairro
E tendo paz em abundância
Sou desprovido de ambição
Dispenso ganhos absurdos
O consumismo não me atrai
Só quero ter saúde, marujos
Seguir andando, com calma
Vestes simples e alma nobre
Em busca de alguma riqueza
Que não é trocada por cobre
Acredito que sou afortunado
Pois sinto que nada me falta
E eu volto para a minha casa
Como quem dedicou serenata.
Saudação aos camaradas
Esqueça os artigos luxuosos
Dispense relações efêmeras
Estas não lhe agregam tanto
Como amizades verdadeiras
Quem tem um amigo é rico
Nos valores não-monetários
Porque uma grande sintonia
Vai além dos meros contatos
Um amigo já foi só conhecido
E nunca mais tornará a sê-lo
A menos que seja embusteiro
Vindo a atuar com desmazelo
Amizade mesmo é pra sempre
Venha a tempestade que vier
Em uma afeição diferenciada
De ninguém meter sua colher
Os companheiros de jornada
Têm toda a nossa admiração
Por isso não devemos hesitar
Em fazê-los uma bela menção
Saúdo aqui meus camaradas
Que são irmãos acima da lei
Desejando um futuro próspero
No qual eles eu reencontrarei.
Lobos solitários
Talvez se estivéssemos em trezentos
Teríamos alguma chance de vencer
Porém somos apenas lobos solitários
E, como tais, sem ninguém a recorrer
Como é se comunicar com o mundo
E não dar atenção à própria família?
Cada qual tem uma realidade única
Simulando no iPhone a sua alegria
É cômodo ser solidário com a África
Ou qualquer lugar que seja distante
Mas a globalização não criou união
Pois não temos bondade o bastante
Devemos estar muito bem-resolvidos
Enquanto os mecanismos enferrujam
Aumenta profundamente a depressão
E os nossos olhos às telas se curvam.
Tudo o que eu faço
Sim, eu faço absurdos
Tomo banho no escuro
Jogo tabuleiro sozinho
Pra poder te conquistar
Danço tango de tanga
Invento um outro hino
Me despeço do mundo
Pra tentar me declarar
Flerto com o abismo
Faço perfil sem foto
Sou ateu na catedral
Pra você se lembrar
Viajo até Bangladesh
Vou de pijama à rua
Salto de parapente
Pra você se tocar
Aprendo mandarim
Saio na madrugada
Escrevo cem cartas
Pra esse fogo cessar
Gosto de beterraba
Encanto a serpente
Uso terno e gravata
Pra esse lance rolar.
Foi pelos ares
O time de Chapecó encantava
Estava numa final continental
Tinha o apoio de toda a pátria
Parecia além do bem e do mal
Até seu avião cair na Colômbia
Chocando ao redor do mundo
Com dezenas de vítimas fatais
Trazendo um sofrimento mudo
Ninguém espera uma tragédia
É muito difícil de lidar com ela
Mesmo que existam explicações
Nossa vida não é mais tão bela
Que tristeza, ó Chapecoense
Tu és querida aqui na nação
Se fizeste chorar de felicidade
Foi nada perto dessa comoção
O fim de novembro foi o final
Para aqueles índios guerreiros
Que serão recordados sempre
Entre os torcedores brasileiros.