Coleção pessoal de PensadorRS
Grande rede
Adoro estar informado pelo Facebook
Ter conhecimento sobre tudo e todos
Atualizar a linha do tempo feito louco
Adicionar até mesmo desconhecidos
Converso o dia inteiro no WhatsApp
Chego a cansar de tanto que eu falo
Faço parte dos mais variados grupos
Vibra o aparelho e eu vou no embalo
No Instagram, exibo a minha alegria
Baita sorriso, praia e comida chique
Aqui a crise ainda não foi percebida
Me segurem, porque estou no pique
Viajo o mundo todo pelo Street View
Conheci Amsterdã, Londres e Berna
Como é bom ser um cidadão global
E isso que eu nem mexi uma perna
Sou membro efetivo da grande rede
A desconexão agora não é cogitada
Pertenço ao terreno com vida virtual
Me atrai qualquer telinha iluminada.
Entender é mais importante do que decorar, contudo a memorização também consiste em uma forma eficaz de aprendizado.
Desvinculado
Caso Deus pareça estar distante
E fé nenhuma possa tranquilizar
Com a progressiva secularização
Existindo muito o que questionar
Na família não haja de fato união
Na qual morem juntos estranhos
Cumprindo com suas obrigações
Dividindo momentos enfadonhos
Se os amigos virarem conhecidos
Evitando ao máximo um encontro
Só restará guardar as lembranças
E então torcer que desponte outro
Relacionamento nenhum dê certo
Na busca desenfreada por alguém
Talvez o problema não fique longe
Ou a realidade seja mesmo aquém
Calma, você ainda terá uma saída
Saiba suportar a própria presença
Guie a si mesmo nessa penumbra
Pois solidão não pode ser doença.
Novidades do velho mundo
Abro a janela, enxergo o que passou
No horizonte, prédios cortam a visão
Um poderoso calor ofusca o inverno
Aquecimento global não é invenção
Se o amor é para sempre, tudo bem
Nada terminou sem motivo aparente
Ainda encontrarei uma alma comum
Para ter esconderijo além da mente
As placas direcionam ao precipício
À direita ou à esquerda há sangue
Jovens intolerantes são engajados
Não comovem disparos de tanque
Se nada for para sempre, tudo bem
Estamos adaptados à efemeridade
Amigos cabem nos bolsos da calça
Fácil descartar quando der vontade
Fui condenado à chatice moderna
Cumprirei a pena enquanto puder
Que novidades animam o mundo
Se são velhas diante do que vier?
Aquele que não consegue encontrar a paz em seu próprio lar também não a achará em qualquer outra parte.
Espírito esportivo
Ele nasceu humilde, no interior
Sempre foi tido como pequeno
Teve que comer pelas beiradas
Para que conquistasse terreno
Logo foi incentivado pela cidade
Começou a incomodar figurões
Uma zebra era seguida da outra
E ele avistava os altos escalões
Teve destaque por algum tempo
Mas não ganhou o maior troféu
Até ir gradativamente sumindo
Desesperando um ou outro fiel
Ainda existe, mas ninguém liga
É rejeitado no próprio município
Deve ter os seus cem anos hoje
E espírito esportivo de princípio.
Tendências entre os jovens
Melhores condições materiais
E mais gente infeliz na Terra
Isso que pesquisas apontam
Para a megatecnológica era
O consumismo não satisfaz
Somente intensifica o vazio
Tudo possuir, mas nada ter
Ser refém de modo doentio
Vêm ansiedade, depressão
Tendências entre os jovens
Criados em berços de ouro
Contudo indivíduos pobres
Supostamente conectados
Quase não mais dialogam
Aflitos, cheios de angústia
Alguns até se matar topam
Chega de tanto fingimento
Quando o assunto é saúde
Poderíamos ter consciência
No entanto a gente se ilude.
Área restrita
Todos deveriam ter o seu lugar
Um refúgio para as horas ruins
Um cenário aos largos sorrisos
Mais cômodo que os botequins
Pode ser em Paris, Nova Iorque
Banco do parque ou alto da laje
Contanto que o cantinho exista
E dê para ir com qualquer traje
Talvez seja um recanto interior
A quem não encontra paz fora
Discreto, mas ingrediente vital
Ao misantropo em sua aurora
Navegar com local a regressar
Se perder para então conhecer
Intuir antes de o desejo surgir
Na comunhão com essa região.