Coleção pessoal de PedroAquino

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Há, por certo, qualquer ar de santidade em toda esperança de rapaz trabalhador
O torpor da fé é, de fato, muito acolhedor
Mais vale um suspiro de desejo ou um cansado bocejo?
Jogo-lhe essa questao em forma de despejo...

Melancolia, à seu dispor...
Nao me venha com riso frouxo
Sou de todo temor
prezado trouxo
Sua alma vou expor

Alegria, alegria
o que será de mim?
Se no fim dos meus dias
o que sobrou de mim
foram asas
quebradas
de serafim?

Vida,
Deixo-te como quem colhe flores
Idas e vindas das tuas dores
Cores, senhores.

Cores!
Se as tenho, nao as vejo

Flor
Minha fiel companheira
teu aroma encanta
Qualquer gata borralheira
Tua fé planta

Acalanta
Pra levantar o sorriso
Pra qualquer narciso
Nao botar defeito

Feito
Suspeito de cor e dor
Roubou-me a flor
O meu amor pagão

Grão
Despedaçou-me o coração
Abandonou-me na ilusão
os derradeiros loucos são

Desfaz ao anoitecer
Refaz ao amanhecer
Toda a investidura
A nossa tarde crua

Yo soy el canto de los bohemios
Tropezando por allí, a dos pasos de vuelta aquí.
Yo soy la canción de la lujuria
Un suspiro aquí dos sobre allí secretos.
Yo soy, después de todo, la canción de la soledad
Gritos y gemidos de bohemio loco.
Loco por estar solo y consciente.

arrancou me do corpo
como quem despedaça flores
Tirou-me um beijo
como se quisesse me sugar
todo o desejo
de rapaz trabalhador

Fez de rimas, prosa.
Fez de mim, moleque, rapaz
Faz de todos, a cidade a cantar
Era Clarice, era Lispector
Era toda malandrice de seus olhos
a ninar

O rapaz trabalhador
Em suas curvas cair
Em seus versos, declinar
Prosas euforicas
de bafos etílicos
Feito homem
Feito rapaz

Morre o dia
Desperta Clarice
A noite é uma criança
A alegria é fugaz

Um dia eu vou te levar para as mais estranhas terras
Do desabrochar das flores-de-onze horas
Das cobras, obras e vacas- leiteiras

Sou Código de barras, Pitágoras
sem perder as estribeiras.
Livre, videira e sorrateira

Caga regras atrás de palmeiras já vistosas.
Amor das onze horas finda boas maneiras,
Gemidos de prazer caem bem na quinta feira

Deleitosa senhora, tu soluças tão vistosa!
Será minha visão defeituosa?
Ou será doença passageira?

Soluças que cabe que um dia o mundo acabe
Ilusao passageira

Óh minha senhora. Tu ja foras mais vistosa
Tu nao vales nem um paletó de madeira

Sabe senhora.Filha de chocadeira
Teu soluço me nina, teu soluço me fascina.
Teu soluço é uma asneira

meu pesar é de ainda não ter encontrado algm que tenha a coragem de dar fim à minha vida.
Leia-se fim no duplo sentido que lhe convier
Os dois estao certos

Eu preciso desabafar
Te dizer toda a verdade
que o que eu mais tenho vontade
é de lhe taquigrafar
um eu te quero com certeza

que mil raios me partam
os restos que me restam
do meu espírito de grandeza
Se eu estiver mentindo
que quando tu me olhas
chorando
eu lhe vejo, por horas
sorrindo

Tua ausência é uma verdade
Disso eu tenho certeza
Por mais que me doa a vontade
Sou preza, maluco beleza

Tua ausência me completa
As cicatrizes me falam
Há dores que maculam
Há dores que abalam
Há dores que completam
Há dores na beleza

- Pedro Aquino

ich bin blind
Ich höre nur den wind
Ich schreie meine Sorgen
"Was du heute kannst besorgen,
das verschiebe nicht auf morgen"

Nach viel Kampf
mit voll dampf
begraben Sie mein Körper
ohne krampfe.

Acalme-se minha rainha de 13 olhos
Cegos observadores nos cortam de forma analítia, precisa, parapléitica
Nao estamos sós aqui, querida. Os cegos também palpitam.
Fixos, presos, imaculados. Nós somos santos de mal gosto.
Há quem compre aquela simples e fiel ideial do mundo fora da caixa

aquele sono tátil de estar próximo ao inferno

meu corpo é a sepultura onde minha esperança permanece com a minha alma em um longo e solitário pesadelo

Cai outra vez
Gotas que o céu derramou no meu quintal
Vem carregando bem um pouco de mim
e vem voando feito num vendaval

Regando as flores mortas do meu jardin
Que agora dançam nas bodas de cristal
Que os meus vizinhos fazem pra declarar
velho amor e a paz de um velho altar

Fico daqui me perguntando o que foi
Que eu fiz pra ficar nesse lugar
De folhas mortas e a cidade a aflorar
Tudo aquilo que o homem destrói

Cai entre nós
Nao vai pra lá eu tenho cá meu valor
Deixa pra lá, agora eu tenho que ir
eu vou partir e não pretendo voltar

Chuva lavou
levou consigo meu velho saravá
que cai do céu em choro de sabiá
bem no quintal de um velho a ouvir
O seu passado feito num recital

Cai outra vez

Ainda posso sentir o cheiro quente de cravo da índia, canela e gengibre.
Da vitrola só se escuta o surdo chiado fora do ar que toma conta de todo o quarto, como se o universo fizesse um motim para derrubar as paredes de gesso desse ambar.
Da janela entre aberta amanhecem alguns poucos raios de luz que a tudo observam minuciosamente. As manhas são verdadeiras fofoqueiras que adoram evidenciar a tudo e a todos o que a noite insiste em esconder: Nossos vícios, nossas lágrimas, nossos gritos, nossos sonhos..
"Entre sem bater". Eis o que está escrito na porta do meu recanto, onde todos ouvem esses chiados mudos que gritam pela quebra das paredes, pela fronteira sem fim.
Aos meus verdadeiros amigos, que entraram sem bater ou perguntar o por que, eu sou o homem na caixa.

Carreguem com cuidado

nao entendo pq as pessoas vestem e vivem seus falsos avatares, fingindo ser algo que não são. Acho que é por isso que vejo tantos dizeres de auto afirmação. Entendo não . Tem gente que prefere viver de ilusão.
O labor nao tem lá todo esse gosto doce que voce diz com palavras confucianas, eistenanas.
Tenho pena de quem acha a labuta doce. Esses não conseguem perceber os pequenos prazeres quando aparecem.
A verdadeira felicidade está no meio de um lago turvo e triste onde muitos tentam e nao conseguem ver. Mentem para si mesmos. Mentem pra mente.

As pessoas querem a todo custo a felicidade
Eu apenas existo

No quarto ao lado morava uma velha...tinha lá seus 90 e tantos anos...
Trocamos poucas palavras....um "oi, bom dia!" e ela respondia como um eco...
Todos os dias eu saindo apressado, via essa senhora na cozinha preparando seu almoco. Velhos comem tarde. Comico.
"Oi, bom almoço! Desculpe não poder conversar, tenho que estudar"
- Oi, bom dia
- Oi, bom dia
Da velha eu quase não ouvia nada. Ouvia sim a sua televisão em altíssimos decibéis. Não sei se era pra afastar a solidão ou por causa da audição. Acho que era um pouco dos dois.
Nao importa. Ja estava acostumado com essa situação.
Mas ontem foi diferente
- Oi, bom dia!
-Tchau!
"Tchau?". Achei comico. "Estamos progredindo!".
Ao voltar da minha rotina e entrar no meu apartamento, o quarto da velha ao lado estava vazio. Sem cama, sem móveis, sem ela. Ela havia deixado apenas a sua televisão. Em cima dessa TV, um bilhete: "Para Pedro".
É....
Chega uma hora na vida que as nossas televisões falam mais alto.
Chega uma hora que as palavras falham
E so resta esperar
E dizer Tchau.

Ainda sinto aquele cheiro quente do café.
A tábua ainda range quando alguém lhe repousa os pés, como se suplicasse redenção a gigantes imaginários.
A cortina de bordado mal cobre os primeiros raios da primavera. A noite e o dia são penetras nesse quarto que agora não possui dono. Pensando bem, talvez não sejam lá tao penetras assim.
Do cabideiro só restaram cabides sem roupas, sem cabideiro, sem nada.
Nao conheco quase ninguem. Sou convidado aos que me conhecem, um estranho conhecido ou mesmo um conhecido estranho.
Talvez aqui seja mesmo o intermediário entre isso e aquilo.
Sou a ultima planta do inverno.

Saudade de hoje.

De quando trocamos palavras.
De quando trocamos segredos.
De quando trocamos países.
De quando trocamos olhares.

Andando por esses países
perdi-me apenas no segredo das palavras do teu olhar.
Que bom que nos encontramos nessa esquina do destino.

Que seja eterno enquanto dure.

Sozinho. Na vitrola toca um jazz. O rítimo descompassado comeca.
Acendo um cigarro. Mallboro, eu acho. Dou uma tragada. Mallboro, com certeza. Sento na minha poltrona. Reclino o encosto. Mais uma tragada.
Acabou o Fantástico. Céus, amanha é segunda . E eu estou acordado.

Estamos acordados. Eu. O Porteiro. A Viuva do 208. Aquele pequeno meliante no aguardo do próximo transeunte. A mulher da janela do prédio da frente.
A música acabou. Só escuto o chiado da vitrola. Vou virar o LP. Ou devo trocar? Vou trocar. Billie Holiday comeca a tocar.

Todos devem ouvir ao menos uma vez essa mulher cantando. Vou pegar outro maço de cigarros. Não! Charuto é melhor, combina mais com Billie Holiday.
Ah! Charutos sao como vinhos. Sao feitos para serem apreciados. E tudo que é apreciado não deve ser usado até o final. Deixarei a bituca pro Santo . Ou pras formigas e baratas . Nunca vi formiga indo atras de Charutos. As de Cuba devem ir.

Sozinhos. Estou sozinho e começa a tocar Gloomy Sunday. Comeca a me tocar. O tempo voa, ou para, não sei ao certo. Ja é de manha e acordo com gritos na sala de casa! "morreu?". "Uma fatalidade". "Deixou alguma carta?". "Não". "A vitrola tava ligada, o vinho estava pela metade, o maço no chão e o charuto junto com a pistola".A viuva só lamentava. O Porteiro estava preocupado com toda aquela bagunça. A morte de um vizinho é algo trágico e satisfatório. A dor do fígado alheio é sempre agradável, convenhamos.
Impossivel encontrar nas pessoas a pureza de um bom vinho, charuto e Jazz.
Nao pense voce que pensei em família e amigos. Não é por mal. É que essa trindade é a base do meu ide. Do meu ego. Não existe ser que foi capaz de suprir o meu intimo . Somos apenas carne e osso. Não precisamos de mais carne e mais osso pra alcançar o Nirvana . Fui ter um encontro comigo mesmo.

Nao lhe desejo um bom ano
Nao lhe desejo felicidade
Muito menos saúde.
Nao sou eu quem distribuo as cartas
Nao sou eu quem as embaralho
Eu lhe desejo sorte para derrotar seu oponente.
Entre voce e sua mente, quem vence?
Acho q nesse jogo não existe um vencedor ou um perdedor.
É um jogo de cartas marcadas,
de dados viciados.
Corpos encarnados a tropecos no meio do caminho fazem logo suas apostas.
Corpos adestrados a procura de um prêmio vago em vao: Liberdade.
É algo mesmo tao ilusorio.
Mas creio que é ai que a suprema felicidade repousa:
Em um parapeito de uma janela recém amanhecida.
Mas, Cuidado, Felicidade! A queda é longa, feia e fatal.

Nao é por nada que o primeiro som da vida é o choro
e que o último seja o silencio.
Nascemos desesperados num mundo débil.
Morremos perplexos ao ratificar a imprecisao da alma.
Nascemos sós
Morremos sós

Somos apenas um par de almas a travar linhas imaginarias
Um par a descrever todos os detalhes, a resolver todas as incógnitas, a seduzir as palavras.
Somos apenas um par de lembrancas, gravadas em um pedaço de jornal, ou mesmo em memoriais recém esquecidos.
Somos apenas um par de corpos, misturados a uma multidão de transeuntes apressados pelo badalar do tic tac, envolvidos pela perpetuação, pelo desejo.
Somos apenas um par.

Eu, e minha mente.
O Par mais solitario e mais completo que ja vi.
Nascemos sós e morremos sós.
Mas como o fizemos de forma tao fiel!