Coleção pessoal de peabiruta

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Chorei teu gelo sem derretê-lo. É tempo de soluçar geadas...

O medo da luz condensa, reduz homens em pedras.

O receio do novo distancia estrelas, impede-nos vê-las.

Papel de parede

Saudade feroz
de quando as paredes ouviam,
condenavam, proibiam
a nossa voz

Errávamos menos
quando as paredes tinham ouvidos.
Pois precavidos,
éramos plenos.

Hoje os ouvidos têm paredes.
Não é esquisito?
Pois nem meu grito
tu já não sentes.

Reclamo em vão...
Mas se há paredes
Pintemo-las verdes
pra ocultar solidão

Algea, eleison!

Que é a dor,
senão fria corrente
que une os mortais?

Que é o amor,
senão medo pungente
de murmurar ais?

É a dor quem desenha
os santos e os pecadores.
É ela a mesma senha
nas prisões e nos andores.

Pois santidade e imperfeição
têm nas veias mesmo sangue:
São filhas da aflição,
paridas num mesmo tanque
cujo nome é coração.

Tributo aos amigos

Meu coraçao peabiruta
Gratidão fertiliza
E obrigado tributa

Aos meus caros amigos
Que de forma precisa
Me abrandam perigos

E dividem comigo:
Piadas
Brinquedos
Problemas
Torpedos
Cachaça
Segredos
Suas preces
Seus medos

Aos amigos de berço
Aos amigos de acaso
Aos amigos de terço
Aos amigos de passo

Aos amigos à vista
Aos amigos a prazo
Aos amigos de trampo
Aos amigos de aço

Aos amigos grandes
Aos amigos pequenos
Aos amigos sinceros
E aos mais ou menos

E a quem do meu lado
Peregrina essa estrada
Um abraço apertado!
Uma Skol bem gelada!

Quero menos cruzes e mais Cirineus.

Plaquinhas de bronze? Estátuas? Nomes de avenida? Tudo isso vale muito pouco.

Não basta beatificar um mártir. É muito pouco. É preciso imitar-lhe a coragem, a perseverança e ajudar outros corajosos e perseverantes em suas lutas, para que não precisem conhecer o batismo de sangue.

Não basta pregar uma placa para um militante idealista numa salinha. Isso é nada! Importa tirar do túmulo seus ideais, levar suas idéias adiante.

Construir um belo obelisco a pacifistas regionais não basta. É mísero! Insensatez! Para homenageá-los, seria preciso construir a paz e a justiça pela qual lutaram, e não monumentos apenas.

Rituais e homenagens póstumas não apagam traições. Estátuas não compensam torturas. Letreiros luminosos em prédios edificados com grana pública não ofuscam isolamentos cruéis. Jardins no centro não limpam cusparadas. Isso não basta.

Tempestade gaúcha

Gotas errantes
imitam vanera
Caem dançantes
sem eira nem beira

Um vento criança
recorda sanfona
Fissura de dança
me vem logo à tona

Chuva

Nuvem densa no céu
A água que invade
são gotas de saudade

Estiagem

O sol volta radiante
Leva a chuva lacrimosa
Deixa tudo como antes

Peabiruta

Eu peregrino
dia por dia,
longa romaria

Eu peregrino
no pó, no espinho
durante o caminho

Eu peregrino
aspirando outros ares
da terra-sem-males

Eu peregrino
piso a terra laranja
que meu pé desarranja

Eu peregrino
e se às vezes me exalto
não prefiro o asfalto

Eu peregrino
em rastros inteiros
de outros romeiros

Eu peregrino
Faço irmão o destino
e irmãs as estrelas
e mesmo sem vê-las
Peregrino

Quem vai a Roma não vaia Roma.

Cerejas enchem os olhos, não a barriga.

Miopia



Serão dez ou serão onze
os seus óculos de bronze?
Por favor ou por astúcia,
não reponham tal minúcia
na estátua que verseja.
Não permitam que ela veja
que a maldade que profana
ultrapassou Copacabana.

Visitantes recentes

O que querem insistentes
e que buscam [me perscrute]
os "visitantes recentes"
que vasculham meu Orkut?

E por que tal descaso
em me deixar só pegadas?
Se me visitam por nada,
o fazem só por acaso?

Quem serão esses vultos
que me deixam inquieto?
Serão amigos secretos
ou inimigos ocultos?